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Economia
Sábado - 11 de Outubro de 2014 às 08:19

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Luiz Prado/Divulgação/BM&FBOVESPA
Nos quatro anos de administração Dilma, o que mais irritou o mercado financeiro foi a perda de controle da política monetária e fiscal
Nos quatro anos de administração Dilma, o que mais irritou o mercado financeiro foi a perda de controle da política monetária e fiscal

O sobe e desce da Bolsa de Valores durante as eleições já mostrou que a preferência do mercado financeiro é pela derrota da presidente Dilma Rousseff (PT) nas eleições de 26 de outubro. Segundo agentes financeiros entrevistados pelo R7, o mercado se comporta dessa maneira porque prefere um Estado mínimo, ou seja: menor intervenção do governo na economia e maior liberdade aos mercados.

Existe um consenso entre investidores nacionais e internacionais de que a política econômica de um governo de oposição ao PT garantiria a estabilidade da inflação e da moeda e, consequentemente, atrairia mais investimentos. É o que chamam da criação de um “ambiente macroeconômico mais saudável”.

Nos quatro anos de administração Dilma, o que mais irritou o mercado financeiro foi a perda de controle da política monetária e fiscal, traduzido em: excesso de intervencionismo no mercado de câmbio e na definição dos juros; um Estado que não para de crescer e, por isso, gasta cada vez mais; a tolerância com a inflação no teto da meta.

Uma das decisões do governo Dilma mais apontadas como exemplo de seu intervencionismo foi a redução da taxa básica de juros (a Selic) de 12,5%, em julho de 2011, para 7,25%, em outubro de 2012 — e que se estendeu até abril de 2013.

A avaliação é de que não havia condições para tal redução naquele momento (quando a inflação rondava 7%), mas que isso só aconteceu por pressão do Planalto, pois a diminuição dos juros era uma promessa de Dilma da campanha de 2010.

Como os juros caíram e a inflação não cedeu, a Selic teve que subir novamente, atingiu o atual patamar de 11%. O resultado desse movimento foi a quebra da confiança de investidores e empresários, acentuada pelos resultados pífios de crescimento econômico, cada vez mais próximo de zero.

Segundo o economista para América Latina do Standard Chartered Bank, Italo Lombardi, há sim fatores externos afetando o crescimento, como defende o governo, mas há influência também desses fatores domésticos.

— Esse nível de confiança já vinha caindo muito porque havia esse sentimento de perda de credibilidade do governo, de retrocesso no conjunto das políticas macroeconômicas.

Lombardi explica que os agentes financeiros voltaram a se preocupar com “inflação, mercado de câmbio, nível de reservas, se o País vai perder o grau de investimento, se vai crescer”, o que não vinha ocorrendo nos últimos anos.

Nesse cenário, o mercado avalia que o tripé econômico — superávit primário (Estado não gastador), metas de inflação definidas e câmbio flutuante — seria cumprido de forma mais rápida e efetiva com um governo menos intervencionista.

Por outro lado, como existe essa avaliação de que a mão do governo é muito atuante no mercado financeiro — por meio do Banco Central e dos bancos públicos — os investidores colocariam em dúvida a real independência de um novo ministro da Fazenda de Dilma, ainda que ele seja mais próximo do mercado, como quer o atual governo.

O que o mercado quer é bom para todos?

Segundo Lombardi, o controle macroeconômico do País não serve apenas para defender os interesses de empresários e investidores. “Emprego e a renda da população depende muito da percepção da economia”, diz.

— A performance da economia depende muito do investimento, e o investimento depende muito de confiança. [...] Nesse ambiente de diversas incertezas, o apetite para investir é muito menor. [...] O mercado não está desconexo da população. No fim, o emprego depende da performance desses investimentos.

Já para Pedro Silveira, economista-chefe da TOV Corretora, o que o mercado defende é “um superávit primário muito elevado, uma política monetária bem definida, sem qualquer concessão, e câmbio flutuante com o mínimo de intervenção”.

Silveira critica ainda que o “mercado tem uma visão absolutamente privada da economia”.

— Ele acha que cabe ao mercado de capitais realizar as tarefas econômicas e prefere o Estado mínimo. Então prefere um Estado que seja mais privatista nesse sentido, que dispense a intervenção do governo na economia, que privilegie alguma privatização. Tudo focado no sentido de que o mercado é que tem que resolver os grandes problemas da economia.

O economista-chefe da TOV Corretora pondera também que “nem sempre o que o mercado deseja é o melhor para a economia”.

— Não há evidência empírica de que as coisas que o mercado solicita [os reajustes fiscal e monetário] sejam as melhores coisas possíveis. O mercado solicitou, solicitou do governo, e o governo Clinton entregou, e isso serviu para o mercado entregar as maiores bolhas que eu já vi: a bolha da internet e a bolha do setor imobiliário, que levou a essa grande recessão que estamos vivendo.

Futuro

O governo brasileiro está se esforçando pouco atualmente para trazer a inflação para baixo, na avaliação do professor Ramon Fernandez, coordenador de economia da UFABC.

— Objetivamente o governo não está muito preocupado em levar a inflação para 4,5%, porque há um custo para derrubar a inflação. [...] No fundo é ir empurrando com a barriga e ter esse 6% e 6,5% até aquecer a economia.

Para os economistas, esse reajuste precisará ser feito, independentemente de quem ganhe a eleição. Mas deve levar ainda todo o ano de 2015 até que os indicadores macroeconômicos melhorem e os investidores voltem a se animar.

Para Lombardi, do Standard Chartered Bank, “será de qualquer forma um ajuste drástico”.

— Sabemos que tem um custo, independente de quem for assumir. O custo me parece muito maior se a gente continuar num ambiente que não tem credibilidade.





Fonte: Do R7

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