A primeira impressão ao entrar no Hyundai HB20 é de um carro bem acabado. Não há luxos, claro, mas a forração de tecido está presente em grande parte das laterais de porta, as peças plásticas se encaixam com precisão e não encontramos rebarbas - o que já é um alento nessa faixa de preço. Os bancos trazem tecido de qualidade na média da categoria, com destaque para o assento do motorista, que traz uma gavetinha sob ele. Ruim é que o ajuste de altura, por roldana, só eleva a parte dianteira do assento. Os comandos estão bem distribuídos e são fáceis de acessar, mas algumas comodidades só são encontradas nas versões mais caras. É o caso do ajuste de altura e prefundidade da direção, dos retrovisores elétricos e do sistema de som com CD/MP3 player e entrada USB no painel. Vale lembrar que, ao adquirir o rádio, você leva também os botões para comandar o áudio no volante. O computador de bordo é de série em todos os modelos, acessado pelo botão "trip" no próprio painel.
O belo quadro de instrumentos chama a atenção. Além de ser muito parecido com o do Elantra (com "copinhos" em volta do velocímetro e conta-giros), ele oferece iluminação constante (na cor azul), independentemente dos faróis estarem ligados. O volante de quatro raios tem boa pegada e os comandos dos vidros elétricos estão bem localizados na porta. Pena que somente o do motorista tenha função "um toque", e que não exista iluminação noturna dos botões. Aliás, a versão topo de linha tem o sugestivo nome "Premium", indicando que o HB pode adentrar a serada dos compactos mais refinados, como New Fiesta, Punto e C3. Para tanto, porém, faltam itens como ar digital, teto solar, retrovisor eletrocrômico, entre outros equipamentos.
Em termos de espaço, o HB20 segue o padrão do segmento. É bom na frente, nem tanto atrás. Apesar da boa distância entre-eixos (2,50 m), quem viajar no banco traseiro e tiver mais de 1,75 m vai raspar os joelhos no encosto da frente. Mas a Hyundai foi inteligente e deixou o assento baixo, priorizando o espaço para a cabeça. Assim, mesmo os mais altos não precisarão se sentar curvados para a frente. Já o porta-malas, de declarados 300 litros, é um pouco maior que o de Gol e Palio (285 l e 292 l, segundo medições de Autoesporte) e agrada por não ter muitas reentrâncias no compartimento. A maçaneta externa fica rente ao para-choque. E o tanque de combustível é aberto por uma alavanquinha interna.
Na pista com o 1.0
Impossível não lembrar do Picanto ao dirigir o HB "mil". Equipado com o mesmo motor Kappa 1.0 12 válvulas do Kia, o Hyundai tem funcionamento e respostas muito semelhantes. Trata-se de um motor inovador (ao menos no Brasil), de apenas três cilindros e duplo comando de válvulas variável. A vibração típica de blocos desse tipo é bem atenuada com o uso de um coxim respeitável. O motorista só vai perceber essa vibração em marcha lenta, parado no semáforo. Fora isso, o ruído de funcionamento é bem diferente dos quatro cilindros, mas o ronquinho é até agradável de ouvir. O Kappa ganha rotação com facilidade e oferece boa dose de torque (10,2 kgfm) para o dia a dia. A potência de 80 cv também supera a dos principais rivais. E o resultado é um carro agradável de conduzir, sem déficit de força aparente como no Palio 1.0, por exemplo. O desempenho nas saídas é também mais esperto que o do Gol, deixando o HB em posição confortável nesse quesito. O consumo não foi divulgado pela marca, mas deve ficar em níveis próximos aos do Picanto, em torno de 9 km/l na cidade e 12 km/l na estrada, com etanol.
Ajuda na boa dirigibilidade o câmbio de engates macios e curtinhos (lembra o do Gol) e a direção hidráulica bastante leve, que chega a parecer um sistema elétrico. Já a suspensão foi calibrada entre a maciez do Palio e a firmeza do Gol, com acerto um pouco mais voltado para o VW. Ficou bom: absorve os buracos com competência (o que era a prioridade da Hyundai) sem descuidar da estabilidade. Não chega a ter a precisão do VW quando se entra mais rápido nas curvas, mas os movimentos da carroceria são bem contidos. No limite, é um carro fácil de controlar. Ressalva feita apenas para os freios, já que o pedal é um tanto sensível.
A hora do 1.6
A primeira intimada nos 128 cv do motor Gamma já deixa claro que o HB20 1.6 16V vem para liderar a categoria em termos de desempenho. Trata-se da mesma unidade que equipa o Kia Soul, com bons 16,5 kgfm de torque. É força mais que suficiente para proporcionar acelerações animadas ao hatch compacto (a marca fala em 9,3 s de 0 a 100 km/h). O motor funciona "liso", sobe de giro rápido e é gostoso de trabalhar em altas rotações. O câmbio é diferente do 1.0 (aqui a ré é para frente, no "mil" para trás), mas o entages são tão precisos e suaves quanto os da versão mais barata.
O resultado é um conjunto com performance quase esportiva. Acho até que a Hyundai foi conservadora na escolha do calçado do HB20, já que o máximo oferecido são rodas aro 15 com pneus 185/60. Não que falte estabilidade ao hatch, mas certamente um jogo aro 16 com pneus 195/50 como os do Gol topo de linha deixariam a dirigibilidade mais afiada, ainda que comprometessem um pouco o conforto. Também não foram informados dados de consumo dessa versão.
Todo HB20 1.6 vem com freios ABS de série. Ainda assim, os freios poderiam ter mais "mordida". E, como acontece no 1.0, o pedal é muito sensível e difícil de modular.
1.6 automático
Como dissemos nas outras vezes que tivemos contato com o HB, o câmbio automático de apenas quatro marchas não compromete, mas é limitado para o ótimo motor que trabalha em parceria com ele. A aceleração de 0 a 100 km/h fica em bons 11,0 s, de acordo com a marca. O que pega são as retomadas, já que a transmissão fica um pouco indecisa sobre qual marcha usar e perde um tempo precioso numa ultrapassagem, por exemplo. Também há escassez de recursos, já que não é possível fazer trocas manuais ou desativar a quarta marcha (pelo botão overdrive off oferecido em alguns automáticos). O máximo que você pode fazer é reduzir a marcha pelo próprio trilho da alavanca.
De todo modo, é um câmbio de trocas suaves, que proporciona mais conforto que os automatizados de Gol e Palio. A Hyundai diz que não optou pela nova transmissão de seis marchas (que equipa os Kia Soul e Cerato), por questões de custo. Mas vale lembrar que vem aí o Chevrolet Onix com câmbio automático de seis velocidades.
Comentários