Quer abrir um pequeno negócio e tem poucos recursos? Veja 6 dicas Especialista recomenda analisar o tamanho do investimento pretendido. Irmãs que criaram negócio de bolos e iniciante no setor contam seus relatos.
“Faz três meses que eu comecei. É só uma renda extra por enquanto, mas a minha intenção é tornar isso um negócio mesmo.” A vontade de Flora Gomes, que trabalha em uma empresa de engenharia e recentemente começou a complementar a renda vendendo bolos, é ficar só com a segunda ocupação. Para fazer isso, ela está enfrentando a fase de adaptação e buscando entender como transformar esse desejo em negócio.
Empreender com poucos recursos é um desafio para muitas pessoas que pensam em trocar um emprego fixo pelo próprio negócio, mas não sabem como começar. As irmãs Ana Paula Soares e Renata de Faria Soares também passaram por isso.
Renata abriu loja de bolos com a irmã, que sempre foi 'a boleira da família' (Foto: Arquivo Pessoal)
Ana Paula sempre fez os bolos de aniversário da família, até que passou a preparar alguns quitutes que o cunhado vendia na empresa onde trabalhava. Entre a decisão de transformar o talento para a cozinha em empreendimento e a abertura de um negócio efetivamente, as irmãs passaram por cursos e testes de mercado.
“Eu era bancária. Saí do banco e queria montar alguma coisa com minha irmã. Visitei uma loja de bolos e gostei do negócio. Minha irmã sempre foi a 'boleira da família' e achei que podia unir o útil ao agradável. Mas fazer um bolo em casa é uma coisa, em larga escala é outra totalmente diferente”, relembra Renata, que abriu a “Terapia do Bolo” em 2013 após fazer cursos de produção de bolos em grande quantidade.
Flora quer transformar atividade para complementar renda em negócio (Foto: Arquivo Pessoal)
Flora está passando por essa descoberta com a “Flora Cakes & Diets”. “Ainda não tive o retorno do que investi nisso, mas faço pesquisas de preços, de quanto vou gastar com uma receita, do preço de venda do produto. Se for abrir um negócio, preciso ter uma orientação mais formalizada sobre produção, controle de estoque, cursos, preços”, lista ela.
A especialista Alessandra Andrade, coordenadora do Centro de Empreendedorismo da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), aponta que para abrir um negócio com poucos investimentos é fundamental considerar os riscos da gestão e entender como funciona o modelo de empreendimento que se tem em mente. “Muita gente tem uma ideia que é muito legal mas não consegue transformar isso em dinheiro”, diz ela.
Irmãs procuraram cursos para transformar aptidão em negócios até abrirem loja de bolos (Foto: Divulgação / Terapia do Bolo)
Veja abaixo 6 dicas para quem quer empreender com poucos recursos:
Antes de começar a investir, pense no tamanho que você quer para o seu negócio – lembrando que, quanto maior ele for, mais alto terá que ser o investimento.
Alessandra aponta que uma das opções para negócios pequenos é se tornar um Microempreendedor Individual (MEI) – pessoa que trabalha por conta própria e se legaliza como pequeno empresário. É necessário faturar no máximo até R$ 60 mil por ano e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular.
O próximo passo seria montar uma empresa, efetivamente. “Quando você pensa em transformar um MEI numa microempresa, precisa de uma estrutura maior para gerar mais receita e investir mais. É mais burocracia, você vai precisar de uma série de alvarás”, aponta Alessandra, recomendando cautela.
“A primeira coisa é entender como funciona o negócio, o público alvo, e fazer testes para ver se efetivamente as pessoas pagariam pelo que você está querendo ofertar”, diz Alessandra, que aponta que existem maneiras simples de fazer esse teste. “Leve o produto até a porta do metrô e pergunte para as pessoas se elas comprariam aquilo, por exemplo.”
Alessandra Andrade, do Centro de Empreendedorismo da FAAP
Flora conta que começou os testes com pessoas próximas, para em seguida buscar clientes para cobrar pelo serviço. Agora, ela diz que seu próximo passo é ampliar a rede de compradores.
“Na verdade eu ainda estou informalizada. Comecei a oferecer para a família, depois pegar encomendas para aniversários. Criei uma página no Facebook, comecei a fazer cartõezinhos. Os clientes estão começando a aparecer, e eu estou encarando como um embrião. Pretendo visitar bufês e outros locais que possam comprar, que têm necessidade desse produto terceirizado.”
Já Renata e Ana Paula iniciaram as pesquisas na região onde planejavam abrir sua loja antes da inauguração, oferecendo também os produtos no bairro para conquistar clientela.
“Tem um hospital próximo da loja. Quando eu fui testar os fornos, eu assei bolos e distribuí na vizinhança. Eu assava para testar a receita e fazer doação de bolo pela região toda ali”, diz Renata.
Flora decidiu que não quer ajuda de funcionários até que seu negócio se firme. “Por enquanto, eu busco o material, eu produzo, eu entrego, eu faço o acompanhamento pós-venda. Se tivesse alguém junto, teria que treinar e perder um certo tempo. No tempo que eu dedicaria para fazer isso, prefiro me capacitar. Se os pedidos realmente acontecerem em maior volume, aí sim eu vou precisar de um auxiliar.”
Alessandra comenta que essa escolha pode ser mesmo uma boa estratégia para iniciantes. “Tudo é um passo por vez. Uma pessoa que começa a fazer um brigadeiro para vender, por exemplo: quanto menos investimento ela tiver, menor é a necessidade de ter um sócio. Usando a própria cozinha, não está gastando com aluguel e está otimizando o tempo, até usando intervalos de outro trabalho que ela tenha, e com isso vai criando um capital.”
Para empreendimentos maiores, como uma loja física e seus custos físicos, a necessidade de um sócio pode ser maior, diz a especialista.
Este foi o caso de Renata e Ana Paula. Elas começaram o negócio como sócias, e já no primeiro mês de abertura da loja física procuraram um contador e uma funcionária. Após deixar o trabalho no banco, Renata investiu o dinheiro de sua rescisão no negócio. Paulo, marido de Ana Paula, também faz parte do investimento.
Ter na equipe “pessoas que se completam” e têm experiências e habilidades diferentes elimina a necessidade de contratar alguns serviços e funcionários, diz Alessandra. “No começo cada um faz uma coisa, ou várias coisas até. O mais importante é que os sócios estejam dispostos a arregaçar as mangas.”
Para casos como o de Flora, em que as pessoas conciliam emprego fixo com o começo de um novo negócio, Alessandra aponta que esse pode ser apenas um complemento de renda ou uma fase de transição para uma nova fase.
“Primeiro a pessoa tem que ter em mente o que ela quer: um plano B para complementar a renda ou viabilizar uma mudança de carreira e de vida? Partindo dessa decisão individual ela vai priorizar o que é mais importante”, diz a especialista.
“Muitas vezes as pessoas se sentem inseguras de abrir mão de uma renda que tem como empregado para investir num negócio que não sabe se vai dar certo”, pondera Alessandra, afirmando que conciliar o emprego com o novo trabalho, como Flora está fazendo, pode ser uma fase de transição.
Tanto Flora como as irmãs Renata e Ana Paula procuraram cursos na área em que escolheram, de confeitaria, quando decidiram empreender. Elas também foram ao Sebrae para buscar orientação e outros cursos.
Alessandra aponta que esses direcionamentos são essenciais, acrescentando que também existem cursos gratuitos e palestras sobre empreendedorismo em outras instituições de ensino, como faculdades.
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