Estreia: Hilary Swank vive mulher com esclerose amiotrófica em filme Atriz retrata bem pequenos detalhes da luta da personagem. 'Um momento pode mudar tudo' manipula público para chorar.
De um ano para cá, a discussão sobre a esclerose lateral amiotrófica (ELA) teve grande destaque na mídia, para alegria dos portadores da doença e familiares que lutam pela pesquisa de novos tratamentos.
Primeiro, foi o incrível – e polêmico – fenômeno do meme do “Ice Bucket Challenge” em meados de 2014, quando se multiplicaram os vídeos de celebridades que tinham um balde de gelo jogado sobre a cabeça e desafiavam outras três pessoas a fazerem o mesmo ou doarem 100 dólares para uma ONG que luta pela conscientização sobre a ELA. Geralmente, eles faziam as duas coisas, seja por verdadeira comoção ou por sua imagem pública.
O assunto voltou à tona com o lançamento da cinebiografia sobre o físico e cosmólogo Stephen Hawkings, portador da doença há mais de 50 anos, contrariando a baixa expectativa de vida dada pelos médicos.
Ainda mais porque, na pele do cientista britânico em “A Teoria de Tudo” (2014), Eddie Redmayneganhou o Oscar de melhor ator. Nesta mesma edição, Julianne Moore finalmente recebeu a sua estatueta por sua protagonista diagnosticada com o mal de Alzheimer em “Para Sempre Alice” (2014), filme dirigido por Richard Glatzer, junto com seu parceiro Wash Westmoreland – este, falecido no último dia 10 de março, justamente por complicações da ELA.
Produzido antes desses dois filmes, mas estreando no Brasil somente agora, “Um Momento Pode Mudar Tudo” (2014) tem o seu foco na relação que se estabelece entre Kate (Hilary Swank), uma designer e pianista clássica diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica, e sua nova cuidadora e compositora frustrada, Bec (Emmy Rossum), que não tem talento nem para exercer a sua função, nem para se encontrar em sua vida amorosa e profissional. Uma amizade inusitada que se fortalece quando o relacionamento da paciente, aparentemente perfeito, com o seu marido Evan (Josh Duhamel) manifesta uma crise.
Como já dá para perceber, a produção segue o caminho já trilhado por “Intocáveis” (2013), com a diferença que o grande sucesso francês apostava num tom de comédia e mais humanidade aos seus personagens, enquanto este investe no melodrama.
O segundo filme de George C. Wolfe, premiado diretor da Broadway que estreou no cinema com a adaptação de um romance de Nicholas Sparks, “Noites de Tormenta” (2008), é aquele caso em que o público sabe que será manipulado para chorar, dependendo muito do espírito de cada espectador em querer mergulhar na história e se emocionar com ela ou não.
O roteiro assinado por Shana Feste e Jordan Roberts, uma adaptação do livro de Michelle Wildgen, prefere as opções mais fáceis enquanto trama e também no desenvolvimento dos personagens. Neste sentido, as atrizes principais e um elenco, em geral, correto ajudam a tornar esses tipos humanos mais reais.
A atuação de Hilary Swank não é digna de prêmio, mas o que ela consegue fazer a partir do material relembra porque a atriz tem duas estatuetas do Oscar em casa – uma por “Meninos Não Choram” (1999) e a outra por “Menina de Ouro” (2004). Swank dá vida ao papel não é só nos efeitos da progressão da doença, indo da restrição dos movimentos à alteração da respiração e da fala, mas principalmente nos pequenos detalhes da luta da personagem entre a resignação e inconformidade, como nos olhares.
Emmy Rossum tem nas mãos um tipo muito parecido, mas não tão desenvolvido quanto sua protagonista na série norte-americana “Shameless” (2011-). Bec se torna mais interessante quando deixa de ser apenas um estereótipo de garota desajustada, se acalma e mostra porque se comporta assim e como é mais do que isso.
Para quem conhece o talento musical da atriz desde “O Fantasma da Ópera” (2004), entre outros trabalhos, e deve estar se perguntando se ela canta neste filme, pelo perfil de sua personagem, a resposta é sim. Mas Emmy solta sua voz apenas uma vez e na cena conjunta com os créditos finais do filme.
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