'Entristece-me ver a brutalidade', diz jovem que faz intercâmbio em Israel
Morando desde fevereiro deste ano em Israel, o universitário de Curitiba Leon Zugman, de 19 anos, diz estar abalado com os acontecimentos na Faixa de Gaza. Intercambista, ele precisou mudar da cidade onde vivia, Beer Sheva – a cerca de 40 quilômetros da Faixa de Gaza – por causa do conflito. “Entristece-me ver a brutalidade que os humanos criam um contra o outro. Infelizmente, diferenças étnicas ou religiosas podem causar motivos de guerra. O número de mortes é cada vez maior. Pensar que eu estava em risco há alguns dias é uma sensação muito estranha”, afirmou o jovem ao G1.
Estudante do curso de administração da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Zugman foi a Israel para viver durante um ano. Ele faz parte de um grupo sionista, movimento que impulsionou a criação do Estado de Israel, em 1948. O intercâmbio faz parte das atividades do grupo de que ele participa. “O ano de preparação, Shnat Hachshará, é o momento em que o membro vai passar um ano em Israel”, explica. Segundo Zugman, o objetivo do programa é contribuir com o desenvolvimento pessoal dos participantes, “com uma formação aberta, reflexiva e aprofundada sobre diversas questões sociais, inclusive o conflito atual”.
Até a intensificação do conflito, o jovem compara a vida em Beer Sheva com Curitiba. “Era completamente normal, igual a minha cidade natal. Comércio e sistemas de transporte funcionando normalmente. Beer Sheva é a maior cidade do sul do país, com cerca de 150 mil habitantes”, conta. Com a intensificação, ele diz que o comércio parou de funcionar regularmente e que a recomendação à população era não andar de ônibus.
“O Primeiro Ministro de Israel mandou um notificado a todas as cidades a 40 km de Gaza, isso inclui Beer Sheva, que era importante estar sempre a 40 segundos de um lugar protegido. Para isso dar certo, a pessoa praticamente não pode sair de casa. Os prédios das cidades deixam as portas abertas para que pessoas nas ruas possam se refugiar embaixo de escadas. A situação ficou completamente diferente”, relembra.
O grupo do curitibano se mudou dois dias depois que os mísseis começaram a atingir a cidade. Ele conta que a decisão foi tomada pelos responsáveis do programa por questões de segurança. “A princípio, passaríamos no máximo uma noite num kibutz [comunidade baseada nos princípios do socialismo] no norte com a expectativa que tudo já acabasse. O problema é que, ao invés de acalmar, o conflito só se intensificou, nos forçando a morar até hoje (três semanas) no norte. Agora estamos no terceiro kibutz, que nos cede lugar para dormir e comida”, relata.
Sirene de alerta
Zugman diz que, em especial, duas situações em Beer Sheva o marcaram. Uma delas foi durante o jogo entre Argentina e Holanda, pela Copa do Mundo, que ele assistia em um bar. Foi quando tocou uma sirene de alerta. “Estávamos eu e dois amigos, um grupo de quatro argentinas e outro grupo de três israelenses. As argentinas entraram num desespero gigante, estavam completamente perdidas. Os israelenses calmamente pegaram suas cervejas e se direcionaram para debaixo de um prédio. E nós? Com medo, porém tranquilos, seguimos os israelenses. Dentro desse prédio, havia pelo menos 15 pessoas se escondendo nas escadas. De repente, um barulho de míssil se aproximando. Logo em seguida o som de duas explosões super altas. Cinco minutos depois de ficar ali esperando, saio na rua e percebo que o sistema antimíssil israelense explodiu o foguete no céu logo acima de mim. Nunca imaginei nada como aquilo. São extremamente assustadores os sons e barulhos. Depois de tudo isso, as pessoas se viraram de costas e seguiram normalmente suas vidas, estão mais acostumadas”, narra o estudante.
Já a segunda situação marcante para o jovem aconteceu enquanto ele trabalhava em uma casa, onde estavam algumas mulheres com os filhos. Ele conta que a sirene tocou quando estava brincando com três crianças no pátio. “Nesse momento, tive que tentar pegar as três no colo, levar para o bunker [esconderijo subterrâneo] e tentar ajudar outras pessoas. Dentro do bunker, algumas mães choravam de medo, e eu e meus colegas ficamos distraindo as crianças”, diz Zugman.
Apesar dos acontecimentos, o jovem não pensou em retornar ao Brasil antes do fim do intercâmbio. Como agora ele está no norte do país, o estudante diz estar mais tranquilo, já que ali o risco de foguetes é menor. “Se, por um lado, parte do meu programa foi interrompida – ao contrário da vida dos israelenses comuns, que deve continuar – e ser uma situação muito desagradável e assustadora, a experiência de sentir na pele o que um israelense sofre já há muito tempo, os lançamentos sempre ocorrem nas cidades do sul já há alguns anos, terá sempre muito peso em como vejo as coisas”, pondera.
O curitibano instalou um aplicativo chamado “Red Alert” no celular. O aplicativo toca quando uma sirene soa em alguma cidade israelense. Ele contabiliza que, em três semanas, com cerca de cem foguetes por dia, mais de 2.100 vezes, milhares de pessoas tiveram que correr para lugares considerados seguros. O jovem ainda ressalta que, além do risco de morte, há o “terror psicológico” que todos ali passam.
Zugman defende a existência de dois Estados: um judeu e um palestino. “Acredito na futura boa convivência desses dois Estados”, afirma. Para o universitário, viver no conflito permite ele constatar os fatos sob sua própria perspectiva. “Acho que a principal diferença de estar presente na guerra é poder ver a verdade como ela realmente é”, diz.
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