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Sexta - 07 de Agosto de 2015 às 11:55

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Foto: (Foto: Divulgação)

Capa do livro de Thammy Miranda

Capa do livro de Thammy Miranda

Uma pessoa que sempre teve a certeza do que era, do que sentia e o que queria mostrar ao mundo. É assim que a autora Marcia Zanelatto descreve Thammy Miranda, de quem escreveu a biografia intitulada “Nadando contra a corrente” que vai ser lançada pela editora Record na Bienal do Livro, no dia 7 de setembro. Marcia, autora de trabalhos mais ligados ao teatro, conta que estranhou ao receber a ligação de Thammy há dois anos para que ela escrevesse sua história.

“Fiquei pensando o que uma pessoa de 32 anos pode ter de tão importante para contar”, lembra ela, aos risos. Ao topar conversar melhor, Marcia descobriu alguém com muita certeza de sua sexualidade, no início do processo de sua transexualização (virando transgênero) e hesitando apenas no que dizia respeito a sua família.

“Thammy sempre disse que o pior foi assumir a homossexualidade. Imagina você ser linda, com aqueles olhos, ótima dançarina e herdeira natural de Gretchen? Ele e a mãe passaram por momentos bem ruins, envolvendo até agressão, mas superaram. Quando decidiu retirar os seios, era a decisão de um adulto que demorou muito a chegar neste lugar”, conta a autora, que sempre se refere ao seu biografado no masculino.

Marcia conta ainda que durante um tempo Thammy pensou deixar o país, ir morar em um lugar em que ninguém a conhecesse. “Ele sempre viveu em uma espécie de ‘Show de Truman’ (filme em que todos os passos do personagem de Jim Carrey são seguidos). Queria apenas viver a vida dele, assumir sua homossexualidade, sem que ninguém o apontasse na rua”, diz a autora que considera o livro e o relato de Thammy algo político e libertador para todos que estão neste processo.
Medo de agulha e de deixar de sentir prazer
A autora da biografia de Thammy conta ainda que a decisão de se submeter a uma mamoplastia se deu por causa da incoerência da mente masculina com o corpo feminino, e também por causa do calor.

“Ele usava faixas para segurar os seios, para apertar e não ficar balançando (risos). Só que aquilo esquenta, aperta. Ele contava que morria de calor e não sentia prazer nos mamilos. Aí resolveu tirar. Aliás, Thammy é um homem bem clássico em suas preferências. Não gosta de nada inusitado”, conta Marcia, acrescentando que não houve nenhum problema para comunicar esse tipo de cirurgia à família.

“Neste momento, ele só teve que enfrentar o medo da agulha mesmo. Ele morre de medo de agulha”, entrega a autora.

E por que não concluir o processo de transexualização com a colocação de um pênis? A autora diz que também foi atrás dessa questão, e que Thammy não quis se submeter a uma faloplastia por medo da dor (a cirurgia de transformação da vagina em um pênis é bastante dolorosa e envolve vários processos) e por medo de deixar de sentir prazer.
“Teria que retirar útero, óvarios, costurar os grandes lábios vaginais e ainda correria o risco de deixar de sentir prazer. E tudo isso para quê? Para ter um pau? Como ele mesmo diz brincando, pau a gente compra”, completa a autora: “Sou uma pessoa melhor depois que ajudei Thammy a mostrar seu coração para o mundo, a promover o diálogo entres os diferentes. Ele só quer o direito de ser respeitado publicamente”.

Leia trecho exclusivo do livro
Um dia, Thammy foi com sua mãe ao ginecologista. Consulta de rotina. Gretchen pegou seus resultados, tudo bem. Chegou a vez de Thammy, e Gretchen entrou junto com ela na sala de exames. Thammy deitou-se naquela posição conhecida das mulheres. Mal o médico começou, parou:

— Eu não posso continuar o exame da sua filha.

Gretchen se espantou. Achou que se tratasse de alguma doença grave. O médico logo a tranquilizou:

— Não, não tem nada demais — disse ele já tirando o jaleco. — Não posso fazer o exame porque ela é virgem.

Cinco segundos de silêncio, e Gretchen caiu no choro. O médico ficou absolutamente sem graça. Aquela reação normalmente acontecia pelo motivo contrário.

— Desculpem, eu não sabia que era um segredo.

E não era mesmo. Thammy já havia falado para a mãe que era virgem, mas Gretchen não acreditava. Achava que era pudor da filha. Doce ilusão.

— Eu sempre te disse que não ia transar com homem — Thammy respondeu para a mãe.
O médico, passado. Gretchen, em lágrimas e já irritada, devolveu:

— Thammy, pelo menos experimenta! Se nunca experimentar, como vai saber se gosta ou não?

Thammy manteve a calma. Sempre foi seu forte conseguir pensar rápido:

— Mãe, me diz uma coisa. Pra você saber que não gosta de mulher, precisou experimentar?

— Claro que não! Que absurdo!

— É a mesma coisa. Não sinto vontade, não tenho desejo, não preciso experimentar pra saber que não gosto!

A cena certamente ainda está na memória do médico.





Fonte: EGO

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