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Nacional
Quarta - 24 de Junho de 2015 às 19:10

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Foto: (Foto: Arquivo pessoal)

Helena se candidatou a Miss Leme por insistência da tia maquiadora

Helena se candidatou a Miss Leme por insistência da tia maquiadora

Os cabelos longos, o rosto harmonioso e as formas esguias da jovem Helena Balduino Moraes não deixam dúvida quanto ao porte de modelo. Aos 23 anos, ela ostenta o título de Miss Leme 2011, conquista que se deu pela beleza e pela desenvoltura na passarela.

Quem vê de longe pode imaginar que os dias da jovem são repletos de cliques, campanhas publicitárias e desfiles. A realidade, no entanto, está bem distante das passarelas. No dia a dia, ao invés de salto alto, ela veste coturno. No lugar de saias e vestidos, uma farda. O olhar carrega a paixão por aquilo que a fez desistir de ser modelo: a carreira de policial militar.

Recém-formada pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB), Helena trocou uma possível vida 'glamourosa' pelo patrulhamento ostensivo. Em dezembro de 2014, ela começou a atuar como aspirante da PM em Franca (SP).

Recentemente, foi promovida a 2º tenente, e em hipótese alguma pensa deixar de seguir os passos do pai policial. "Meu pai fica muito orgulhoso de ver minha atuação. Ele me vê trabalhando e só chora, de emoção."

Sonho de ser PM
O desejo de entrar para a corporação acompanha Helena desde a infância, quando a bela ainda morava com os pais em Leme (SP). Foi por causa do pai, o major da PM Marcelo Rodrigues de Moraes, que ela tomou uma das mais importantes decisões da vida. "Sempre tive vontade de ser policial militar por causa do meu pai, que também é policial. Ele sempre falou disso para mim, me levava para o trabalho junto com ele. Desde pequena eu acompanho o trabalho dele", conta.

As influências do pai levaram Helena até mesmo a ter o basquete como paixão na adolescência.

Aos 13 anos, ela encarou a primeira grande mudança na vida, indo morar em Americana (SP) para integrar uma equipe. "Eu era muito alta desde criança, sempre gostei de esporte. Meu pai me falou sobre o basquete feminino de Americana, que era bom e que queria me levar para conhecer. Fui um dia, assisti a um treino e gostei", diz.

Na época, Helena viveu com outras 10 meninas em uma república. Além da disciplina adquirida nos treinos, ela encarou um esquema rígido no dia a dia. "Foi difícil. Eu era a mais nova que tinha na república. Muito fechada, muito tímida, não saía. A república era muito rígida, fechava às 20h e depois não podia sair mais. Minha vida era escola, treino e jogo. Só isso", lembra.

Helena ficou em Americana até 2009, ano em que terminou o ensino médio. Ao retornar a Leme, ela passou a se preparar para a prova da academia de polícia. "No primeiro ano que prestei a prova, não passei no teste psicológico. Na segunda vez, não consegui a classificação. Foi nesse intervalo que veio oconcurso de Miss, em 2011", diz.

Com 1,83 metro de altura e pouco mais de 62 quilos, a bela decidiu participar do concurso de beleza por incentivo da tia, Juliana Balduino, que é blogueira e maquiadora. "Eu fui para fazê-la feliz. Ela que me arrumou, e de tanto ela insistir eu fui. Foi o primeiro concurso de Miss que aconteceu em Leme. E aí eu ganhei."

Helena diz que a primeira reação ao vencer o título foi de surpresa. Apesar do porte de modelo, a jovem tinha feito poucos trabalhos fotográficos e desfiles até então. "Eu não era a mais bonita do concurso. Mas às vezes penso que a forma de me expressar e me relacionar bem acabaram me ajudando", relata.

A academia
No final de 2011, a jovem voltou a prestar as provas para a academia de polícia e, desta vez, conseguiu a tão sonhada vaga na Polícia Militar. A popularidade como Miss Leme atravessou os limites da cidade e, em 2012, já em São Paulo (SP) e no primeiro ano do curso, Helena era conhecida como "a Miss".

A instituição do Barro Branco funciona em regime de internato, sendo liberados às sextas-feiras para passar os fins de semana em casa. A folga, no entanto, pode ser cancelada, caso o aluno tenha anotações negativas de conduta. Foi aí que o título de Miss acabou abalando a jovem.

"Aluno pode anotar [ocorrências para] outro aluno. Tinha essa coisa de anotar se não prendesse o cabelo direito, se chegasse atrasado, se não passasse bem a farda. Eu era alvo na academia. Ali todo mundo sabia que eu tinha sido Miss. Era direto em mim, caneta todo dia. Aí eu não podia sair no final de semana. Cheguei a ficar dois meses sem voltar para casa", recorda.

Ainda naquele ano, veio o convite para participar do Miss São Paulo. Apesar do apoio do comando da academia, Helena decidiu não se inscrever no concurso.

"Fiquei com receio de isso me afetar negativamente na PM. Hoje eu vejo que não teria problema nenhum, mas como eu levei aquele choque quando cheguei, eu disse: não quero mais isso para a minha vida. Na época parei de usar maquiagem, de me arrumar. Eu parecia um homenzinho. Abandonei tudo mesmo. Como eu passei na academia, eu não voltei mais atrás. Preferi só pensar na carreira de policial", diz.

Com o passar do tempo, a jovem deixou de ser alvo de preconceito na academia. "Eles se deram conta de que não tinha nada a ver pensar que eu era uma patricinha e que eu não iria aguentar", afirma.

No final de 2014, Helena finalmente pode celebrar o sonho de se formar aspirante. Em um de seus primeiros desafios, ela escolheu atuar em Franca, na região de Ribeirão Preto. A fama da cidade do Franca Basquete, time 11 vezes campeão brasileiro, mexeu com as lembranças da Helena atleta.

Na rua
Agora tenente, Helena atua no Comando de Força Patrulha, atendendo ocorrências na rua. Até a função ela diz ter escolhido de acordo com o pai. "Eu gosto de rua, porque meu pai sempre foi policial de rua. Eu via aquilo e dizia: eu quero isso. Não sabia o que era policial administrativo, por exemplo. Não conhecia outras funções, fui conhecer dentro da academia. Mesmo assim, eu quis ir para a rua", afirma.

A policial diz que apesar dos índices baixos de criminalidade em relação a outras cidades, Franca (SP) é marcada pelo tráfico de drogas. O maior receio de Helena, no entanto, não é atuar no combate ao tráfico.

"O que me dá medo hoje em dia é explosão de caixa eletrônico. São pessoas muito bem treinadas, a gente não sabe de onde vem esse treinamento. E o armamento deles, na maioria das vezes, é mais potente que o nosso", explica.

Sobre o tratamento entre homens e mulheres dentro da corporação, a policial diz que não há diferenças. Na rua, ela também afirma que não é desrespeitada por civis, mas que é praticamente impossível não levar cantadas.

"O que tem é você passar pela rua e o homem mexer com você. Mas desrespeitar a ponto de enfrentar, nunca aconteceu. Tem bastante mulher atuando na rua hoje. E a questão da postura é tanto para o policial homem quanto para a mulher. Até homem, se chegar de corpo mole, vai vir gente para deitar e rolar em cima. Tem que ser firme, né? Tem que ter autoridade. É esse o papel do policial", conclui.





Fonte: G1

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