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Economia
Terça - 30 de Dezembro de 2014 às 01:27

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"No governo Sarney, a inflação chegou a 85% ao mês, quando entrei [na Fazenda] estava a quase 55% ao mês. Se tivéssemos perdido o controle aquilo teria destruído o governo e criaria problemas graves na sociedade", lembra ex-ministro

O plano Real, criado há 20 anos, era a pré-condição para a realização de um "projeto de país", diz o ministro da Fazenda à época do lançamento, Rubens Ricupero.

Após duas décadas, ele afirma que o Real teve um propósito básico: evitar que o País caísse na hiperinflação. “O plano não era o crescimento econômico, a distribuição da renda, a competitividade, a modernização. Ele era a pré-condição”.

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O também embaixador que durante o período assumiu a Fazenda para que Fernando Henrique Cardoso preparasse sua candidatura à Presidência da República, hoje coordena o curso de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) em São Paulo, credita o mérito principal e histórico do Real ao então presidente Itamar Franco, que de acordo com ele, teve a intuição de que ainda seria possível um plano para acabar com a inflação. “O Itamar viabilizou a ideia. Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi o quarto ministro da Fazenda dele. A primeira pessoa que ele convidou para o cargo fui eu, que à época era embaixador em Washington [Estados Unidos] e não aceitei a função. Sem ele, o FHC não teria existido”, conta.

Em segundo lugar, o ex-ministro cita FHC como um dos responsáveis pelo sucesso do Real, que aceitou um desafio enorme após os fracassos das moedas anteriores. “Naquele momento, ele era talvez a única pessoa capaz de atrair a equipe de grande nível que criou o plano Real”, composta por nomes como Gustavo Franco, Edmar Bacha, Pérsio Árida, André Lara Resende, Winston Fritsch e Pedro Malan.

Devido a rumores de que o Itamar havia afastado vários ministros por escândalos, as pessoas da vida acadêmica e do mercado que tinham prestígio não queriam atuar no governo, lembra Ricupero. “Só FHC conseguiu isso, só ele tinha aquele charme e o respeito do grande acadêmico”. Ricupero arrisca que tenha sido escolhido por Itamar para gerir a Fazenda por não pertencer a nenhum grupo político, por ser apenas um diplomata, um funcionário público. A partir disso teria tudo para se tornar um bom intermediário entre equipe de FHC e a Presidência, afirma.

Cercado por um grupo de esquerdistas de Juiz de Fora, que classificava a equipe econômica como pró-banqueira, Itamar tinha "fortes instintos nacionalistas", o que levava a problemas sérios com a equipe do Real. “Como a ideia de tabelar os juros a 12% ao ano, o que é uma loucura para qualquer economista que conhece as forças do mercado”, diz. “Toda vez que saia uma notícia do Itamar na imprensa nesse sentido, algum dos economistas ameaçavam deixar o projeto e eu tinha que garantir que isso não acontecesse.”

Outro detalhe histórico curioso sobre o Plano Real, segundo o ex-ministro, é que não havia uma data certa para o lançamento oficial da moeda, quando a URV, que antecedeu o real, iria parar de valer no País. “Em abril, Itamar e eu optamos pelo dia 1º de julho, pois se demorasse mais, como alguns sugeriam na época, a moeda seria lançada pelo Lula”, afirma em tom de brincadeira.

Sobre a questão da aprovação da medida provisória da URV lançada em fevereiro, Ricupero diz que questionou Fernando Henrique a respeito da estratégia que seria utilizada. À época, o temor da equipe era que o Congresso desvirtuasse os objetivos, inserindo no documento temas como previdência e salário mínimo. FHC optou então por renovar mensalmente a MP, mas foi o economista Edmar Bacha que negociou um item na medida para garantir que a moeda valesse automaticamente a partir de 1º de julho daquele ano.

Para Ricupero, embora o plano Real tenha se esgotado, ele gerou avanços essenciais para o Brasil, como a estabilidade econômica e a lei de responsabilidade fiscal, que determina que governos não devem se endividar além de certo nível que comprometa a gestão do País e mandatos posteriores. “Hoje ninguém sabe direito qual o tamanho da conta que deve ser paga pelo governo. A conquista que custou muito para o povo está se perdendo”, avalia





Fonte: Do R7

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