Novo cálculo da aposentadoria deve ampliar rombo no INSS Avaliação foi feita por especialistas. Governo ainda não se manifestou. Sem mudar fator previdenciário, déficit do INSS já iria a R$ 7 tri em 2060.
Estimativas oficiais mostram que o déficit do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), deverá aumentar substancialmente nos próximos 45 anos, mesmo sem as alterações no fator previdenciário, fórmula usada para conceder aposentadorias, discutidas no Congresso. Caso elas entrem em vigor, a trajetória do rombo da Previdência Social tende a ficar maior ainda, de acordo com especialistas consultados pelo G1.
Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou uma Medida Provisória (MP 664) que, na prática, permite que pessoas que começaram a trabalhar cedo consigam se aposentar mais cedo também (entenda como funciona).. Para as contas públicas, isso significa mais despesas – e um rombo ainda maior no INSS no longo prazo.
Para que a MP tenha validade, os deputados ainda precisam concluir a votação de outras sugestões de mudança. Após a aprovação da redação final, o texto seguirá para o Senado. Por fim, ainda terá de ser sancionado pela presidente Dilma Rousseff, que tem poder de veto.
Segundo o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016, enviado no mês passado pelo governo ao Congresso Nacional, o déficit do INSS, estimado em R$ 66,7 bilhões para 2015, deverá avançar, mesmo sem a mudança das regras do fator previdenciário, para R$ 1,04 trilhão em 2040 e para R$ 7,21 trilhões em 2060. Essa projeção foi feita pelos ministérios da Previdência Social, da Fazenda e do Planejamento.
Neste ano, o déficit corresponderá a 1,14% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2040, ele deve ser de 3,52% e em 2060, o equivalente a 9,24% do PIB, estimado em R$ 78 trilhões. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.
omo foram feitas as previsões
Para se fazer a estimativa do déficit do INSS, o governo informou que foram considerados queda do PIB de 0,9% neste ano e altas de 1,3% em 2016, de 1,9% em 2017 e de 2,4% em 2018.
"A partir de 2019, a taxa de crescimento do PIB se iguala ao crescimento da massa salarial determinada pelos modelos demográfico e do mercado de trabalho, explicado nas seções anteriores. Além disso, também foi considerado um crescimento da produtividade média de 2,5% ao ano", informou o governo no exercício.
As projeções de despesa foram realizadas considerando os efeitos da Medida Provisória 664 que alteraram as regras de concessão de pensões por morte e de auxílio-doença, mas não as mudanças do fator previdenciário – aprovadas na mesma MP.
"Como a Medida Provisória ainda está em discussão no Congresso Nacional, qualquer alteração nas regras nela estabelecidas alterarão os resultados das projeções aqui apresentadas", acrescentou.
Analistas calculam impacto
Ouvidos pelo G1, economistas que trabalham com as contas públicas avaliaram que as mudanças, se confirmadas pelo Congresso Nacional, teriam efeito negativo no crescente déficit da Previdência Social – com impacto potencial de 0,5 ponto a 1 ponto percentual do PIB em 2040 – e também enviaria sinalizações negativas para investidores e agências de classificação de risco sobre a sustentabilidade do sistema previdenciário brasileiro.
"Isso é mais lenha na fogueira de uma trajetória do crescimento do gasto do INSS que já não é sustentável, dada essa mudança demográfica em curso. Para as próximas duas décadas e meia, já é uma trajetória que não é sustentável. No curto prazo [próximos anos], o efeito é positivo porque várias pessoas vão adiar a aposentadoria para se adequar à regra", avaliou o economista Mansueto Almeida – que calculou um impacto de alta do déficit do INSS de 0,8 ponto a 1 ponto percentual do PIB em 2040 com as alterações no fator previdenciário.
Para ele, essa mudança no fator previdenciário englobaria 30% dos trabalhadores – aqueles que se aposentam por tempo de contribuição. "Já gastamos atualmente 13% do PIB com os sistemas público e privado de previdência, e também com a Loas [Lei Orgânica de Assistência Social]. É o que gasta um país que tem a proporção de pessoas com mais de 60 anos que é o triplo da nossa", disse Mansueto.
Para o economista, o Brasil estaria indo, com esta mudança, na direção contrária de vários países do mundo, que estão endurecendo suas regras para promover uma maior sustentabilidade do sistema previdenciário. "No médio e longo prazos, isso só se sustenta com mais carga tributária [aumento de tributos]. E a carga já é alta no Brasil. A sinalização não é boa", afirmou.
Para Raul Velloso, economista que foca sua análise em contas públicas, o efeito da mudança seria de 0,5 ponto percentual do PIB em 2040. "O pior não é tanto o impacto financeiro, mas é porque mutila aquela que foi a principal mudança nas últimas reformas que fizemos, que foi a introdução do fator previdenciário. Mutilou o fator. É mais um efeito sobre o sistema", declarou ele.
De acordo com Velloso, os gastos com previdência e assistência social dobrariam em 50 anos mesmo sem as alterações do fator previdenciário, na porcentagem com o PIB. Passariam de 11% do PIB para 22% do PIB. "Se tiver um impacto a mais [por conta da alteração das regras do fator previdenciário], torna menos sustentável ainda", avaliou ele.
Equipe econômica não se pronuncia
O G1 entrou em contato com os ministérios da Previdência, da Fazenda e do Planejamento para saber se a equipe econômica vai endossar as alterações feitas pela Câmara dos Deputados e qual seria o seu impacto nas contas públicas.
Entretanto, até a última atualização desta reportagem, somente o Ministério da Previdência havia enviado resposta. Ele se limitou, porém, a informar que só irá se pronunciar ao fim da tramitação do projeto no Congresso Nacional.
Alterações no fator aprovadas pela Câmara
Atualmente, o fator previdenciário reduz o valor do benefício de quem se aposenta por tempo de contribuição antes de atingir 65 anos (nos casos de homens) ou 60 (mulheres). O tempo mínimo de contribuição para aposentadoria é de 35 anos para homens e de 30 para mulheres.
A alteração aprovada propõe a chamada fórmula 85/95, pela qual o trabalhador se aposenta com proventos integrais (com base no teto da Previdência, atualmente R$ 4.663,75) se a soma da idade e do tempo de contribuição resultar 85 (mulheres) ou 95 (homens).
Por exemplo, uma mulher de 47 anos de idade, que completou 30 anos de contribuição, ao se aposentar pela regra atual teria uma redução de quase 50% no valor da sua aposentadoria. Para conseguir 100% do valor, ela teria que trabalhar pelo menos mais 12 anos.
Se a regra aprovada pela Câmara entrar em vigor, ela teria que trabalhar mais 4 anos para ter direito a 100% do benefício, quando a soma da sua idade (51) mais seu tempo de contribuição (34) alcançar os 85.
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