Suicídios aumentam 53% em MT
Casos de suicídios tem se tornado cada vez mais recorrentes em Mato Grosso. Nos primeiros cinco meses de 2016 houve aumento de 53% nos registros. Foram 78 casos, enquanto no mesmo período de 2015 foram registradas 51 mortes. Em todo o ano de 2015 foram 109 casos de suicídios no Estado.
Considerado um problema de saúde pública, existem multifatores que podem ser associados à tentativa de tirar a própria vida mas, na maioria dos casos, o suicídio está diretamente ligado ao avanço da depressão. De acordo com o chefe da Unidade Psicossocial do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), Hugo Gedeon, estudos apontam que de todos os fatores de riscos que podem levar uma pessoa a tentar contra a própria vida, a depressão aparece em primeiro lugar, mas em seguida estão substâncias psicotrópicas e também a esquizofrenia.
Conforme Gedeon, esses fatores associados ao preconceito social que ainda é grande em relação ao suicídio e à globalização que tem tornado as relações sociais cada vez mais distantes, têm contribuído para o crescimento do comportamento suicida na sociedade. “O preconceito, o distanciamento das pessoas e agora esse cenário de crise econômica que o país vive, são pontos que contribuem para o avanço dos casos”.
Ele lembra que é preciso avançar em políticas públicas que levem informação e desmistificar o problema que ainda é motivo de censura e de preconceito na sociedade. “As pessoas não gostam de falar sobre o problema, para muitas famílias o suicídio representa um fracasso familiar. Pais se sentem fracassados quando um filho, por exemplo, comete suicídio. Em muitos casos a própria família pede para que médicos atribuam a morte a um acidente”.
Gedeon lembra que quanto mais se fala sobre o assunto, mais é possível instruir as pessoas sobre o problema que é real e está próximo. “Durante uma pesquisa de mestrado foi possível identificar que a maioria das pessoas conhecia alguém que havia cometido suicídio ou pelo menos tentado. Isso mostra que o problema está cada vez mais próximo e precisa ser debatido”.
O médico destaca algumas ações importantes como o “Setembro Amarelo” e a “Cartilha sobre Suicídio”, mas que se comparadas à dimensão social do problema ainda são tímidas. “São importantes, mas precisamos de muito mais. Precisamos de formas para trabalhar o preconceito social e até mesmo dos próprios profissionais da saúde para que assim possamos fazer com que as pessoas enxerguem o problema, que não é frescura, como muitos pensam, e assim possamos ajudar a diminuir esses índices de mortes”.
Triste realidade
De acordo com dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SespMT), a maioria dos casos de suicídios esse ano aconteceu entre pessoas de 36 a 59 anos e a maioria das vítimas são homens.
De acordo com o chefe da Unidade Psicossocial do HUJM, Hugo Gedeon, a explicação quanto aos homens cometerem mais suicídios está na forma planejada para tirar a vida. O médico explica que, na maioria dos casos, as mulheres escolhem métodos menos letais como, por exemplo, a ingestão de medicamentos, produtos químicos. Já os homens, muitas vezes, utilizam arma de fogo, cordas, entre outros. “A mulher, muitas vezes, por não ter habilidade em manusear arma, ou até mesmo fazer um nó que não solte, acaba partindo para outros tipos de tentativas, que muitas vezes não se concretizam”.
Quanto à idade, Gedeon explica que estudos mostram que idosos estão entre os mais propensos ao suicídio. “Eles se sentem mais sozinhos, abandonados o que os deixam mais propensos a sentimentos depressivos”.
Ele lembra que mais importante do que se ter um perfil, é estar atento aos comportamentos suicidas que tendem a aparecer. “Nem todo depressivo vai tentar cometer suicídio, mas antes das tentativas, com certeza, ele terá dado outros indícios de seu estado”.
De acordo com ele, frases como “não sei o que fazer da minha vida”, “não vale mais a pena viver”, dependendo do contexto em que a pessoa se encontra, são sinais de um comportamento suicida. “É importante que a gente comece a ter como responsabilidade de ajudar, de prestar atenção às pessoas, tanto familiares, como amigos ou colegas de trabalho. O diálogo é a ferramenta de ajuda essencial para o tratamento. Precisamos nos desligar das tecnologias e nos dedicarmos mais às pessoas a nossa volta”.
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