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Terça - 09 de Setembro de 2014 às 21:14

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Divulgação/Luiz Carlos Barreto
Uma das imagens exibidas em ‘Como era gostoso o nosso futebol’: a emoção logo após gol de Pelé, no jogo Brasil x País de Gales, em 1958, na Suécia
Uma das imagens exibidas em ‘Como era gostoso o nosso futebol’: a emoção logo após gol de Pelé, no jogo Brasil x País de Gales, em 1958, na Suécia

O diretor mineiro Marcelo Santiago e a equipe da produtora LC Barreto registravam o calor das torcidas durante a Copa do Mundo no Brasil para um documentário sobre a história da seleção brasileira, quando veio a trágica derrota de 7 a 1 para a Alemanha, no Mineirão. Ainda sob o impacto do vexame, os produtores chegaram a pensar em suspender o projeto, mas imediatamente resolveram virar o jogo e transformá-lo em um filme que refletisse sobre o papel do escrete canarinho no imaginário brasileiro.

Nascia assim, de virada, aos 40 minutos do segundo tempo, a ideia de “Como era gostoso o nosso futebol”, filme que pretende investigar as origens do chamado futebol-arte no Brasil. Além de aproveitar parte do que foi registrado durante o Mundial no país, realizado entre junho e julho, o filme vai buscar nos arquivos da LC e de seu proprietário, o também fotógrafo Luiz Carlos Barreto, que já cobriu muitos jogos com craques como Pelé e Garrincha, imagens e testemunhos que ajudem a ilustrar a reflexão.

— Nossa ideia é descobrir onde o futebol-arte se perdeu e o que devemos fazer para resgatá-lo — conta Santiago, que estreou no longa-metragem com o drama “Sonhos e desejos” (2006) e espera lançar o novo filme no primeiro semestre de 2015. — Vamos começar as entrevistas com as grandes feras do nosso futebol-arte em setembro.

Abaixo, os principais trechos da entrevista com o diretor de 53 anos.

O que era o projeto, originalmente, antes da derrota do Brasil para a Alemanha, nas semifinais da Copa

O documentário seria sobre a história da seleção ao longo de seus 100 anos. Nossa esperança era que o centenário fosse coroado pelo hexa ou, pelo menos, por uma bela participação numa final. Teríamos aí uma reedição do Maracanazo, mas faria pelo menos sentido dramático no documentário. Mas o acachapante “Mineirazo” quebrou essa estrutura. Quebrou ainda mais: o entusiasmo da torcida. Quem vai querer saber a história de uma seleção que acabou de perder de 7 a 1? No entanto, achamos que a torcida pode voltar a se entusiasmar se fizermos uma investigação sobre o nascimento do futebol-arte brasileiro, onde ele se perdeu e o que fazer para resgatá-lo. É o que propomos com a nova ideia para o documentário. Além disso, queremos refrescar a memória dos que viram nosso futebol-arte e mostrá-lo aos que não o viram — todos, atualmente, descrentes da beleza possível de nosso futebol.

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Como pode ser medido o impacto do 7 a 1 para o futebol brasileiro, a ponto de estimular em vocês o desejo de resgatar o futebol-arte?



Nelson Rodrigues disse certa vez que toda nação tem a sua Hiroshima psíquica, e que era este o caso do Maracanazo para o Brasil. Atualizando a ideia, podemos dizer que o 7x1 é a queda de nossas Torres Gêmeas. O impacto emocional foi realmente profundo. E a impressão que ficou é que somos um time de segunda linha, medíocre e emocionalmente instável. Esse é o sentimento geral. Mas a gente se esquece que esse mesmo time fez uma exibição memorável e empolgante há um ano, na Copa das Confederações. Mesmo guardadas as devidas proporções entre as duas Copas, trata-se de um time que fez sua visita ao futebol-arte. Mas que, agora na Copa, por uma série de erros primários dentro e fora de campo, não conseguiu repetir a performance. Onde ficou guardado e esquecido o futebol-arte, estilo que marcou e consagrou o futebol brasileiro? Como os times do passado conseguiram fazer valer seu futebol-arte? Essa será a nossa investigação.

Que tipo de material vocês estavam filmando durante a Copa, antes da derrota histórica?

Estávamos registrando as manifestações espontâneas da torcida — a movimentação no Alzirão, as ruas do subúrbio carioca, fachadas de casas e ruas enfeitadas. Essas imagens possivelmente estarão no documentário.

E o que passaram a buscar depois da derrota para a Alemanha? Vocês foram atrás de depoimentos ou testemunhos de pessoas ligadas ao futebol para tentar entender o desaparecimento do futebol-arte?

Estruturamos a produção para ir atrás de depoimentos e testemunhos daqueles que exerceram ou exercem o futebol-arte. Vamos procurar desvendar seus segredos e saber deles o que fazer para novamente ver florescer o futebol de encantamento que o Brasil já experimentou. Os protagonistas do filme serão nossos grandes craques, participando através de depoimentos ou de imagens de arquivo de seus grandes momentos no futebol. Várias histórias de bastidores ou que ficaram esquecidas debaixo de certos tapetes serão também narradas por esses protagonistas.

O documentário é, de alguma forma, o derivado da série “Seleção brasileira — Paixão de um povo”, sobre os 100 anos da seleção, também produzido pela LC Barreto e exibida na HBO?


O documentário será um filme totalmente novo e original. Mas, certamente, algumas imagens da série — jogos e jogadas inesquecíveis — serão também aproveitadas aqui.

Que tipo de material de arquivo vocês estão pesquisando e quais são as fontes dessas imagens?

A LC Barreto possui um acervo próprio muito rico que será bastante utilizado. Estamos consultando outros acervos, nacionais e internacionais, que poderão contribuir com imagens do belo e gostoso futebol que já jogamos e que, sem sombra de dúvida, podemos voltar a jogar.





Fonte: Globo.com

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