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Nacional
Sexta - 14 de Setembro de 2012 às 06:31
Por: Pablo Rebello

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O médico Alexandre Azevedo, que fez a cirurgia do operário Francisco Bento Barroso, de 47 anos, que teve um vergalhão atravessado no pescoço, disse que a maior dificuldade da operação foi conseguir isolar os vasos sanguíneos para evitar uma hemorragia durante a retirada da barra de metal. Segundo o Hospital Miguel Couto, a posição do objeto, que saía pela nuca do paciente, impediu uma radiografia, e Franscisco foi levado logo para o centro cirúrgico.

— O ferro não atingiu qualquer artéria importante, mas chegou a encostar na veia jugular e passou a dois centímetros da carótida — detalhou Azevedo, que se formou em 1988 e trabalha na emergência do Miguel Couto desde 97.

O médico disse que o paciente teve muita sorte de a peça de ferro ter esmagado nervos e artérias menores, uma vez que o pescoço é uma área complexa e de difícil reparo no corpo humano, por reunir uma série de órgãos importantes: parte da coluna vertebral, traqueia, esôfago, além das veias jugular e carótida. A cirurgia durou duas horas.

O paciente, que ainda não tem previsão de alta, está consciente na Unidade de Terapia Semi-Intensiva. Devido aos ferimentos, Francisco pode sofrer neuropraxia — perda da sensibilidade da face e da boca. O cirurgião ressaltou, no entanto, que o problema pode ser temporário. Nos próximos dois dias, o paciente também corre risco de infecções e de uma trombose secundária da artéria carótida.

Operário fumava quando caiu de laje

O diretor do Miguel Couto, Luiz Alexandre Essinger, conversou com o paciente após a cirurgia e pegou detalhes do acidente. Francisco contou ao médico que fumava um cigarro na beira da laje quando deu uma cochilada, perdeu o equilíbrio e caiu. Lembrando-se de outro acidente semelhante — em agosto, o operário Eduardo Leite Costa foi operado na unidade de saúde, por outro cirurgião, após ter o crânio atravessado por um vergalhão numa obra em Botafogo —, Essinger comentou que o caso confirma uma “lenda médica”:

— Na medicina, a gente tem o conhecimento de que doenças ou lesões raras costumam vir em pares. Quando uma se apresenta, em questão de dias, semanas ou poucos meses, outro caso semelhante ocorre.

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ) vistoriou na quinta-feira a obra na Ladeira dos Tabajaras, na altura do número 621, onde Francisco trabalhava, e constatou que a construção é irregular. Também descobriu que não existe placa no local com indicação do engenheiro responsável, que a obra não segue as medidas de segurança necessárias, que as instalações elétricas não estão adequadamente cobertas e que os vergalhões apresentam risco por não estarem com as pontas cobertas.

A comerciante Aparecida Borges, de 57 anos, alega ter comprado os terrenos no local há cinco meses. Segundo ela, há pelo menos três meses começaram várias obras na área sem a sua autorização. Ainda de acordo com a comerciante, outra pessoa tomou posse do lugar dizendo ter comprado a terra de um antigo líder comunitário da Tabajaras. Aparecida disse que já está movendo um processo judicial para retomar os terrenos e que espera a derrubada das estruturas levantadas até o momento.

O delegado Márcio Mendonça, da 12ª DP (Copacabana), disse que, até o momento, só instaurou inquérito sobre a lesão corporal sofrida por Francisco:

— Há uma discussão entre duas pessoas em relação à posse dos terrenos. Isso precisa ser solucionado judicialmente. O que vamos verificar é se houve omissão de alguém no acidente.

“Obrigado, você me salvou”

O pedreiro Ronaldo Gonçalves de Lima, de 36 anos, se preparava para almoçar quando ouviu um pedido de socorro. Na obra ao lado daquela onde ele trabalhava, em Copacabana, estava Francisco, caído com um vergalhão atravessado no pescoço. Ronaldo correu para pegar uma lixadeira e desceu para ajudar. O pedreiro contou com a ajuda do filho, Lucas Mendes de Lima, de 16 anos, para cortar o vergalhão. O acidente ocorreu por volta das 12h30m da quarta-feira.

— Nunca tinha visto nada igual. O mais importante era salvar a vida dele. Era só nisso que a gente pensava — disse o pedreiro, que conseguiu cortar um pedaço da peça de ferro em cada uma das pontas.

De acordo com Ronaldo e Lucas, Francisco estava muito nervoso e, durante todo o tempo em que aguardou pelo socorro, tentava arrancar o vergalhão do pescoço, sendo impedido pelas pessoas que estavam ao seu redor.

— Ele ficava repetindo: “Moço, me tira daqui. Tira esse ferro do meu pescoço”. Ele estava muito assustado — contou Lucas.

Na tarde de quinta-feira, Francisco recebeu a visita de Ronaldo no hospital. O pedreiro contou que os dois apertaram as mãos e Francisco agradeceu.

— Ele me disse: “Obrigado, você me salvou” — lembrou Ronaldo.





Fonte: O Globo

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