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Quarta - 13 de Julho de 2016 às 09:51

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(Joe Raedle/Getty Images/VEJA/VEJA)
Na primeira distribuição do dia, às 7h30, os internos recebem cerca de 200 ml de um vinho produzido no local. No resto do dia até 21h30, eles tomam pouco mais de 140 ml por hora. Entretanto, ao primeiro sinal de embriaguez, a pessoa não recebe outra
Na primeira distribuição do dia, às 7h30, os internos recebem cerca de 200 ml de um vinho produzido no local. No resto do dia até 21h30, eles tomam pouco mais de 140 ml por hora. Entretanto, ao primeiro sinal de embriaguez, a pessoa não recebe outra

Embora o tratamento mais recomendado para alcoólatras seja a abstinência, um programa canadense decidiu oferecer vinho aos seus pacientes. A Oaks, por exemplo – uma casa de recuperação localizada em Ottawa, no Canadá, criada para quem já morou nas ruas -, oferece uma dose de vinho por hora para seus internos. A abordagem, chamada de Programa de Gestão do Álcool (MAP, na sigla em inglês), está disponível em diversas clínicas e cidades do país e tem como objetivo oferecer um ambiente estável e mais saudável para dependentes de álcool que moravam nas ruas.

De acordo com informações da rede britânica BBC, o Programa de Gestão do Álcool de Ottawa foi projetado para atender às necessidades de moradores de rua que já haviam tentado parar de beber e falharam. O esquema foi desenvolvido por um grupo de profissionais de saúde há cerca de 15 anos.

“O pensamento era que, se pudéssemos estabilizar a loucura de suas vidas, o dia que começa com a busca de álcool e todas as complicações que ele causa, então talvez pudéssemos fazer investidas para tratar sua saúde mental, dependência de álcool e suas doenças físicas”, diz Jeff Turnbull, um dos idealizadores do projeto e chefe do Hospital de Ottawa, à BBC.

O projeto teve início após caso de um alcoólatra chamado Eugene. “Nós o encontramos na rua com queimaduras. Ele não queria ficar dentro de casa no frio congelante por causa de seu vício em álcool. Então, nos perguntamos se não seria mais seguro se nós pegássemos um pouco de vinho e deixássemos ele beber. Eugene aceitou a proposta sem pensar. Ele ficou dentro do abrigo, a sua hipotermia melhorou e nós salvamos os dedos de seus pés.”, conta Turnbull.

Controvérsia

O MAP de Ottawa começou em 2001 e é gerido por uma parceria de duas ONGs – os Pastores da Boa Esperança e o Ottawa Inner City Health. O programa começou no albergue dos Pastores, no centro, e no Oaks – um antigo hotel no oeste da cidade de Ottawa – existe desde 2010. Mas a abordagem inicial foi bem controversa.

“Eu recebi ameaças de morte. A comunidade de viciados é muito dividida sobre redução de danos. Mas há alguns projetos que veem a abstinência como o único tratamento para o alcoolismo”, lembra Turnbull, que continua como o médico responsável do Oaks.

O Oaks tem uma lista de espera. Antes de ser aceito, os potenciais residentes devem provar que podem viver dentro das regras do programa e contribuem para manter o seu próprio sustento – e o vinho – através de pensões e benefícios do Estado.

“Eu adoraria que todos eles fossem abstinentes, mas isso é viável ou possível? Talvez não. Nós tentamos reduzir seu consumo diário de álcool. Pelo menos, eles são estáveis aqui no Oaks. Eles estão felizes e eles têm um padrão de vida razoável.”, diz Turnbull.

O vinho, do tipo branco californiano com teor alcoólico de 13%, é produzido no local e distribuído a cerca de 50 alcoólatras. Na primeira distribuição do dia, às 7h30, a maioria dos internos recebe cerca de 200 ml, quantidade superior ao tamanho médio de um copo de vinho servido na Europa. No resto do dia até 21h30, eles tomam pouco mais de 140 ml por hora. Entretanto, ao primeiro sinal de embriaguez, a pessoa não recebe outra dose e é convidada a se retirar para o quarto.

“Isso não acontece com frequência, mas, se alguém está bêbado, peço para que vá para seu quarto dormir um pouco”, disse Lucia Ali, uma dos funcionárias que trabalham na linha de frente do bar do Oaks.

Depois de pegar suas bebidas no balcão, eles passeiam na área comum ou tomam suas bebidas no pátio exterior, onde muitos acendem um cigarro. Os homens e as mulheres são, em sua maioria, de meia idade ou mais velhos. Alguns usam bengalas, andadores ou cadeiras de rodas. A saúde frágil é resultado de uma vida regada a álcool.

Há uma sala de TV e um computador no local. Há passeios e viagens de compras. É uma vida muito diferente do que muitos levavam nas ruas. Alguns dos pacientes têm contato com suas famílias. Outros estão esperando para ser voluntários ou até mesmo voltar a trabalhar.

Economia aos cofres públicos

Um estudo piloto realizado pela Universidade de Victoria, no Canadá, mostrou que a tática adotada pelo MAP melhorou a vida dos dependentes, reduzindo os custos e cuidados de saúde. De acordo com os resultados, houve uma redução no número de incidentes dos participantes do projeto com a polícia, uma diminuição de 70% nas admissões de desintoxicação e 47% nas admissões hospitalares.





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