Psiquiatria
Quando aparece o pânico A síndrome do pânico, que atinge entre 1% e 3% da população mundial, pode ser confundida por quem sofre dessa disfunção
Por mais que as pesquisas tenham avançado no campo da medicina, o cérebro humano continua sendo um grande mistério.
Talvez isso explique porque ainda há quem relacione enfermidades cerebrais a fraqueza emocional, doença da alma, falta de capacidade psicológica de lidar com as dificuldades cotidianas e até chilique para chamar a atenção.
A síndrome do pânico, uma disfunção neuroquímica que atinge entre 1% e 3% da população no mundo, se enquadra perfeitamente na lista das patologias “diagnosticadas” pelo senso comum.
Mas, ao contrário do que muitos entendem, as crises de pânico podem isolar e tornar uma pessoa incapaz para as atividades mais comuns. E não passam sem medicação. Ir ao supermercado ou buscar o filho na escola, por exemplo, tornam-se tarefas subumanas.
Não reconhecer como doença física ou minimizar a gravidade não é o melhor caminho, orienta a psiquiatra Andréia Fetter Torraca. A especialista explica que as alterações corporais, de pensamento e de comportamento acontecem por disfunções neuroquímicas de determinadas áreas cerebrais.
“Não é uma doença psicológica, é um transtorno físico do cérebro que pode gerar sintomas psicológicos”, reforça Andréia Torrada. De acordo com ela, na maioria dos casos é necessário administrar medicamento já a partir da segunda crise.
A psiquiatra observa que as alterações corporais, de pensamento e de comportamento geradas pela crise são decorrências de disfunções neuroquímicas em áreas do cérebro como hipocampo, córtex pré-frontal e outros.
O hipocampo é um órgão pequeno situado dentro do lóbulo temporal central do cérebro e é parte importante da região que regula emoções. Já o córtex pré-frontal é responsável pela memória, fazendo com que estímulos ou informações sejam neurocognitivamente capturadas e processadas.
No caso da empresária M.C.M., 45 anos, as primeiras crises de pânico se manifestaram na forma de pavor de avião, da recusa em viajar. Depois, passaram a acontecer sem motivos aparentes.
“Certa vez eu estava em uma festa de aniversário. Servi o jantar e, quando retornei para a mesa, não consegui permanecer no local. Não deu tempo nem de dar a primeira garfada. Abandonei o prato e corri para o carro. Meu marido veio em seguida e assim fomos embora. Ele ainda retornou à mesa para inventar uma desculpa aos amigos. Tempos depois, eu soube que ele disse que eu havia recebido uma ligação sobre um problema na casa dos meus pais e por isso saí às pressas”, relata.
A empresária conta que seu coração batia acelerado e a respiração parecia que estava parando. Ela quase não teve forças para chegar até o carro. O único pensamento que tinha era de morte, de morte instantânea se não deixasse o local imediatamente.
Antes de receber o diagnóstico de síndrome do pânico, M. passou por cardiologistas e demorou anos a procurar um psiquiatra, porque nem ela e nem a família aceitavam a possibilidade de um desequilíbrio cerebral.
Quase dois anos depois, ela diz que está sob controle e há pelo menos um ano não tem crises. M., assim como a maioria dos pacientes, não gosta de falar abertamente sobre a doença, por causa do preconceito.
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