Cotidiano/Porto Cuiabá
Após revitalização física, moradores aguardam resgate social do Porto Desde 2014 orla passa por reforma visando ao fomento do turismo; população quer mais
Moradores e comerciantes do tradicional bairro do Porto, em Cuiabá, aguardam pela conclusão do projeto de revitalização da orla do Rio Cuiabá, iniciado em 2014.
Mas, ao mesmo tempo em que almejam a mudança física que vai melhorar o visual da região, cobram também ações que possam transformar a realidade de degradação social em que a região historicamente vive.
O MidiaNews esteve na orla durante da tarde desta quinta-feira (9) e constatou que a primeira parte da obra – que vai até o Museu do Rio – já está praticamente finalizada, faltando apenas serviços de paisagismo, iluminação e alguns acabamentos.
A Diretoria de Infraestrutura da Secretaria Municipal de Obras informou que a reforma segue em andamento. Concretagem do pátio, recuperação do piso cerâmico e da rede de esgoto são alguns dos trabalhos iniciados.
Ainda nesta semana, a parte de iluminação foi iniciada e deve ser finalizada em 90 dias. “Ainda não temos uma data concreta. Mas estima-se que até dezembro a obra seja entregue à população”, explicou a diretoria, por meio da assessoria de imprensa.
Enquanto a reforma promete dar uma nova cara ao ponto turístico cuiabano, do outro lado da avenida a situação permanece a mesma há anos, entre moradores de rua e usuários de droga.
Hilton Benedito mora no bairro há 50 anos, ou seja, sua vida toda. E por ali, ele também trabalha.
Marcus Mesquita/MidiaNews
Para Hilton Benedito, não adianta um lado da pista estar revitalizado e o outro sofrendo com problemas antigos
“O problema do Porto é o social. Não adianta revitalizar, deixar a orla linda, sendo que dentro do bairro a situação é caótica. O número de usuários de droga e moradores de rua está aumentado e ninguém tem feito nada”, alerta.
Segundo ele, nunca se viu uma obra deste tamanho na região. “Para o resgate cultural do bairro, nunca teve e isso é muito bonito. Mas não adianta nada mudar por fora”.
A situação não é novidade para cuiabanos e moradores da Baixada, mas ainda é preocupante. Já para turistas e pessoas de outros locais, a imagem do Porto pode impactar e assustar.
Rita Itália, 30 anos, é comerciante na avenida e afirma que, apesar da quantidade de usuário de drogas que praticamente habitam a porta do comércio, ela nunca teve problema com eles.
“Estou trabalhando aqui há um ano, e nunca tivemos problemas. Eles entram aqui, pedem água, sempre educados e sem passar os limites. Mas, para quem é de fora, assusta sim”.
Reeducação e Resgate
Marcus Mesquita/MidiaNews
Fred lembrou que muito dos moradores de rua da região não são de Cuiabá
Fred Jac, de 50 anos, também é nascido e criado no Porto. Ele é filho de Jacildo, da banda Jacildo e Seus Rapazes, sucesso da cuiabania na década de 1960, e sua família mora na região desde 1850.
“A situação é triste. Quantas vezes vi turistas passando por aqui e ficando triste com o que vê. E já faz muito tempo que esse cenário social não muda”.
Ele ressalta que a Praça Luiz de Albuquerque, na lateral da ponte que divide Cuiabá e Várzea Grande, já deixou de ser uma praça. Agora, para ele, é como um albergue para a população em situação de rua.
“É uma praça suja, não tem segurança, não dá mais para ser utilizada como uma praça. É muito suja e cheia de lixo”, lamenta.
Para Hilton, mais que ações sociais, é necessária uma reeducação e um resgate dessas pessoas.
“De manhã, tem gente que entrega café da manhã para eles, bem como almoço e janta. Você acha que eles vão querer sair daqui? Não. Mas, não é só disso que eles precisam. Eles devem ser resgatados, trazidos para a realidade”.
O morador fala dos projetos sociais de igrejas e associações, por exemplo
Também o preocupa o fato de que muitos desses moradores acabam sendo alvos fáceis dos grandes traficantes. “Eles são peixes pequenos, revendem aqui. O negócio é quem está por trás das mercadorias, que passam aqui para entregar o produto”.
A diretora de Gestão da Secretaria Municipal de Assistência Social, Cristiane Almeida, disse à reportagem que desde o ano passado a equipe tem trabalhado e reforçado as abordagens sociais no local.
“A gente realiza os atendimento para a população, e, nessas ações, recebemos aqueles que querem ser recolhidos ou auxiliados de alguma forma. Uns vão para o albergue, outros querem voltar para a cidade natal”, lembrou.
Segundo ela, o problema maior é de que muitos alimentam o vício em droga e bebida alcoólica, o que dificulta o atendimento. Apesar de muitos quererem o tratamento e o acolhimento, acabam voltando para o local.
Novo ponto turístico
Em meio à situação social degradante, a orla do Porto, o Museu do Rio e do Peixe, prometem ser, novamente, os atrativos turísticos da cidade. A obra,
Marcus Mesquita/MidiaNews
A obra de revitalização teve sua entrega adiada duas vezes
segundo a Prefeitura, deve sair por R$ 9,5 milhões.
A obra deveria ser entregue antes da Copa do Mundo de 2014, mas foi adiada para o aniversário de Cuiabá deste ano, o que também não foi possível.
A expectativa agora é de que em dezembro ela seja entregue à população.
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