SP: bispo nega que tenha dado dinheiro a suposto amante
O bispo de São José do Rio Preto (SP), Dom Tomé Ferreira da Silva, negou nesta quinta-feira (25) as denúncias de que teria sacado um alto valor em dinheiro da conta da diocese e entregue ao seu motorista, com quem teria um relacionamento amoroso. Segundo o bispo, as acusações são boatos relatados em carta enviada por desconhecidos ao Vaticano, que por sua vez, determinou ao arcebispo de São Paulo, cardeal Dom Odilo Scherer, que apurasse o assunto.A explicação de Dom Tomé foi dada durante cerca de 40 minutos em que falou em encontro que reuniu aproximadamente 100 padres na Casa do Clero, em São José do Rio Preto. A reunião foi programada para que o bispo explicasse sua conduta diretamente aos 120 padres da diocese, que foram convidados, mas nem todos compareceram. A reunião foi decidida depois que integrantes do Conselho de Presbíteros - a quem o bispo já tinha negado as denúncias - não aceitaram assinar uma carta de apoio a ele e o sugeriram que desse as explicações diretamente a todos sacerdotes.
O encontro durou menos de uma hora e apenas os padres e o bispo participaram. O sigilo que já havia sido pedido pelo bispo aos padres auxiliares, foi mantido pela maioria dos padres, que ao saírem não comentaram o tema da reunião. No final da tarde, ouvidos pela reportagem, alguns deles disseram que as explicações do bispo não foram aceitas pela totalidade dos presentes no encontro. “Ele (bispo) nos pediu sigilo nessa questão e para que mantivéssemos nosso foco em nossas obrigações cotidianos porque esse assunto já está explicado aos superiores”, disse um padre, sob compromisso de anonimato.
De acordo com ele, “o bispo está tentando manter sua unidade dentro da Diocese, mas não sabemos até quando ele vai aguentar, porque sabemos que ele enfrenta muitas resistências”, comentou um dos padres. A unidade é um dos pilares do bom andamento das atividades da Igreja e sem ela dificilmente um líder religioso é mantido em seu posto. No entanto, segundo as fontes, até agora ninguém comentou a possibilidade de dom Tomé ser punido com a transferência de Diocese pela cúpula da Igreja.
Além da repercussão negativa provocada pelas denúncias, o bispo enfrenta resistência entre fieis e padres. Um abaixo-assinado enviado por um grupo de fiéis ao Vaticano denunciou o bispo por perseguir padres e não apurar denúncias de abuso com o dinheiro da Igreja. Segundo o abaixo-assinado, que também teria sido enviado à Nunciatura Apostólica em Brasília, um padre teria comprado, desnecessariamente, um carro zero por R$ 60 mil e uma casa de R$ 450 mil. Outras fontes atribuem a denúncia a um padre, transferido de Rio Preto depois que ex-secretárias da paroquia o denunciaram de assédio sexual. Revoltado, esse padre teria denunciado o bispo aos superiores.
Dom Tomé, no entanto, alega que as denúncias são boatos enviados em carta anônima ao Vaticano. Uma fonte do bispado atribuiu os comentários a colaboradores da Igreja, insatisfeitos com as mudanças feitas por dom Tomé na estrutura da Diocese.
“Ele (bispo) ficou preocupado com o tamanho da Cáritas Diocesana, que em Rio Preto mantém muitos convênios e da qual cerca de 600 pessoas dependem”, disse a fonte, segundo a qual grupos insatisfeitos denunciaram o bispo em retaliação às mudanças. “O bispo também mudou a estrutura responsável pelas finanças e passou a exigir uma administração com recibos e notas fiscais obrigatórias de compras e serviços, o que também incomodou muita gente”, completou a fonte.
O fato é que as denúncias teriam revoltado o papa Francisco, cujo papado começa a ser marcado pela simplicidade e pela transparência. O papa então teria determinado ao arcebispo de São Paulo, cardeal Dom Odílio Scherer, que apurasse o caso. Scherer esteve em Rio Preto, onde colheu depoimentos do bispo, do ex-motorista, de testemunhas e de padres e ainda conversou com o gerente da agência onde a Diocese mantém conta corrente.
Fontes próximas ao bispo dizem, porém, que o caso está sendo apurado informalmente, sem qualquer procedimento oficial; outras fontes disseram que o caso está sendo apurado em sindicância aberta por determinação do Vaticano.
Em nota, a assessoria de Scherer disse que ele não comentaria o assunto e que a visita a dom Tomé foi “fraterna e privada”. “Na ocasião, (Scherer) também conversou com outras pessoas sobre a Diocese”, diz nota.
A reportagem repassou por e-mail a assessoria do bispo, que não quis conversar com a reportagem e nem respondeu às perguntas até o encerramento da reportagem.
Nesta quinta-feira, 25, assessores do bispo divulgaram a seguinte nota:
"As instituições, de um modo geral, estão sendo cada vez mais questionadas e, principalmente, as atitudes de seus líderes, como é o nosso caso.
Como os discípulos, no Evangelho São Lucas, seguem para a missão em Jerusalém e depois para o mundo, hoje, nós nos reunimos para, frente aos rumores veiculados, não perder o foco de nossa missão: levar o conforto aos necessitados nas inúmeras instituições que mantemos e presidir incontáveis sacramentos que celebramos levando a Palavra de Deus e a Comunhão.
Seguimos anunciando, por que conhecemos aquele que é o Caminho, a Verdade, e a Vida, Jesus Cristo, nosso Pastor e Guia. "
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