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Nacional
Quinta - 23 de Julho de 2015 às 21:11

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Foto: (Foto: reprodução / TV Globo)

Wagner, sobrevivente da chacina, fez o retrato falado de um dos suspeitos ainda no hospital, onde também concedeu entrevista

Wagner, sobrevivente da chacina, fez o retrato falado de um dos suspeitos ainda no hospital, onde também concedeu entrevista

Há 22 anos, na madrugada de 23 de julho de 1993, mais de 40 crianças e adolescentes dormiam nos arredores da Igreja da Candelária, no Centro do Rio, quando homens armados abriram fogo, promovendo um massacre que chocou o mundo. Mais de duas décadas depois, um dos sobreviventes da chacina que deixou oito mortos ainda tem pesadelos com a lembrança daqueles momentos de horror. Foi o que contou a irmã dele em entrevista ao G1 (veja no vídeo acima).


Wagner dos Santos tinha 21 anos quando foi acordado e obrigado a entrar num carro, dentro do qual foi baleado quatro vezes junto a outros dois rapazes que dormiam próximo a Candelária. Os três foram abandonados próximo ao Museu de Arte Moderna, o MAM, no Aterro do Flamengo. Dos três, somente ele sobreviveu e foi o seu relato que garantiu a identificação e prisão de quatro envolvidos no crime, três deles policiais militares.

“O relato mais difícil dele é de quando acordou no MAM. Os outros dois meninos estavam mortos e ele achou que estava morto também. Um dos quatro tiros entrou na nuca dele e saiu pelo olho”, conta Patrícia de Oliveira da Silva, de 41 anos, irmã de Wagner.

Quase um ano depois de sobreviver ao ataque, Wagner sofreu um outro atentado no qual foi atingido mais uma vez por quatro tiros e resistiu novamente. Em outubro de 1995, o sobrevivente pediu proteção ao então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, para prestar novos depoimentos sobre o caso. Ele se mudou para Suiça e vinha ao Brasil para participar dos julgamentos dos acusados. Segundo Patrícia, ele continua morando na Europa, mas até hoje não conseguiu se livrar das lembranças daquele passado no Rio de Janeiro.

“Ele tem pesadelos até hoje. Toda vez que está próximo da época da chacina ele relembra, conta como é que foi. É uma coisa que ele não esquece. E nem tem como esquecer, porque ele ficou com várias sequelas. Ele é cego de uma vista, ele é surdo, então isso ele jamais ele vai esquecer”, ressalta Patrícia.

‘Ele não guarda rancor’
Ainda no hospital se recuperando dos ferimentos provocados pelos tiros, Wagner conseguiu fazer o retrato falado de um dos envolvidos na chacina. Os investigadores chegaram então a outros três homens. Três deles eram PMs da ativa. O quarto, Maurício da Conceição, conhecido pelo apelido de Sexta-Feira Treze, já havia sido expulso da corporação.

Segundo as investigações, a chacina foi uma represália à ação de meninos de rua que estavam em frente a Candelária quando um companheiro deles foi detido por policiais militares na tarde anterior à madrugada do massacre. Os garotos quebraram o vidro da a viatura policial com uma pedra, ferindo levemente um dos militares.

Maurício da Conceição foi morto durante o processo judicial. Os outros três, Nelson Oliveira dos Santos Cunha, Marcus Vinícius Emmanuel Borges e Marco Aurélio Dias de Alcântara, foram condenados, cada um, a penas que somavam mais de 200 anos de prisão. Todos foram soltos antes de cumprirem 20 anos de reclusão beneficados pela progressão de regime.

Segundo Patrícia Silva, irmã de Wagner, o sobrevivente não sente remorso pela soltura de seus três algozes. “Ele [Wagner] não guarda rancor. Se você conhecer o sistema prisional, você vai entender o que eles [os ex-policiais condenados] passaram lá. Eles pagaram por uma coisa que não foram só eles que cometeram, tinha outras pessoas envolvidas. Mas, no Brasil, as vezes, para dar um exemplo mais rápido, só algumas pessoas pagam. Mas eles pagaram. Não passaram noites de luxo no presídio não”, disse.

Militância
A irmã de Wagner virou militante e ativista em defesa das vítimas de violência. Ela afirma que lutar contra a redução da maioridade penal é hoje a sua principal causa. “A população pede chacinas, principalmente quando não são com seus filhos. Se está morrendo na mão da polícia é porque alguma coisa errada estava fazendo. Até depois descobrir que não é isso. A nossa sociedade fala isso. As nossas autoridades têm esse discurso de violência, de criminalização, por isso que se morre, se mata e se prende tanto no Brasil”.

A pedagoga Fátima Silva, de 50 anos, já era militante quando ocorreu a chacina da Candelária. Na manhã daquele 23 de julho de 1993, ela saiu da Baixada Fluminense para conferir se um dos meninos acolhidos pelo projeto no qual atuava estava entre as vítimas. “Eu cheguei aqui, vi o rabecão, vi vários policiais e eu pedi a polícia para que eu pudesse ver os meninos. Fui de corpo em corpo para ver se um deles era o Joilson. Mas ele não estava entre as vítimas”, lembra.

Uma semana depois do massacre, Fátima ajudou a fundar o Movimento Candelária Nunca Mais. “O grupo foi criado a partir da missa de sétimo dia dos meninos. Dom Eugênio Sales [então Arcebispo do Rio] fez um pedido durante a missa para que enquanto houvesse criança sendo morta pela violência que a gente não parasse de lembrar esta data. Aquilo entrou no nosso coração como um grito mesmo, e não nos calamos desde então”, disse.

Lista dos mortos
Confira os nomes dos mortos na chacina da Candelária:

Paulo Roberto de Oliveira, 11 anos
Anderson de Oliveira Pereira, 13 anos
Marcelo Cândido de Jesus, 14 anos
Valdevino Miguel de Almeida, 14 anos
"Gambazinho", 17 anos
Leandro Santos da Conceição, 17 anos
Paulo José da Silva, 18 anos
Marcos Antônio Alves da Silva, 19 anos





Fonte: G1

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