Café: FED surpreende e impulsiona ativos de risco, por Rodrigo Costa
O FOMC (equivalente ao COPOM brasileiro) retirou a palavra “paciência” de seu comunicado sobre a mudança da política monetária ao fim da reunião do comitê na quarta-feira, mas ao mesmo indicou que o incremento dos juros, quando acontecer, será pequeno e a taxa do FED Funds ficará baixa por um tempo maior do que o mercado esperava.
A reação imediata foi uma desvalorização do dólar americano em 3% contra o Euro, 1.5% contra o Real e o índice dólar (uma cesta de moedas) escorregando 1.5% nas horas finais do pregão do dia. As bolsas de valores responderam com valorizações fortes levando alguns indicadores Europeus a novas altas históricas e as bolsas americanas recuperaram as perdas recentes.
Os principais índices de commodities também saíram das mínimas em uma clara reversão de posição dos fundos de algoritmo, que vendem matérias-primas quando o dólar firma, e compram quando o inverso acontece. O café em Nova Iorque liderou os ganhos entre os componentes do CRB, subindo 10.44% em cinco dias, ou US$ 13.55 centavos por libra, seguido pela prata, trigo e algodão. Níquel, suíno, petróleo e cacau foram os únicos que caíram, entre 1% e 2.58%. O robusta em Londres também teve uma performance sólida, de menor magnitude, como de costume, mas ainda assim ganhando US$ 112 por tonelada.
O movimento inicial foi provocado pela parada momentânea das vendas dos fundos, desencadeando na sequência recompras de posição dos “algos” e de alguns operadores que usam os gráficos como instrumento de trading. O fechamento anima para uma continuação de uma alta, muito embora na sexta-feira, quando o Real brasileiro saiu de 3.3148 para 3.2020, era de se esperar uma reação positiva do café.
A sustentabilidade da alta vai depender do dólar, já que os fundos não estão tão vendidos quanto poderiam e os comerciais têm um recorde de posição comprada. Entretanto há entre US$ 10 ou US$ 20 centavos de espaço para subir no curto-prazo, sabendo-se que a participação das origens deve aumentar ajudada por novas quedas de moedas de países produtores como o Brasil e Colômbia.
A movimentação do físico destravou no mercado interno brasileiro permitindo um leve alargamento da reposição. Entre os suaves a atividade deve diminuir de agora em diante, exceção aos colombianos que tem a safrinha para negociar. Do lado do robusta paira uma grande preocupação, pois os fundos naquele mercado ainda estão comprados, o Vietnã tem segurado suas vendas ou pior, nas atuais condições, rolando suas fixações, e há a perda de market-share vietnamita na América do Norte que só deve ser amenizada se de fato a safra do conilon diminuir. A arbitragem, portanto deve ter visto seu ponto mais estreito.
Algumas “trading-houses” divulgaram suas estimativas para a oferta e demanda mundial, umas apontando para um déficit corrente de quase 7 milhões de sacas e provavelmente um maior em 15/16, e outras citando um déficit atual de 2 ou 3 milhões e uma situação equilibrada no próximo ciclo. As diferenças de opiniões são significativas para o prognóstico futuro dos preços.
Cooperativas brasileiras também têm visões distintas. Uma delas menciona uma safra 15/16 similar com a 14/15, mas a maioria ainda vê a próxima safra sendo menor em função da seca.
Os estoques americanos em fevereiro caíram 156,448 sacas, diferente da média histórica que no período tem um incremento dos inventários. Um dos motivos por trás foi a greve na costa oeste dos Estados Unidos.
Vamos ficar de olho no nível de US$ 142.20 para o contrato de maio da ICE, suporte que se rompido faz do atual comportamento do mercado uma mera correção técnica. A resistência que queremos ver o “C” ultrapassando está em 155.00 centavos, patamar que muitos vêem como objetivo para entrar mais agressivo no lado vendido.
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