11ª FASE DA ARARATH
PF suspeita que construtoras omitiram aquisições ilícitas Empresas do setor imobiliário são obrigadas a comunicar operações suspeitas a órgão federal
O delegado federal Wilson Rodrigues de Souza Filho revelou que as construtoras investigadas na 11ª fase da Operação Ararath, deflagrada nesta quinta-feira (02), podem ter sido coniventes com a aquisição de imóveis em Cuiabá com dinheiro ilícito.
De acordo com o responsável pela operação, a suposta conivência dos empresários estaria no descumprimento da Lei de Combate a Repressão e Prevenção a Lavagem de Dinheiro, a qual determina que construtoras comuniquem ao Conselho de Controle de Atividades Financeira (Coaf) qualquer tipo de operação suspeita que envolva a compra ou venda de imóveis.
A operação foi deflagrada para investigar a lavagem de dinheiro e uso de "laranjas" nestas transações imobiliárias. Ao todo, a Justiça Federal determinou buscas em 45 endereços.
“Alguns investigados aplicaram dinheiro de origem ilícita em operações imobiliárias. O foco da investigação nesta fase é, justamente, apurar e colher provas da responsabilidade das pessoas envolvidas nestas operações imobiliárias. É uma fase de coletas de provas. As informações iniciais são de que não houve comunicação, mas ainda assim não podemos fazer uma afirmação categórica”, disse o delegado, em entrevista coletiva na tarde de hoje.
Rodrigues ainda disse que tal constatação surgiu após o rastreamento da movimentação dos recursos dos investigados, que apontaram a suposta lavagem de dinheiro por intermédio da aquisição de imóveis em nome de terceiros com recursos originários da corrupção. Os fatos, conforme revelou o delegado, ocorreram entre os anos de 2011 e 2014.
As informações iniciais são de que não houve comunicação, mas ainda assim não podemos fazer uma afirmação categórica
O delegado federal também declarou que os policiais federais, até o fim da tarde desta quinta-feira, ainda cumpriam mandados de busca e apreensão. Por conta do sigilo judicial que envolve a investigação, o delegado afirmou que os nomes dos proprietários dos imóveis ainda não poderiam ser revelados.
Conforme Wilson Rodrigues, os valores dos imóveis adquiridos irregularmente passam da cifra de milhões de reais.
“Temos informações de que os investigadores enriqueceram ilicitamente mediante atos que podem ser enquadrados como crime de corrupção, além de envolvimento em crimes financeiros, intermediação de recursos de terceiros à margem da autorização do Banco Central e aplicação desse recurso na aquisição de imóveis utilizando laranjas”, afirmou.
O delegado não descartou a participação de políticos e agentes públicos no suposto esquema. Ele informou, inclusive, que o dinheiro ilícito pode ter sido usado em campanha políticas.
“Desde que foi deflagrada a Operação Ararath, em 2013, sabemos do envolvimento de políticos, mas não só políticos, como servidores públicos de alto escalão. Mas não temos permissão para divulgar nomes”, relatou.
“O primeiro passo é conhecer a origem dos recurso e isso tem sido mapeado. Há indício de que houve financiamento de campanha com dinheiro ilícito, mas não é possível dar detalhes sobre isso", declarou.
Condução
Nesta quinta-feira a Polícia Federal cumpriu três mandados de condução coercitiva. A ação contou com a participação de 90 policiais federais.
Faz parte do inquérito. Duas pessoas precisaram ser ouvidas mas não havia necessidade de condução. Ninguém se furtou a prestar esclarecimentos
Conforme apurado pela reportagem, entre os conduzidos estão os empresários Marcelo Maluf, diretor presidente do grupo São Benedito, e George Maluf, da Construtora GMS.
No entanto, o delegado Wilson Rodrigues afirmou que mais outros dois empresários também foram ouvidos.
“Faz parte do inquérito. Duas pessoas precisaram ser ouvidas mas não havia necessidade de condução. Ninguém se furtou a prestar esclarecimentos”, completou.
Além das conduções, durante as buscas, os policiais federais prederam em flagrante dois diretores do Grupo São Benedito, Amir Maluf e Marcos Maluf.
Amir, que estava em posse de uma arma de uso restrito, após prestar esclarecimentos na sede da Polícia Federal, foi levado até o Fórum da Capital, onde participou de uma audiência de custódia. O juiz Murilo Moura Mesquita, da 11ª Vara Criminal de Cuiabá, determinou sua soltura, após estipular o pagamento de fiança em R$ 17,6 mil (20 salários mínimos).
Já Marcos Maluf foi preso com um revólver de calibre 32. Como o caso se tratava de crime afiançavel, ele foi solto após o próprio delegado Wilson Rodrigues, estipular fiança, cujo valor não foi divulgado.
A Ararath
A Operação Ararath foi desencadeada em novembro de 2013 e, inicialmente, investigou a prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro no estado de Mato Grosso.
Segundo o Ministério Público Federal, a Ararath indisponibilizou quase R$ 500 milhões durante os 18 meses de trabalho. Além disso, o empresário Gércio Mendonça Junior firmou termo de colaboração premiada e já restituiu R$ 8 milhões ao erário - até dezembro próximo, serão mais R$ 4 milhões.
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