Para superar perda da filha, mulher cria projeto com brincadeiras de rua
Depois de perder a filha de 11 anos, vítima de uma meningite, a professora Dreidy Mara de Almeida, de 34 anos, que passa seu primeiro Dia das Mães sem a menina, resolveu transformar em projeto o hábito, cultivado com a filha, de resgatar antigas brincadeiras de criança em Piracicaba (SP). A iniciativa batizada de "Na Rua da Julia", em homenagem à garota, também foi uma forma de Dreidy viver o luto de maneira menos dolorida.
“Quando brinco com outras crianças e pessoas que recriam as cantigas e jogos infantis, trago comigo uma memória boa dela”, disse Dreidy. Ana Julia tinha oito anos de idade quando quis saber quais eram as brincadeiras da mãe na infância. Logo veio a curiosidade sobre como era pular elástico, corda, andar de perna de pau e jogar taco, que se tornou a preferência da menina.
Diante do entusiasmo da menina, a mãe resolveu ensinar cada uma das brincadeiras e canções que sabia. Da primeira vez, a iniciativa reuniu quatro pessoas, vizinhas e amiguinhas da garota. Depois, outras crianças quiseram entrar na brincadeira. A ideia começou a ganhar integrantes.
A despedida
Em 14 de setembro de 2014, depois de um dia de muitas brincadeiras com os amigos e de comemoração do aniversário de Julia, que seria dois dias depois, a menina começou a sentir dores no corpo, na garganta e no ouvido. “Ela estava tão feliz naquele dia, pulou corda como gostava. Na madrugada do dia seguinte começou a passar mal”, lembrou Dreidy.
O diagnóstico de meningite meningocócica, porém, chegou tarde demais. Julia morreu no dia de seu aniversário de 11 anos. "Minha filha se despediu de mim com uma das músicas que ensinei a ela", contou a mãe. "Não foi possível diagnosticar a meningite clinicamente porque ela desenvolveu certa imunidade à bactéria", disse.
E o alerta
Dreidy também estava com a doença, mas também não sabia. "Foi a Julia que me salvou. Com o diagnóstico dela, os médicos desconfiaram de que eu também poderia ter a bactéria. Após o falecimento da minha filha ainda fiquei me tratando durante 10 dias no hospital”, afirmou.
O projeto
O que era uma brincadeira virou neste ano o projeto que ajuda a manter vivas as boas lembranças de Julia em Dreidy, que passa seu primeiro Dia das Mães sem a filha. A iniciativa tem ganhado mais adeptos. "Na última edição, tivemos cerca de 60 pessoas que brincaram conosco", contou.
Dreidy ressalta a importância social do projeto que busca difundir e valorizar a cultura tradicional da infância. "A intenção é proporcionar a troca de saberes entre gerações, aprendendo e brincando um com o outro. A criança, por lei, tem o direito de brincar, mas ela está comprometida pelo tempo e pela tecnologia, muitas vezes", explicou.
Comentários