Sertanejos arriscam a vida nas estradas com muitas viagens Rotina exige dos cantores deslocamentos pelo país em condições nem sempre favoráveis
O acidente que resultou na morte do cantor Cristiano Araújo fez surgir um debate entre a classe artística, principalmente no que diz respeito ao segmento sertanejo: as agendas lotadas, os deslocamentos para realizar mais de um show por noite e a vida na estrada são fatores que impulsionam esse tipo de tragédia?
A questão foi levantada inicialmente pela dupla Henrique e Juliano, que fez um apelo emocionado ao mercado em um post no Instagram: "Tenhamos calma, meus colegas de trabalho. O acelerador da agenda de shows às vezes não tem limite de velocidade e o preço sai muito mais caro que o nosso cachê".
A crítica leva em consideração a agenda atribulada dos artistas na atualidade. Dentro do sertanejo, é normal que cantores em ascensão, como era o caso de Cristiano Araújo, tenham uma rotina com cerca de 20 eventos mensais, enquanto nomes consagrados priorizam um cotidiano menos puxado.
Para dar conta dessa demanda, algumas vezes são agendadas duas apresentações na mesma noite em cidades próximas para aproveitar a logística e diminuir os custos.
Aliada à agenda de divulgação em rádios e gravações em estúdio, a rotina de um artista exige deslocamentos em condições nem sempre seguras, confortáveis e ideais. Marrone, que já foi vítima de um acidente de helicóptero em 2011 e se ausentou dos shows por alguns meses, comenta que isso faz com que músicos se arrisquem até de forma inconsciente. À época, a assessoria da dupla fez um show na noite de 1º de maio em Curitiba. Marrone voltava para São Paulo para ver a filha, quando ocorreu o acidente.
— Estou muito triste com essa fatalidade. Nunca esperamos que vidas sejam interrompidas tão brutalmente. Nós, que estamos cada dia em um lugar, na estrada, arriscamos nossas vidas
Marrone passou por um acidente de helicópteroReprodução Record
Wagner Hildebrand, empresário do Grupo Tradição, que revelou o cantor Michel Teló, ressalta que é difícil mudar essa rotina inerente às carreiras artísticas. Mas alerta que medidas de segurança devem ser cumpridas pelas equipes que produzem shows.
— Vivemos nos deslocando de um show para o outro. Quando não estamos na estrada entre uma apresentação e outra, fazemos divulgação e muitas vezes estamos às 6h da manhã nas rádios ou emissoras de TV. A estrada é nossa casa. A vida do artista é essa. Mas a rotina não pode fazer com que a gente deixe a segurança de lado. É preciso antes de tudo valorizar a vida.
Wagner recorda que durante os 20 anos da banda, enfrentou acidente na estrada apenas uma vez. No final de 1996, o ônibus que transportava o Tradição da cidade sul-mato-grossensse de Três Lagoas para a capital Campo Grande perdeu a direção, capotou e se arrastou na pista por mais de cem metros. Felizmente, ninguém se machucou.
— Na intenção de ser pontual, muitas vezes o artista viaja na madrugada em vez de descansar. E isso aumenta as chances de uma tragédia, sem dúvida.
Para diminuir os riscos dos traslados, Maria Cecília, da dupla com Rodolfo, conta que a rotina da dupla hoje é bem melhor organizada do que no início da carreira, quando chegaram a fazer até 26 shows em um mesmo mês.
Maria Cecília e Rodolfo: "Melhor remédio para a voz é o sono"Francisco Cepeda/AgNews
— Como somos um casal, também nos preservamos mais. Se der para dormir na cidade, é sempre melhor. Até porque, descansar e não passar por situações de risco tem tudo a ver com a qualidade dos shows que apresentamos. Tocar duas vezes numa mesma noite nunca é o ideal. O melhor remédio para a voz do cantor é o sono, não tenha dúvida.
Agendas mais cheias dos sertanejos em julho
Henrique e Juliano - 18 shows
Eduardo Costa - 15 shows
Jads e Jadson - 20 Shows
Luan Santana - 16 shows
Gusttavo Lima - 16 shows
Jorge e Mateus - 16 shows
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