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Terça - 16 de Junho de 2015 às 14:15

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Novela da Globo exagera e deixa mundo fashion de cabelo em pé

Profissionais da moda andam de cabelo em pé devido ao modo como seu segmento tem sido exposto na novela 'Verdades Secretas', de Walcyr Carrasco, no ar desde a semana passada.

Os primeiros capítulos mostraram, dentre outras coisas, uma modelo iniciante sendo pressionada a fazer programa com um empresário e uso de drogas. Essas coisas existem? É assim como apareceu na televisão? Tem modelo que faz programa? Para dar uma geral no assunto, conversei com uma série de pessoas da moda, de donos de agência e modelos, a executivas de revistas e relações-públicas. Quase todos falaram em on, mas teve quem pedisse para não ser identificado. O resultado você vê abaixo, editado em forma de perguntas e respostas para facilitar sua leitura.

O mundo da moda é podre como a gente vê na novela?
SIM e NÃO. Pelo lado de haver gente querendo puxar o tapete alheio e sendo maldosa com os outros, sim. Mesmo assim, não são todos que se comportam dessa maneira. Agora, as histórias de sexo, perversão, drogas e afins são tintas carregadas de algo que na verdade acontece muito raramente — é uma novela, afinal de contas, portanto se trata de ficção, ainda que baseada em fatos reais. 'Verdades Secretas', porém, pesa a mão em nome da dramaticidade. Se fosse sem tempero, ninguém assistiria, né? "Escolheram mostrar a exceção como se fosse a regra", define a modelo Talytha Pugliesi, dezoito anos de profissão.

Existe o tal book rosa, o catálogo de modelos com quem os ricaços podem passar a noite, mesmo que pagando verdadeiras fortunas?
SIM. Mas não é o que você pensa, nem acontece do jeito que mostram na novela. Nas agências sérias — por exemplo, nas grandonas como Way, Mega e Ford, não tem isso. "O que existe é muita gente que se diz modelo e nunca trabalhou num desfile, numa campanha, nunca fez um editorial para revista. Atua em outras áreas. Já aconteceu de virem me apresentar mulher que se dizia da minha agência, mas que nunca nem sequer foi do nosso cast", afirma Eli Wahbe, dono da Mega. Um dos argumentos dele faz todo o sentido quando aplicado à personagem Arlete, vivida por Camila Queiroz na novela: é uma potencial top model, que pode render milhões e que todas as agências gostariam de ter em seu elenco. "Ninguém desperdiça talento desse jeito. A começar da própria menina. Por que ela ia fazer programa se pode ir pro exterior e ganhar rios de dinheiro? Seria como descobrir um Neymar e não escalar para jogar bola. Se eu não trato bem uma menina assim, meus concorrentes levam embora na hora."

Susana Barbosa, diretora de redação da revista 'Elle', afirma que histórias sobre essa prática surgem e desaparecem com frequência, mas que jamais ficou sabendo de um caso que fosse verdadeiro. Uma fonte que consultei e que preferiu não se identificar, mas que tem vinte anos de trabalho no segmento, explica que há donos de agência que estimulam a proximidade de suas modelos com empresários que podem trazer benefícios a eles algumas temporadas mais tarde. "Nem sempre o dinheiro troca de mãos, mas acaba rolando uma troca de favores", diz esta pessoa, que identificarei daqui por diante como Senhora X. "Inclusive, uma modelo que desfila sua beleza angelical mundo afora, antes de decolar, chegou a fazer. O namorado descobriu e terminou com ela", acrescenta.

É tão glamouroso quanto parece?
NÃO. A moda é um meio em que as aparências contam muito, por isso muitos se desdobram para não parecer por baixo, querem sempre estar arrasando. Mais ou menos como o resto do mundo faz com o Instagram, onde não existe infelicidade, sabe? Só que 24 horas por dia, sete dias por semana. Porém, é fato que as pessoas trabalham PRA CARAMBA (quase todos, pelo menos). Essa eu sei porque testemunho há quinze anos o suor da galera no São Paulo Fashion Week. Dos estilistas às consultoras de moda, passando pelas modelos, são poucas horas de sono e muitas de ralação. Claro, tem festas bem legais, você conhece gente interessantíssima e tira selfie com a Kate Moss... Mas ninguém bebe champanhe todo santo dia (ok, talvez a própria Kate Moss), nem ganha presentes carésimos de grifes (idem sobre a Moss). No exterior é até melhor, mas aqui no Brasil a grana é bem mais curta. "As pessoas acham que quem está na moda é milionário, nada em dinheiro e não tem problemas. Quem dera!", comenta Tânia Otranto, sócia da Mkt Mix, principal agência de relações-públicas e assessoria de imprensa de moda do país.

Acontecem casamentos e namoros de fachada?
SIM. "A mãe de uma brasileira bem famosa conta para quem quiser ouvir que o Ricky Martin, antes de assumir que é gay, queria que a filha dela assinasse contrato pra ser sua namorada de mentirinha", diz a Senhora X. "Sempre que vir homem que está eternamente rodeado de modelo, vive com a casa cheia de mulher, pode desconfiar."

É verdade que chamam aquelas meninas magérrimas de gordas?
SIM. Infelizmente. Nem sempre na cara, sobretudo nos últimos anos, quando se passou a cobrar de todo mundo postura mais ética e saudável. Mas é fato que as roupas são todas de tamanhos pequenos e que quem foge do padrão pega menos trabalhos. Em suma: a expectativa é que as meninas sejam mesmo muito magras, mas a forma com que isso é tratado hoje é menos desumana.

E aquelas plus size que de gordas não têm nada? É real aquilo?
SIM. Por mais bizarro que pareça, pelos parâmetros da moda, quem veste acima de 42 é considerada modelo plus size, medida que já causou, causa e ainda causará muita polêmica. Mas é bom ressaltar que isso são padrões para trabalhos de moda. Ou seja, não se referem às mulheres da vida do lado de cá, do lado off-passarela.

As modelos são anoréxicas?
NÃO. Ok, algumas, mas não dá para generalizar. O fato é que elas realmente comem bem pouco. Algumas vieram ao mundo com a bênção de comer muito e não engordar, mas a maioria fala isso só dá boca pra fora e fuma um cigarro atrás do outro pra enganar a fome. Gisele Bündchen, tudo indica, é comilona de verdade. Reza a lenda que há alguns anos, quando se hospedou na casa do Caetano Veloso na Bahia, deu trabalho e deixou Paula Lavigne espantada com o tanto de coisa engordativa que devorava.

As pessoas são drogadas?
NÃO. Existem muitos usuários, obviamente. Mas quem tem vontade de chegar a algum lugar na carreira (não contém duplo sentido), dá seu jeito de fugir dessa. Modelo, por exemplo, precisa estar inteira e bonita em foto. Se ficar a noite inteira cheirando cocaína, vai chegar com que cara no estúdio? O que quero dizer é: rolam drogas, mas não mais do que em outros círculos. "Não vou ser ingênua de dizer que não existe, que é todo mundo 100% profissional", afirma Mariana Weickert, modelo da geração 90 que bombou no exterior e que hoje toca uma igualmente bem sucedida trajetória como apresentadora. "Mas fico sabendo histórias do mundo corporativo e da saúde, por exemplo, ou mesmo dos jornalistas, que são igualmente pesadas. Ou até mais!"

Os modelos masculinos são todos gays?
NÃO. Mas, segundo a Senhora X., houve uma época em que qualquer homem que quisesse pegar trabalhos de peso no exterior, tinha que aceitar sair com algum poderosão da grife contratante: o estilista, o dono, um diretor... "Um brasileiro bem famoso só não teve mais sucesso internacional porque se recusou a se submeter a isso", conta ela.

A novela pode prejudicar a moda brasileira?
SIM. Muitos donos de agência estão apavorados que a repercussão da trama leve pais a proibirem suas filhas de trabalhar como modelo. Em público, eles sempre dizem que não tem o menor problema, que é ficção... Mas que estão tensos, estão. "Periga rolar uma seca de novas meninas", afirma Talytha Pugliesi. "Se essa novela passasse quando eu estava no início da carreira, meus pais nunca me deixariam ir sozinha pro Japão, como aconteceu." Ela aponta outro prejuízo: à imagem das brasileiras que trabalham no segmento fashion. "A gente batalha há décadas para dissociar a profissão do rótulo de 'prostituta' e, com isso, demos alguns passos atrás. Na cabeça de muitos espectadores, vai misturar tudo."

A novela pode favorecer a moda brasileira?
SIM. Como o R7 é da Record, não queria que este post parecesse parcial, então procurei o estilista Dudu Bertholini, que é o consultor da Globo para a novela. Concordo com ele no que diz respeito aos falsos profissionais: "A Fanny (Marieta Severo) é uma vilã, é inescrupulosa e tem uma agência que é praticamente fachada para negociar programas", afirma ele. "Mostrar esse cenário ajuda a abrir os olhos do público para a existência de falsas promessas e de gente que não é honesta, que não é profissional. Existe gente que explora a beleza, o glamour, o dinheiro, o falso brilho." Ou seja, a novela pode servir como alerta e permitir que a galera que é séria consiga tirar do caminho quem não é. "A história aborda sombras do mundo da moda, coisa que existem, mas que não são predominância. "O viés da ficção da novela é esse. Que leve pessoas a uma reflexão, a um cuidado em saber com quem elas estão lidando. Vai trazer um respeito maior com quem trabalha seriamente."





Fonte: R7

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