Marcelo Odebrecht diz à PF que bilhete não pedia destruição de prova
Marcelo Odebrecht, preso durante a 14ª fase da Operação Lava Jato, afirmou em depoimento na Polícia Federal, nesta sexta-feira (17), que o bilhete com a mensagem "destruir e-mail sondas" não visava orientar os advogados dele a eliminar provas da Operação Lava Jato.
A informação foi confirmada pela advogada deOdebrecht, Dora Cavalcanti. A Polícia Federal não comentou o depoimento.
Odebrecht é suspeito de participar de fraudes na Petrobras, que alimentaram um esquema de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro bilionário na estatal por meio de manipulação de licitações.
Ele foi preso, no dia 19 de junho, quando foi deflagrada a 14ª fase da Operação Lava Jato.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal, a Odebrecht tinha um esquema sofisticado de corrupção, com pagamento de propina a diretores da estatal por meio de contas bancárias no exterio. Para a Justiça, o e-mail mencionado no bilhete é uma prova do envolvimento da Odebrecht.
Esta foi a primeira vez que o executivo falou à Polícia Federal. A oitiva deveria ter ocorrido na quinta-feira (16), porém, a advogada Dora Cavalcanti, que representa Odebrecht, não pode acompanhar o depoimento, e o interrogatório foi adiado. Isso porque ela era uma das destinatárias do bilhete.
Cavalcanti não acompanhou o depoimento desta manhã, porém, com base no relato de um colega que esteve presente, falou sobre o interrogatório. “O depoimento dele foi excelente. Uma vez mais ele foi claríssimo que aquela anotação 'destruir e-mail' nada mais era do aniquilar o conteúdo do email, resgatando o seu histórico, e aquele e-mail que já estava em poder da polícia desde a fase ocorrida em novembro".
Esta justificativa tem sido adotada pela equipe de defesa do executivo desde que o bilhete se tornou público. De acordo com os advogados, Odebrecht teve a oportunidade de ler o mandado de prisão expedido contra ele e fez considerações para auxiliar os juristas na elaboração do pedido de habeas corpus.
A advogada considera que, com os esclarecimentos desta manhã, este episódio envolvendo o bilhete tenha sido encerrado.
Segundo interrogatório
Está previsto para esta tarde mais um depoimento envolvendo a Odebrecht. A programação é para que a Polícia Federal interrogue além de Marcelo Odebrecht, os presos Márcio Faria da Silva, Alexandrino de Salles Ramos de Alencar e César Ramos Rocha - também presos durante a 14ª fase da Operação Lava Jato suspeito de participarem de pagamento de propinas.
Entretanto, a advogada Dora Cavalcanti adiantou que todos devem ficar calados, ou seja, não responderão aos questionamentos dos agentes. A orientação foi protocolada junto ao inquérito envolvendo a empresa.
"Enquanto os peticionários estavam soltos, esse respeitável Departamento de Polícia Federal do Paraná ignorou solenemente seu propósito de esclarecer os fatos, e não se dignou a marcar um único depoimento de nenhum dos quatro", diz trecho da petição.
Para a Cavalcanti, a Polícia Federal se aproveita do constrangimento inerente à prisão cautelar. "Eis que agora, com os peticionários presos há quase um mês e no apagar das luzes do inquérito, subitamente surge o interesse em ouvi-los no último dia do prazo de encerramento da investigação".
O prazo para a Polícia Federal concluir o inquérito foi prorrogado, sendo sábado (18) a data final.
O bilhete
O e-mail citado no bilhete é considerado pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, uma prova da participação da Odebrecht no cartel montado pelas empresas prestadoras de serviços à Petrobras.
A mensagem foi enviada por Roberto Prisco Ramos – ex-funcionário da Braskem, braço petroquímico da Odebrecht – para Odebrecht e executivos. No documento, é feita referência à colocação de sobrepreço de até U$S 25 mil por dia a um contrato de operação de sondas, o que, segundo Moro, está relacionado a contratos da empresa com a Petrobras.
Prisco Ramos ainda faz uma ressalva quanto ao envolvimento da UTC e da OAS, “para que eles não venham a se tornar futuros concorrentes na área de afretamento e operação de sondas”.
À época, em nota, a Braskem informou que Roberto Prisco Ramos já não era funcionário da Braskem quando enviou o email, tendo sido transferido no ano anterior para outra empresa do Grupo Odebrecht. Informou ainda que o conteúdo da mensagem, inclusive a operação de sondas, não tem relação com qualquer atividade da Braskem.
14ª fase da Lava Jato
As empreiteiras alvo desta fase da Lava Jato foram a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), as empresas tinham esquema "sofisticado" de corrupção ligado à Petrobras, com depósitos no exterior.
O delegado Igor Romário de Paula afirmou que há indícios bem concretos, com documentos, de que os presidentes das empresas tinham "domínio completo" de atos que levaram à formação de cartel e fraude em licitações, além de pagamento de propinas.
Como a prisão de Marcelo Odebrecht é em caráter preventivo, não há data para que ele venha a responder às acusações em liberdade. Também não há uma denúncia formal contra o executivo.
A prisão preventiva difere da temporária, que tem prazo de cinco dias para ser encerrada, podendo ser prorrogada por outros cinco dias. Normalmente, a prisão preventiva é considerada quando o suspeito tem a possibilidade de interferir no andamento das investigações.
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