Advogado lamenta traições e baixo nível na disputa pela Presidência da OABMT
O advogado criminalista Eduardo Mahon criticou a atuação dos candidatos que disputam a eleição para Presidência da Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Mato Grosso (OAB-MT). Para ele o processo eleitoral classista vem sendo marcado por fofocas, traições e baixo nível.
As ponderações do advogado foram feitas em um artigo onde após lamentar a situação ele declara apoio incondicional à candidata Luciana Serafim.
“Há tantas dissensões e fofocas, tentativas de traição e traições consumadas que causa perplexidade como não há vergonha no comprometimento da imagem pessoal e profissional”, considerou Mahon.
Veja abaixo o artigo na íntegra
Fio do bigode
A campanha da Ordem dos Advogados lamentavelmente conta com um nível mais baixo do que seria esperado de profissionais que lidam com lealdade e credibilidade. Esses dois valores são centrais para a vida de um advogado e, imagina-se, que são igualmente relevantes no relacionamento entre colegas. Não é o que se vê, no entanto. Há tantas dissensões e fofocas, tentativas de traição e traições consumadas que causa perplexidade como não há vergonha no comprometimento da imagem pessoal e profissional. Fico me perguntando como é possível ter tão pouco zelo com a imagem que muda conforme as circunstâncias.
Estou com a Luciana Serafim, desde o primeiro dia e estarei até o último, o da vitória. Pela criação que tive da minha família, isso se chama coerência. É claro que as pessoas podem evoluir e alterar suas posições. Isso é do jogo democrático. Mas trair é imperdoável. Luciana foi a primeira candidata disponível à oposição e abriu diálogo de forma muito antecipada, com inúmeros segmentos da advocacia. Pode ter sido um erro estratégico, mas não deixa de ser uma qualidade a mais – a lealdade para afirmar-se candidata em meio a um jogo de empurra e indefinições. Vários advogados fizeram jogo de cena para aparecer na imprensa, flertar com grupos, ganhar espaços e, após, abortar pateticamente a própria candidatura.
Fico perplexo com a coragem dessa mulher. Coragem de peitar medalhões machistas e vencer tentativas sequenciais de torpedeamento de sua candidatura. Foram muitas as rasteiras que tentaram dar, em múltiplos e semanais sinédrios contra Luciana Serafim. Parece mesmo que temem a candidatura dela e a consolidação de um novo grupo para a nossa classe. Com o crescimento do número de advogados, daqui pra frente será absolutamente normal a formação de três, quatro, cinco chapas, no entanto. Ninguém precisa de uma visão maniqueísta – este ou aquele – nossa classe ficou tão grande e madura, que são possíveis muitas alternativas. Havendo lealdade e honestidade, não vejo qualquer problema em nenhuma candidatura que mostre a legítima pretensão de um grupo de colegas.
A oposição não tem qualquer obrigação de ganhar. Quem está sendo avaliada é a atual gestão. Todos os candidatos de oposição têm boas ideias, assim como o candidato da situação também representa a vontade de milhares de profissionais. Ninguém está sujeito a se unir a quem não tem a mesma sintonia programática, o debate é saudável e é a classe quem ganha com o choque de modelos administrativos diferentes. Propomos transparência, participação, lisura e uma renovação na já cansada e cansativa metodologia partidarizada de conduzir os destinos de uma classe. Apenas isso. Causa incômodo a crítica, eu sei. Mas só amadurecemos democraticamente com pontos de vista divergentes.
Muitas maquinações marcaram a campanha, todas querendo dissuadir Luciana Serafim de não se lançar presidente. Amigos de conveniência e aliados oportunistas. Candidatos que renunciaram, após anunciados, outros que pipocaram repentinamente, uns que aparecem e desaparecem, enfim. Críticas sobraram até para os apoiadores de Luciana Serafim, como eu. Recebi, ao longo da campanha, muitas ligações e participei de várias reuniões a perguntar insistentemente quais seriam as condições para que Luciana desistisse. É triste. Fui obrigado a repetir dezenas de vezes que estaria com ela até o final da candidatura. Poucos acreditam na palavra empenhada, a que não volta atrás. Mas para honrar o fio do bigode, é preciso agir como homem e não como moleque imberbe.
A verdadeira coragem é a coragem do sacrifício. Ganhando ou perdendo, precisamos adotar uma postura. Mudar de lado não é maturidade, é traição e a história nunca perdoou traidores. No futuro, ninguém confiará em alguém que se bandeia de lado, que vira a casaca, que apunhada o aliado. Vitória e derrota, o que importa? O que fica é o compromisso assumido. Isso se chama caráter e não política. Em meio à crise ética na vida pública brasileira e às traições que assustam a sociedade, penso que os advogados deveriam mostrar uma diferença. Dar o exemplo. Esperamos mais coragem, porque até mesmo para escrever este artigo e publicá-lo, é preciso independência. Independência que queremos para a nossa advocacia.
Eduardo Mahon é advogado.
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