Com fim das obras da Copa, Cuiabá recebe menos migrantes haitianos Redução de número de haitianos desembarcando foi de mais de 50%. Vagas de emprego não faltam, mas salários são inferiores, diz auditora do MPT.
Com a redução dos canteiros de obras planejadas para a Copa do Mundo e, consequentemente, dos empregos ofertados na construção civil, houve queda no número de haitianos que buscam em Cuiabá uma oportunidade de trabalho, no segundo semestre deste ano. A estimativa da Pastoral dos Migrantes é que a queda seja superior a 50%, se comparado com o ano passado e início deste ano, quando mais de 50 obras de infraestrutura da Copa estavam em andamento.
Vagas de emprego, no entanto, não faltam na capital mato-grossense, como afirma a auditora fiscal do trabalho, Marilete Mulinari Girardi. O problema, segundo ela, é que, acostumados a receberem salários maiores, os haitianos não querem trabalhar no setor da indústria para receber menos da metade do que ganhavam na construção civil. Mas, como não têm qualificação, não conseguem emprego com maior remuneração.
"Houve desilusão com os salários, pois vinham para cá na expectativa de ganhar bem e mandar dinheiro para a família que ficou no Haiti, mas quando chegam não conseguem arrumar empregos que pagam melhor", avaliou a auditora fiscal, que atua no balcão de emprego que funciona dentro da Pastoral dos Migrantes, na capital. O Ministério Público do Trabalho (MPT) acompanha os haitianos na busca por emprego e depois no trabalho para evitar que ocorra exploração.
Ela explicou que, na construção civil, o salário base oferecido é de R$ 880, mas que com os benefícios chega a R$ 2 mil, e na indústria não passa de R$ 1 mil para as funções que os haitianos que não possuem capacitação têm condições de desempenhar. Desse modo, a quantidade de pessoas desembarcando na capital reduziu nos útlimos meses. "Como faltava mão de obra na construção civil, muitos haitianos foram contratados pelas empresas, mesmo sem qualificação", afirmou.
Mais de 3 mil haitianos passaram pela Casa do Migrante, no Bairro Carumbé, na capital, nos últimos dois anos. Na instituição mantida pela Igreja Católica, eles permanecem até arrumar emprego e ter condições de arcar com os custos de moradia e alimentação. A maioria deles é do sexo masculino, com idades entre 25 e 40 anos. Menos de 10% são mulheres.
No ano passado, a Casa do Migrante chegou a acomodar 180 haitianos no mesmo período, conforme a coordenadora do local, Eliana Vitaliano. E, atualmente, abriga menos de 40. "Hoje chegam oito por semana, em média", disse. Ela contou que eles recebem suporte, tanto para arrumar emprego, quando na área da saúde e para fazer a documentação, como carteira de trabalho, por exemplo.
Para driblar uma das maiores barreiras enfrentadas pelos haitinos que vivem em Cuiabá, cursos gratuitos de língua portugues começaram a ser oferecidos pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Duas turmas já concluíram o curso e receberam certificado de conclusão.
Alguns deles não são alfabetizados, principalmente mulheres. Por isso, encontram dificuldades de arrumar emprego porque não conseguem se comunicar. "As mulheres que passam pela casa não são alfabetizadas e outras não têm o ensino fundamental", explicou. Porém, de acordo com Eliana, alguns estabelecimentos estão ofertando vagas para essas mulheres em funções que não requer a comunicação com os clientes, como de camareira, por exemplo.
Além da UFMT, aulas na modalidade de Ensino para Jovens e Adultos (EJA) estão sendo oferecidas na Escola Estadual Leovegildo de Melo, no Bairro CPA 3, na capital. Na unidade, 101 haitianos estão matriculados.
Uma das obras que empregou maior número de funcionários, incluindo haitianos, foi a Arena Pantanal, estádio onde foram realizados os quatro jogos da Copa, em junho deste ano. Porém, mais de 30 obras não foram concluídas a tempo do mundial. O déficit de mão de obra chegou a 2.500 operários. Só para a construção da Arena Pantanal foram empregados cerca de 1.500.
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