Mau hálito: “Evitar pessoas se tornou um hobby” O apelido de Boca de Lixo logo no primeiro emprego fez André Pimentel perder oportunidades profissionais e se fechar para relacionamentos afetivos
“Evitar as pessoas se tornou um hobby para mim”, foi com essa declaração que André Pimentel, 42 anos, começou seu depoimento sobre problemas com o mau hálito. O analista pleno de uma multinacional chegou a evitar reuniões de trabalho e boicotar relacionamentos por achar que a halitose não tinha cura.
O drama de André começou ainda na adolescência, assim que ele conseguiu seu primeiro emprego, aos 16 anos. “Demorei muito para entender porque algumas pessoas me evitavam ou me tratavam com certa rispidez. Na verdade, só fui entender tempos depois, quando saí da empresa por causa de problemas de relacionamento. Logo eu que sempre fui um cara bastante querido e comunicativo. Achei que tinha dado azar com aquela equipe de trabalho”, conta.
Mas, ao reencontrar um antigo colega de trabalho, André teve a revelação. “Encontrei o cara em um bar, ele estava meio bêbado e me revelou que meu apelido entre os colegas da empresa era Boca de Lixo. Quando o cara me contou isso, meu mundo desabou”, diz André.
Mau hálito no trabalho é muito complicado, pois pode comprometer o futuro profissional de quem tem o problema. “Já dei palestras sobre halitose em meios coorporativos onde descobri que muitos gestores erraram na forma de conduzir a questão. Colaboradores foram dispensados por ter halitose e por não haver habilidade para solucionar o problema”, diz Ana Cristina Zanchet Gomes, periodontista e especialista no diagnóstico e tratamento de halitose.
A especialista explicou, ainda, que André certamente nunca percebeu que sofria com esse problema, pois tinha a chamada fadiga olfativa que é quando o nariz se acostuma com o cheiro da boca e não mais o alerta sobre o mau cheiro, fazendo com que a halitose passe despercebida pelo portador.
Tratamento desconhecido
Há quase trinta anos, o tratamento da halitose era um assunto pouco conhecido. Por isso, sem saber ao certo como cuidar do problema, André viu o isolamento como única opção. “Para mim, mau hálito era sinônimo de falta de escovação dental e, por isso, reforcei minha higiene bucal. Mas, segundo minha mãe, o problema continuava, então achei que, no meu caso, não tinha cura. E para evitar mais constrangimentos, passei a evitar as pessoas. Socialmente foi mais fácil, difícil foi nas questões profissionais, porque sempre fui um cara muito ambicioso”, diz o analista.
André conta que, por medo de ficar conhecido, mais uma vez, por algum apelido desagradável, deixou de expor suas ideias diversas vezes. Fugia de reuniões e até de festas de confraternização. “Tenho certeza absoluta que estaria em outra posição profissional se tivesse tratado o problema antes. Infelizmente descobri que a halitose tinha cura depois de deixar passar muitas oportunidades”, lamenta André.
A cura
Quanto aos relacionamentos afetivos, André só foi ter um de verdade quando tratou o problema, aos 32 anos. “Antes eu nem perdia meu tempo tentando conquistar alguma mulher. Insistir nisso seria desagradável para os dois lados, o dela e o meu, então me privei disso”, diz. Quem “salvou” André foi uma amiga da mãe dele que disse que em Curitiba existia uma clínica especializada no tratamento da halitose. “Na primeira oportunidade marquei uma consulta e voei para lá”, diz André.
Depois de responder um questionário e fazer alguns exames, André viu que era preciso mudar seus hábitos. “São pequenas coisas erradas que fazemos no nosso dia-a-dia que acabam causando o problema. Desde que comecei a trabalhar, e sempre fui muito focado nisso, mudei meus hábitos e prejudiquei meu hálito. Descobri que até estresse causa mau hálito. Eu nunca ia imaginar isso”.
Alênio Calil Mathias, vice-presidente da SOBREHALI (Sociedade Brasileira de Estudos da Halitose) explica que isso acontece porque o estresse causa uma redução da produção de saliva, pois a atividade das glândulas salivares depende, entre outros fatores, do equilíbrio do Sistema Nervoso Central. “A salivação baixa aumenta a formação da saburra lingual que é uma placa branco-amarelada na língua que acumula bactérias e células mortas, o que contribui para a produção de gazes que provocam o mau hálito”.
Hoje, André diz ser outra pessoa. Mudou seus hábitos alimentares, cuida melhor da saúde geral e bucal, faz exercícios para controlar o estresse, foi promovido na empresa e está noivo. “A satisfação pessoal e profissional que eu recuperei já eliminou boa parte do meu estresse e do meu mau hálito”, brinca.
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