Produtor no alvo da indústria de cevada A necessidade de fidelizar produtores no cultivo de cevada cervejeira foi um dos temas discutidos durante a 30ª Reunião Nacional de Pesquisa de Cevada, que aconteceu dias 14 e 15 de abril, na Embrapa Trigo
Estima-se que o número de propriedades com cultivo de cevada no Brasil chegue a duas mil, concentradas na Região Sul, onde está mais de 90% da produção. Contudo, o produtor de cevada, na maioria dos casos, não é tradicional no cultivo, ou seja, não planta cevada todos os anos. A área destinada à cevada pode dar lugar ao trigo quando este está com melhor valorização, ou deixa o espaço na propriedade para a cobertura de solo com aveia principalmente. A Ambev, ramo sul americano da multinacional ABINBEV (maior fabricante mundial de cerveja) estima que o “turnover” (expressão em inglês que significa rotatividade) de produtores chegue aos 40% a cada safra. “O produtor valoriza muito o resultado da última safra na tomada de decisão sobre o que plantar na safra seguinte. Se o resultado não foi bom, ele vai em busca de outras opções de inverno”, explica o técnico Mauri Botini.
Além das oscilações do mercado do trigo, principal concorrente, o excesso de chuva na época de plantio reduziu a área de fomento Ambev de cevada no Paraná em 36% de 2013 para 2014, enquanto que a área no Rio Grande do Sul aumentou em 37% no mesmo período. O número de propriedades gaúchas com cevada também aumentou em 14%.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Euclydes Minella, os bons resultados da cevada em 2013 no RS, com produção de 150 mil toneladas, levaram a um crescimento de 10% na área plantada em 2014. A situação não deverá se repetir neste ano, principalmente em função do clima na última safra, com chuvas excessivas em setembro e outubro que atingiram a cevada em granação e maturação. O volume de produção no RS foi 50% menor e com baixa qualidade cervejeira devido principalmente à germinação ainda no campo, quando mais da metade produzida foi desclassificada para uso na malteação.
Ao contrário do Sul, no estado de São Paulo a produção de cevada embora ainda pequena, vem crescendo a cada ano. A área de 2.873 hectares de cevada irrigada do fomento da Malteria Soufflet deverá sofrer incremento de 80% em 2015, mantendo rendimentos acima de 4.200 kg/ha.
Contexto da cevada no Brasil
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Trigo, Cláudia De Mori, o mercado brasileiro da cevada pode ser caracterizado como um mercado especializado, voltado para o segmento de cevada para malteação, com forte integração entre produtores e agroindústria de transformação (maltaria/cervejaria), por meio de programas de fomento, assistência técnica e compra garantida de produto mediante contrato firmado entre empresas e produtores individualmente ou representados por cooperativas ou outro tipo de associação. A principal vantagem deste sistema está na fixação de preço antes do cultivo e na “liquidez” de mercado, dando ao produtor condições de planejar seus investimentos na produção.
Ainda assim, a cultura é vista como investimento de risco pelo produtor, principalmente pela vulnerabilidade da cultura às intempéries climáticas que afetam diretamente a qualidade dos grãos para a indústria de malte. Os grãos que não atingem 95% de germinação são desclassificados e acabam destinados à alimentação animal, onde a cevada pode ser utilizada em até 80% na mistura concentrado para bovinos, ou substituir em até 80% o milho em rações de suínos e aves. Em 2014, mais de 70% da cevada colhida no RS foi destinada ao consumo animal.
Estratégias de fidelização
Em 2014, a ABINBEV iniciou um trabalho de aproximação com os produtores de cevada no Brasil. O programa “Smart Barley” tem o Brasil como piloto para a experiência que a empresa pretende expandir para o México, EUA, Rússia, China, India, Argentina e Uruguai, com a meta de chegar a quatro mil produtores. O objetivo, segundo Caio Batista, supervisor Agro Sementes da Ambev no Brasil, é identificar as melhores práticas, com menor impacto ao meio ambiente e maior rentabilidade ao produtor. “Precisamos estar cada vez mais próximos do produtor para entender seus valores e motivações”, explica Caio Batista.
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