Menos de 24 horas após participar de um plano frustrado de fuga da cadeia pública de Uraí, a 419 km de Curitiba (PR), o detento Leandro Martins da Silva, o Risadinha, acessou, do presídio, seu perfil em uma rede social na internet para postar uma mensagem desejando "boa noite a todos".
A mensagem foi postada às 21h42 de segunda-feira. Na madrugada anterior, às 3h30, alertados por vizinhos, policiais militares conseguiram evitar que 61 presos fugissem da cadeia por um túnel de aproximadamente 30 m de extensão.
Preso em março deste ano sob a acusação de tráfico de drogas e corrupção de menores, Risadinha acessa regularmente seu perfil no Facebook. Desde agosto ele posta fotos onde aparece ao lado de companheiros ou em poses no interior da cela, decorada com o escudo do Corinthians.
O preso também escreve mensagens revelando intenção de deixar o local. "Vou sumir deste lugar, quero ir bem longe e ficar "de boa"", escreveu ele em uma das postagens. Com livre acesso ao uso do telefone, ele informa a uma das 89 pessoas adicionadas em seu perfil que "quando der nóis liga aí para falar com vocês certo (sic)". O detento também usa a rede para filosofar sobre a vida na cadeia. "Só quem conhece o frio da cadeia dá valor ao calor da liberdade", escreveu ele. A vida criminosa também é motivo de reflexão. "Amo a vida, mas a morte me namora", postou.
Fuga pelo banheiro
Na madrugada do último domingo, o aposentado Edson Campos foi acordado por sua mulher, Cleide Campos, às 3h30. Cleide, que havia se levantado para ministrar a medicação de uma das filhas do casal, ficou desesperada ao ouvir os sons de batidas no piso do banheiro. O casal, que mora ao lado da delegacia de Uraí, chamou a Polícia Militar.
Os policiais descobriram que os presos haviam cavado um túnel entre a delegacia e a residência do casal. Por erro de cálculo, a saída ocorreria no banheiro da casa da família. Ao desconfiarem da presença da polícia, os detentos abandonaram o túnel e retornaram para as celas.
Preocupado com a segurança, o aposentado pretende se mudar do local. "Tenho duas filhas pequenas e recebi um transplante de coração há menos de seis meses. Não posso continuar aqui, não tem segurança nenhuma", disse ele.
Superlotação
Adaptada em um imóvel que anteriormente era uma residência, a cadeia de Uraí tem espaço para 12 presos, mas abriga atualmente 61 detentos. Deste total, 32 são condenados pela Justiça. De acordo com o delegado Adair de Oliveira, que assumiu a delegacia há uma semana, "os presos só não fogem se não quiserem". O delegado disse que é possível fazer furos nas celas "até mesmo com uma caneta". Quatro investigadores se revezam em turnos individuais para guarda dos presos, além de atender outras ocorrências. "Mas não há o que fazer, não há vagas no sistema para transferência", afirma.
O delegado disse que na manhã de segunda policiais realizaram uma operação pente-fino nas celas e encontraram quatro celulares além de barras de ferro, utilizadas para cavar o túnel. Ele informou que abriu um inquérito para apurar o caso, proibiu visitas pelo período de 30 dias e vai aumentar o rigor na fiscalização de entrega de comida destinada aos presos.
A Secretaria de Segurança do Paraná informou em nota que "o governo do Paraná tem um objetivo claro de mudar esse quadro de custódia indevida de detentos em delegacias". O texto informa que "a migração dos presos para as unidades prisionais sob responsabilidade da secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos é gradual e depende da abertura de vagas no sistema." A nota registra que até o final de 2013 os presos de 29 carceragens geridas pela Secretaria da Segurança serão transferidos.
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