Brinquedos que permitem 'selfie' para bebês criam dilema moral na Holanda
Projeto de Laura Cornet, feito para criticar exposição infantil em mídias sociais, tem móbile com câmera e chupeta com GPS
Laura Cornet está na chamada "sinuca de bico", com diz a gíria brasileira.
Como trabalho de conclusão de seus estudos em desenho industrial, a designer holandesa, de 25 anos, preparou uma linha de brinquedos interativos com o objetivo de criticar a exposição de crianças em ferramentas de mídia social.
Um deles é um móbile cuja câmera de vídeo envia automaticamente imagens do berço para o Facebook.
Cornet, porém, foi pega de surpresa pelo fato de que sua tese acabou despertando interesse comercial depois de seu trabalho ter sido exposto na Semana de Desenho Industrial de Eindhoven, na Holanda, um dos principais eventos de design do calendário Europeu.
"É um dilema moral. Minha intenção inicial foi justamente expressar uma crítica a pais que postam fotos de seus filhos nas mídias sociais sem refletir sobre a privacidade das crianças. Por outro lado, há o sucesso potencial de um produto criado por mim e que pode impulsionar minha carreira como designer. O consolo é que não preciso adotar nenhuma atitude extrema", admite Cornet, em entrevista à BBC Brasil.
Debate moral
A designer pensa estar justamente fazendo isso no novo protótipo do móbile, que elimina a postagem automática, enviando as fotos para os telefones ou tablets dos pais.
"Não tenho a pretensão de querer aconselhar alguém sobre como lidar com filhos e mídias sociais, mas ao menos posso sugerir o debate", completa Cornet, que ainda não tem filhos.
Além do móbile, a holandesa criou um painel de berço que tira uma 'selfie' todas as vezes em que o bebê gira uma espécie de bola acoplada, um sapato que registra o número de chutes e movimentos de pernas - fazendo upload dos dados - e uma chupeta com localizador por satélite (GPS).
Cornet conta que a ideia do projeto surgiu de meras observações de sua conta no Facebook.
"Comecei a ver mais e mais fotos de bebê. Aquilo me fez pensar se não era estranho estar mexendo com a privacidade de alguém que não está a par de como eu e quem mais tivesses acesso às fotos estava simplesmente vendo tudo sobre a vida dele ou dela. E como os bebês não tinham uma chance de decidir."
O trabalho da designer também foi recebido com críticas.
"Houve gente me mandando emails irritados e me acusando de estar fornecendo mais um veículo de invasão de privacidade. Fui chamada de pervertida e tudo", explica Cornet.
"Mas a reação que mais me surpreendeu foi mesmo a de pais que imediatamente quiseram saber quando os brinquedos estariam à venda."
Cornet, no entanto, acredita que os brinquedos pode ser ajustados para utilidades bem mais práticas.
"O móbile, por exemplo, pode servir como uma babá eletrônica. O importante aqui é sabermos que nosso controle sobre como alguém vai usar uma tecnologia é muito menor do que pensamos", acredita a holandesa, que espera ter uma versão comercial pronta nos próximos meses.
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