Sem gado para abater, frigoríficos fecham as portas em MT
Detentor do maior rebanho bovino do Brasil, estimado em 28 milhões de cabeças, Mato Grosso não tem animais suficientes para o abate interno. Como consequência, frigoríficos estão fechando as portas e reduzindo postos de trabalho. As indústrias enfrentam dificuldades para manter a operação (que está ociosa), pagando funcionários e energia caros e agora sem ter matéria-prima. Pelo menos 4 unidades frigoríficas suspenderam as atividades em 3 municípios nos últimos 6 meses. Nessa semana, a gigante mundial do setor de processamento e proteína animal, JBS/Friboi, anunciou o fechamento da unidade instalada em São José dos Quatro Marcos (a 315 km de Cuiabá) que empregava 724 funcionários.
A suspensão das atividades na unidade da Friboi elevou para 2, o número de empresas fechadas no Estado num intervalo de duas semanas, pois em Rondonópolis (a 212 km da Capital) um frigorífico de médio porte com capacidade para abater 500 animais por dia deixou de operar há menos de15 dias. As informações são do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo/MT) e foram repassadas pelo secretário-executivo, Jovelino Borges. Dos frigoríficos fechados, 2 estão em Rondonópolis, 1 em Vila Rica e o mais recente em São José dos Quatro Marcos.
Borges demonstra preocupação com atual cenário vivenciado pelo setor. “Não tem boi para todo mundo. Você pode falar com qualquer dono de frigorífico e ele vai dizer que não tem boi. Fala-se que são 28 milhões de cabeças no Estado. Cadê esses animais?”. Conforme o representante do Sindifrigo, os frigoríficos estão trabalhando com ociosidade entre 30% e 40%. “Chega uma hora que tem fazer adequações, demitir, economizar”. Além da falta de gado para o abate, muitos animais estão sendo levados para abate em outros estados.
A JBS disse que o encerramento das atividades em São José dos Quatro Marcos se deve às atuais condições de mercado, em que a baixa disponibilidade de matéria -prima tem provocado aumento de ociosidade em algumas regiões do país. “A JBS oferecerá a todos os colaboradores de São José dos
Quatro Marcos a possibilidade de transferência para outras unidades da companhia. Aqueles que não aceitarem a transferência serão rigorosamente indenizados em conformidade com a legislação trabalhista”.
Arroba segue valorizada, diz Acrimat - Para a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), não existe crise no setor pecuário em Mato Grosso. De acordo com o presidente, José João Bernardes, o setor passa por um bom momento, a arroba está valorizada e o pecuarista terá condições de investir, algo que não era possível até pouco tempo. Sobre a demanda para abate que os frigoríficos reclamam, ele destaca que o momento é de equilíbrio entre oferta e demanda. “Evidentemente que melhores preços podem favorecer a maior oferta de animais para a indústria. É a lei de oferta e procura”.
Ele reconhece que entre os anos de 2010 e 2013 abateu-se mais fêmeas e que isso reflete na produção de bezerros. “Mas reforço que é tudo uma questão de mercado. Mesmo tendo um número menor de machos com mais de 2 anos disponíveis, o pecuarista pode optar em vender fêmeas se sentir que está sendo bem remunerado”.
Quanto ao fechamento de frigoríficos, o presidente da Acrimat diz que nas regiões onde houve fechamento o impacto é pequeno, visto que há outras opções nessas cidades. “Quanto ao fechamento, a análise depende muito do ponto de vista. Temos notícias de empresas interessadas em abrir novas plantas em Mato Grosso. Nesse caso, o fechamento de algumas pode ser visto como oportunidade para quem quer entrar”
No Acrimat em Ação 2015, o maior evento itinerante da pecuária de corte de Mato Grosso e do Brasil, foram visitados este ano 30 municípios de Mato Grosso, onde o tema discutido com o setor é o manejo pré-abate, como evitar perdas econômicas, visando o bem estar animal. As dificuldades do transporte, com estradas em péssimo estado impactam diretamente na pecuária e geram prejuízo para o setor. As principais reclamações dos pecuaristas apontam que muitos animais chegam machucados nos frigoríficos por conta do transporte, o que gera descontos no valor de carcaça paga aos pecuaristas.
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