Ataque a consulado americano na Líbia indica auge islamita
Planejado ou não, o ataque ao consulado americano em Benghazi (leste) mostra um aumento dos grupos islamitas radicais na Líbia, beneficiados pela instabilidade no país e pela conivência das novas autoridades. A facção mais conhecida é a Katibat Ansar al-Sharia (Brigada dos Partidários da Sharia), um grupo armado que defende a aplicação literal da lei islâmica. A população e a imprensa acusaram a organização logo depois do ataque de 11 de setembro ao consulado americano em Benghazi, que causou a morte do embaixador e de três funcionários americanos. A Ansar al-Sharia rejeitou as acusações, indicando que são "informações sem fundamento". Essa milícia se formou depois da queda do regime de Muamar Kadhafi, em outubro de 2011, e seus membros se conheceram na frente de batalha. "Não combatemos apenas Kadhafi, mas também lutamos para aplicar a sharia na Líbia", explica à AFP Yusef al-Jehani, encarregado das relações exteriores do grupo. Segundo ele, a Brigada conta com cerca de cem homens. Ela é considerada o braço armado da Organização Islâmica para a Pregação e a Reforma, um pequeno grupo até então discreto que afirma atuar em obras de caridade. Jehani negou novamente que o grupo esteja envolvido no ataque ao consulado americano e desmentiu que mantenha laços com a Al-Qaeda, dizendo que os membros da Brigada foram ao local dos fatos para "restabelecer a ordem". O ataque foi atribuído inicialmente a manifestantes enfurecidos contra um filme realizado nos Estados Unidos em que o Islã é desrespeitado, mas, segundo autoridades líbias e americanas, parece mais provável que se trate de uma operação coordenada. O ataque ocorreu no décimo primeiro aniversário dos atentados de 11 de setembro, e suscitou uma onda de condenações internacionais, principalmente nos Estados Unidos, que enviaram aviões não-tripulados (drones) para sobrevoar Benghazi e outras cidades do leste da Líbia. Essa iniciativa provocou descontentamento na Líbia. Mohamed Abu Sedra, ex-preso político e negociador com as correntes islamitas, teme que a Casa Branca, em um período eleitoral, ordene ataques à Líbia se considerar insuficientes as detenções de suspeitos do ataque. "Agora, podemos ver drones de vigilância, mas talvez, na próxima vez, estejam armados", considerou. Quase um ano depois da queda do antigo regime, o ataque ao consulado mostrou mais uma vez a incapacidade das autoridades líbias em garantir a segurança no país, onde as milícias de ex-rebeldes armados, incluindo os fundamentalistas islâmicos, ditam a lei. E o que ainda é pior, são as autoridades que recorrem a estes grupos para que intervenham em conflitos tribais ou para que vigiem instalações públicas. Por exemplo, a Ansar al-Sharia controla dois hospitais em Benghazi a pedido do conselho local, segundo Jehani. Outros grupos salafistas também foram incluídos no Ministério da Defesa e controlam as instalações militares mais importantes do leste do país, como é o caso da Brigada de Raf Allah Sahati, em Benghazi. Outras brigadas como o "Escudo da Líbia", influenciadas pela corrente salafista, atuam a mando das autoridades. Recentemente, o governo líbio reconheceu que seus órgãos de segurança estavam "infiltrados" por extremistas, sobretudo depois da destruição de mausoléus muçulmanos no oeste do país, no mês passado. Em Benghazi, islamitas radicais também foram acusados nos últimos meses de diversos ataques contra interesses ocidentais e de assassinatos de autoridades de segurança, sem que tenha havido uma reação do governo.
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