"FEBRE DO OURO"
Deslizamento de terra mata uma pessoa em garimpo ilegal Garimpeiro teve traumatismo craniano e morreu durante trajeto para hospital
Um garimpeiro de 50 anos morreu em consequência de um deslizamento de terra no garimpo ilegal da Serra da Borda, em Pontes e Lacerda (448 km a Oeste de Cuiabá).
O acidente aconteceu na manhã de quarta-feira (13), quando garimpeiros tentavam escavar um buraco de aproximadamente 30 metros de profundidade.
Conforme a Polícia Civil, Francisco Ribeiro dos Santos, que morava em Campo Novo do Parecis (397 km de Cuiabá), foi atingido pelo volume de terra que desceu. Ele fraturou as pernas e teve traumatismo craniano.
De acordo com o delegado da Polícia Civil André Eduardo Ribeiro, depois de o homem ter sofrido o acidente, ele foi encaminhado por dois amigos, que também estavam no garimpo, para Campo Novo do Parecis, cidade que fica a mais de 300 quilômetros do garimpo.
“Eles deveriam encaminhar o homem para Pontes e Lacerda, mas resolveram levá-lo a Campo Novo do Parecis, porque estavam com medo de serem presos em Pontes”, disse.
Eles deveriam encaminhar o homem para Pontes e Lacerda, mas resolveram levá-lo a Campo Novo do Parecis, porque estavam com medo de serem presos em Pontes
Os homens, conforme o delegado, tinham medo de serem autuados por estarem realizando extração de ouro no garimpo ilegal. A prática é considerada crime, pois a região não possui autorização para a retirada do minério.
“Eles tentaram levar o homem para Campo Novo, mas ele acabou não resistindo. A suspeita é de que ele tenha morrido durante o trajeto”, explicou.
Por volta das 13h, o delegado contou que Francisco deu entrada em um hospital do município de Comodoro (644 km a Oeste de Cuiabá), já sem vida. Comodoro fica na metade do caminho entre Pontes de Lacerda e Campo Novo.
“Há possibilidades de que eles tenham percebido que ele estava sem vida e, por isso, decidiram encurtar o trajeto e levá-lo para o hospital de Comodoro”, contou.
A Polícia Civil instaurou um inquérito policial para investigar a morte de Francisco Ribeiro dos Santos.
Os dois homens que o levaram para o outro município foram indiciados por extração de ouro ilegal e crime ambiental, em razão da prática no garimpo.
Conforme depoimento de um dos homens, após o acidente, Francisco teria pedido para voltar para sua cidade, Campo Novo do Parecis.
Ele contou que o acidentado foi colocado no banco traseiro de sua caminhonete. Durante o trajeto, Francisco teria reclamado de dores e começou a passar mal.
Em razão do mal-estar do garimpeiro, os homens decidiram levá-lo ao hospital de Comodoro. Porém, ele não soube informar se Francisco faleceu no trajeto.
Após serem ouvidos pela Polícia Civil, os homens foram liberados.
O caso será investigado pela Delegacia de Pontes e Lacerda.
Nova desocupação
Em 26 de dezembro, a Justiça Federal determinou uma nova desocupação total da área do garimpo ilegal.
A Justiça estipulou o prazo de 30 dias para que o Governo Federal e o Governo Estadual elaborem e cumpram um planejamento para a desapropriação da região.
Entenda o caso
A busca pelo dinheiro, aparentemente fácil, foi uma das motivações para a “Febre do Ouro”, em Mato Grosso.
A corrida pelo minério, em Pontes e Lacerda, teria começado em 12 de outubro de 2015.
Na época, cerca de 600 pessoas invadiram a área após a divulgação de que uma grande quantidade de ouro fora encontrada no local.
A disseminação de fotos e vídeos nas redes sociais, muitos deles fruto de montagens, colaborou para intensificar a invasão da área, que chegou a receber mais de cinco mil pessoas.
Aventureiros acorreram de outros estados do Brasil ou, até mesmo, de outros países, em busca do ouro que, conforme afirmavam, era abundante na região.
Em 16 de outubro, a Justiça Federal determinou o encerramento imediato de todas as atividades de extração de ouro na área.
O local foi esvaziado durante a operação “Terra do Nunca”, da Polícia Federal, que desocupou a área no dia 10 de novembro.
Após o garimpo ser completamente esvaziado, algumas pessoas retornaram à região no final do ano.
Em 15 de dezembro, a estimativa era de que mais de duas mil pessoas haviam retornado à região.
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