Fotógrafo brasileiro detido na Turquia vai ser deportado, confirma Itamaraty Embaixada em Ancara afirma que governo turco confirmou deportação. Gabriel Chaim cobria a guerra da Síria e foi detido ao cruzar a fronteira.
O fotógrafo brasileiro Gabriel Chaim em sua segunda viagem à Síria durante a guerra (Foto: Gabriel Chaim/Arquivo pessoal)
O fotógrafo brasileiro Gabriel Chaim, que cobria a guerra da Síria e foi detido na fronteira do país com a Turquia na última terça-feira (5), será deportado, confirmou o Itamaraty.
De acordo com a Embaixada do Brasil na Turquia, autoridades turcas confirmaram a deportação, que ainda não tem data para acontecer, mas deve ocorrer nos próximos dias.
Chaim está sob custódia em Ancara em um prédio da direção geral de segurança, órgão ligado ao ministério do interior da Turquia. Segundo a embaixada, um funcionário visitou o brasileiro no sábado (9) e ele está bem de saúde.
Gabriel Chaim foi detido na cidade de Sanliurfa, após cruzar ilegalmente a fronteira entre a Síria e a Turquia. Dois outros fotógrafos que estavam com ele, um alemão e um turco, também foram detidos. Na última sexta-feira (8), o brasileiro foi transferido para Ancara, capital do país.
Interrogatórios
Foto de Gabriel Chaim publicada no Facebook na sexta-feira (8), dia de sua transferência para Ancara (Foto: Reprodução/Facebook/Gabriel Chaim')
O fotógrafo de guerra brasileiro estava documentando o conflito em Kobane, cidade síria próxima à fronteira com a Turquia, e foi detido às 23h, ao tentar entrar em território turco.
Chaim relatou que soldados que estavam em um posto da fronteira apontaram armas para ele e os colegas e atiraram três vezes para o alto. “Daí deitamos no chão, no meio do mato. Então eles nos levaram para vários locais diferentes e começaram uma sessão de interrogatórios”, contou.
Segundo Chaim, o interrogatório inicial durou mais de 14 horas, e eles não puderam comer nem dormir nesse período. “Ficamos 16 horas ou mais sem comer. Depois disso, eles deram duas bananas para que dividíssemos entre três pessoas. O sono era avassalador, porém era impossível tirar um segundo de cochilo. Se a gente fosse ao banheiro, um cara armado nos acompanhava”, conta.
Segundo Chaim, a única maneira de entrar em Kobane é de forma ilegal. “Kobane está cercada pelo Estado Islâmico e pela Turquia, sendo que a Turquia só abre as portas da fronteira para caminhões com produtos humanitários ou feridos muito graves", disse.
"Todos os canais de TV que fazem matéria lá entram de forma ilegal, assim como eu fiz. Isso não foi um impeditivo para mim, pois meu interesse é mostrar a situação das pessoas que estão presas em seu território”, completou.
Cobertura de guerra
Soldado opositor ao governo de Assad foi fotografado por Gabriel Chaim em área destruída pelas bombas (Foto: Gabriel Chaim/G1)
Esta é a quarta vez que Gabriel Chaim viaja à Síria desde o início da guerra civil no país, que já dura quatro anos e deixou mais de 210 mil mortos.
Ele disse que teme a possibilidade de deportação porque teria que interromper seu trabalho. “Estou tranquilo, mas triste por tentarem calar minhas imagens com isso, pois ainda tenho muito trabalho a fazer na Síria. E, se for deportado, terei que ficar longe por um tempo. Estou muito triste com isso”, afirmou.
Gabriel Chaim é especializado em fotografar e filmar áreas de conflito e crise. Além da guerra síria, fez coberturas como freelancer no Iraque, no Irã, na Faixa de Gaza e no Egito. Já teve trabalhos veiculados pelo G1 e por programas da TV Globo como "Fantástico" e "Profissão Repórter", além de em veículos estrangeiros como a rede americana CNN e o jornal inglês "The Guardian".
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