Metade das empresas não tem mulheres em conselho administrativo Apenas 6,4% ocupam cargos em diretorias das empresas pesquisadas. O Brasil é o único país da América Latina com uma proposta de cotas.
Quase a metade (47) das 100 maiores empresas da América Latina não tem uma única mulher em seu conselho de administração, de acordo com a Corporate Women Directors International (CWDI), um grupo de pesquisa com sede em Washington, que divulgou nesta sexta-feira (15), no Global Summit of Women, em São Paulo, seu estudo sobre mulheres diretoras nas maiores empresas da região.
Ao todo, as mulheres representam apenas 6,4% da diretoria das 100 maiores empresas da região, colocando a América Latina bem atrás da América do Norte (19,2%), Europa (20%) e região Ásia – Pacífico (9,4%).
“Embora exista um esforço global - em grande parte impulsionado pela Europa – para aumentar a presença de mulheres nas diretorias, as empresas latino-americanas estão sendo deixadas para trás no quesito de promoção de mulheres a cargos de liderança", afirma Irene Natividad, presidente da CWDI. “As razões para o baixo porcentual de mulheres ocupando a diretoria do conselho na região não são difíceis de enxergar, uma vez que ainda há tão poucas mulheres CEOs e altas executivas com o nível de preparo normalmente requerido pelos executivos”.
Colômbia lidera
Entre os países latino-americanos representados por empresas no estudo, a Colômbia está na liderança, com 13,4% dos assentos no conselho das suas maiores empresas ocupados por mulheres, mais que o dobro da média da região. No Brasil, cujas empresas compõem quase metade das maiores empresas na lista, a média é de 6,3%. Empresas do México têm apenas 5,1% da representação no conselho feminino, enquanto a percentagem do Chile, de 3,2%, é a mais baixa na região. Entre as empresas que contam com diretores do sexo feminino, 43% têm uma só mulher.
Cotas
Segundo Irene, existem medidas práticas que os países podem tomar para aumentar a presença das mulheres na sala de reuniões. “No Brasil, o projeto de lei de cotas ainda não aprovado, que exige que um mínimo de 40% dos diretores das empresas estatais sejam mulheres, é uma esperança para o futuro”, diz.
Caso o projeto de lei seja aprovado, o Brasil será a primeira economia da América Latina a adotar um mandato legislativo para mulheres nos conselhos, uma estratégia agora admitida por vários países. Ele se juntará a outros 22 países com cotas para as mulheres, sejam por empresas estatais ou de capital aberto. “Apesar de ser pessoalmente contra cotas, eu aprendi com o tempo que é uma medida necessária”, afirma Regina Nunes, Presidente do Standard & Poor’s Brasil.
Um projeto de lei em tramitação no Senado brasileiro poderia exigir que empresas estatais aumentassem a sua porcentagem de mulheres diretoras pelo menos 10% a cada dois anos até atingir um mínimo de 40% de ambos os sexos. O projeto de lei está atualmente aguardando aprovação pela Comissão dos Assuntos Sociais antes de ser apresentado para a Câmara dos Deputados do Brasil.
Além de mandatos legislativos, o relatório da CWDI recomenda a inclusão da diversidade de gênero em códigos de governança corporativa, uma iniciativa do setor privado em 24 países que tem melhorado o acesso das mulheres às diretorias e que pode ser adotado pela América Latina.
O estudo cita várias pesquisas em praticamente todas as regiões do mundo, que mostra que o aumento da presença das mulheres em cargos de liderança corporativos – como diretoras ou executivas seniores – está correlacionado com as empresas de maior rentabilidade e sucesso financeiro.
O estudo da CDI também afirma que este “business case” precisa ser compreendido pelas empresas latino-americanas, que ainda não enxergam a lógica econômica por trás da promoção da participação das mulheres no mais alto nível de liderança corporativa.
Veja outras conclusões do estudo:
- Os homens ocupam 93,6% dos cargos de diretoria no Conselho de Administração das 100 maiores empresas da região.
- Na última década, a porcentagem de mulheres nas diretorias aumentou pouco, cerca de 1,3%.
- Em 2005, 5,1% dos assentos no conselho eram ocupados por mulheres, subindo para 5,8% em 2012, antes de atingir 6,4% em 2015. Dez anos após o primeiro estudo da CWDI na região, o número se mantém praticamente o mesmo.
- Ambev, Itaú Unibanco, America Movil, Televisa, Cemex, Vale e Banco Chile estão entre as maiores empresas com diretores homens.
- Das 53 empresas com pelo menos uma mulher na diretoria, 43 têm apenas uma mulher.
- Oito empresas têm duas mulheres membros do conselho e apenas duas alcançaram a massa crítica de três ou mais mulheres diretoras, cuja participação começa a influenciar as discussões no conselho.
- Companhias da América Latina ficam atrás de suas empresas globais do mesmo segmento na nomeação de mulheres para os conselhos de administração.
- Globalmente, a diversidade de gêneros nas diretorias das empresas está começando a acelerar, mas não na América Latina.
- Ao longo da última década, a percentagem de mulheres dirigentes da Fortune Global 200 aumentou de 10,4% para 17,8%, crescimento de 7,4 pontos porcentuais, em comparação com 1,3% de aumento na América Latina.
- A ausência de iniciativas públicas ou privadas do setor para aumentar o número de mulheres dirigentes da região está deixando as empresas da América Latina atrás de suas concorrentes globais.
- As cotas para mulheres nos conselhos se disseminaram da Europa para partes da África, Ásia e no Oriente Médio e, na última década tiveram o aumento de até 20% de mulheres nas diretorias, como é o caso da Itália e França.
- 13,4% dos cargos de direção em empresas de topo da Colômbia são ocupados por mulheres, mais do que o dobro da média regional. Em segundo lugar na América Latina, os conselhos das empresas brasileiras consistem em 6,3% a representação das mulheres, enquanto o México (5,1%) e Chile (3,2%) estão abaixo da média regional.
- Apenas oito das empresas têm pelo menos 20% de mulheres diretores e nenhuma excede 30%.
- Duas empresas colombianas – o conglomerado industrial Grupo Argos e principal empresa de cimento, Cemargos – empatam com o maior percentual entre as 100 maiores da América Latina, com duas mulheres a cada sete diretores (28,6%). A varejista Organização Soriana, do México, está em segundo lugar com 25% de mulheres ocupando assentos no conselho (2 para 8). Empatadas em terceiro lugar estão a varejista chilena Falabella, a varejista colombiana Exito e o Santander Brasil, cada uma com duas mulheres nos conselhos de nove membros (22,2%). Nenhuma das grandes empresas que participaram da pesquisa possui três ou mais mulheres diretoras.
- Mais de 1/3 das 65 mulheres nos conselhos de administração das empresas que fazem parte do estudo são membros da família de parentes que dirigem as empresas. No Brasil, mais de 40% de mulheres têm laços familiares com os dirigentes, já nenhuma diretora mulher colombiana é membro da família.
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