Mano Brown levou mata leão, diz Suplicy ao pedir respeito aos negros Para secretário, carteira de habilitação vencida não justifica procedimento. Rapper foi detido por suposta 'desobediência' na tarde desta segunda.
O secretário de Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo, Eduardo Suplicy, afirmou que um "forte policial deu um mata leão" no rapper Mano Brown e depois o derrubou no chão. Mano Brown foi liberado pela Polícia Civil após ser detido na tarde desta segunda-feira (6) na Zona Sul de São Paulo.
Suplicy, que acompanhou a liberação do músico do grupo Racionais MC's, fez a declaração na sua página no Facebook na manhã desta terça-feira (7).
Segundo Suplicy, Mano Brown "foi à farmácia comprar um remédio para sua mãe, que esteve hospitalizada. No caminho, foi parado por batalhão de PMs. Abriu os vidros, desceu do carro. Mandaram ele elevar os braços por trás da cabeça. Brown pediu para não tocarem nele. Um forte policial deu-lhe um mata leão e o derrubou no chão. Diversos passaram a ofende-lo. Algemaram-no e o levaram ao 37DP, no Campo Limpo", diz o secretário na rede social.
"Vicente Cândido [deputado do PT] e eu fomos lá até que fosse liberado, às 20:30hs. Maior respeito e civilidade especialmente aos negros se faz necessário. O fato de o exame de saúde da carteira de habilitação estar vencido não justificava aquele procedimento", completou.
Admirador declarado do rapper, o secretário, que até o ano passado era senador, chegou a cantar músicas dele no Senado.
Caso
O carro no qual Brown estava, um Jetta branco, foi parado por volta das 16h na Avenida Carlos Caldeira Filho, na altura do número 1.000, na região de Campo Limpo. No 37º Distrito Policial, os policiais disseram que Mano Brown freou bruscamente ao se deparar com a blitz e, por isso, os PMs deram ordem de parada.
O advogado do rapper, Raphael Ornaghi relatou que o cantor saiu do carro e os PMs pediram para que colocasse as mãos sobre o veículo. Quando Brown fazia o movimento para erguer os braços, um policial encostou nele e o cantor “pediu calma”, ainda segundo o advogado. Em seguida, o PM teria puxado os braços do artista, o algemado e jogado no chão.
Os PMs que estiveram na delegacia negaram qualquer agressão. Eles relataram, segundo o delegado Fábio Brandão, que "pediram educadamente e que o cantor não aceitou a revista pessoal", por isso foi necessário dominar o rapper. Eles acrescentaram que não houve abuso da força. Os policiais e o cantor relataram ao delegado truculência e ofensas da outra parte.
Segundo Brandão, o cantor não quis registrar um boletim de ocorrência por agressão. Uma requisição para exame de corpo de delito foi dada ao rapper.
Segundo a Polícia Militar, ele acabou detido por desobediência, desacato e resistência. O desacato é usado pela PM para configurar casos em que ela julga ter ocorrido ofensa ou "menosprezo ao funcionário público no exercício de sua função". O delegado diz que Brown assinou um termo circunstanciado apenas por desobediência e foi liberado.
O automóvel do rapper foi apreendido. Segundo policiais ouvidos pelo G1, o carro estava com problemas no licenciamento e o exame médico da carteira de habilitação de Brown estava vencido.
Fãs, parentes e amigos aguardaram a saída do cantor na delegacia. Mano Brown é o principal nome do grupo Racionais MC's. Em 2014, a banda formada ainda por Edi Rock, KL Jay e Ice Blue completou 25 anos de carreira.
Os rappers ficaram conhecidos pelas letras de música sobre a realidade dos negros e pobres brasileiros. Gravado em 1990, o primeiro disco da banda, “Holocausto urbano”, retrata o cotidiano da periferia paulistana. No ano passado, o grupo lançou o álbum "Cores e Valores".
Outros episódios
Mano Brown foi preso em julho de 2004 por desacato à autoridade ao xingar e tentar agredir policiais militares que encontraram uma ponta de cigarro de maconha na roupa do músico. No dia seguinte, ele foi liberado após pagar fiança de R$ 60.
Já em setembro de 2009, o rapper foi detido após uma confusão na torcida do Santos durante o jogo contra o Corinthians no Estádio do Pacaembu, na Zona Oeste de São Paulo. A suspeita era de que ele tivesse participado de um conflito na arquibancada, mas após análise de imagens ele foi liberado.
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