Famílias de detentos que cumprem pena nas unidades prisionais de Mato Grosso são obrigadas a pagar uma espécie de taxa aos parentes de líderes de uma facção criminosa, que também estão presos, a cada dia de visita. De acordo com o promotor Célio Wilson Oliveira, titular da Promotoria de Justiça Criminal, a extorsão foi comprovada durante uma investigação que vinha sendo feita pelo Ministério Público Estadual (MPE) referente a outro caso. A facção atua em vários estados.
"Os detentos cobram os valores para sustentar as famílias que estão do lado de fora e, quando a pessoa não tem condições de pagar pela visita, paga de outra forma, inclusive, lavando roupas", disse o promotor ao G1. Segundo ele, já há provas concretas de que o crime ocorre, mas que o processo de investigação ainda está em andamento. "Isso acontece em praticamente todas as unidades, principalmente nas maiores", ressaltou.
Segundo ele, as famílias pagam porque querem ter tranquilidade e garantir que o familiar preso não será penalizado. "Se tem uma visita por semana, a contribuição é de uma vez por semana", pontuou Célio Wilson. Ele explica que os valores podem variar e vão de acordo com as necessidades dos criminosos que participam da facção. "Eles cobram de R$ 5 a R$ 10 por visita", frisou.
O dinheiro é pago de duas formas, de acordo com o promotor. O familiar pode entregar ao detento no momento da visita e ele repassa ao líder da facção, ou ainda por meio de transferências e depósitos bancários direto nas contas dos familiares beneficiados. "Desde 2006, recebemos denúncias acerca desse tipo de cobrança, mas eram casos pontuais, mas identificamos que a proporção é muito maior".
Para o promotor, essa situação é reflexo da falta de controle do governo sobre o sistema prisional. "Hoje, da grade para dentro não se controla mais nada, o que facilitou a presença desse tipo de grupo. Antes, a prisão existia para combater o crime e isso já não existe mais. Essas organizações criminosas fazem dos presídios um grande negócio", disse, ao avaliar que atualmente os traficantes lucram mais com a venda de droga no interior das unidades prisionais do que fora.
A Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) informou, por meio de assessoria, que apoia e considera positivo todo o trabalho do MPE voltado para a humanização e transparência do sistema prisional.
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