O volante quer ajudar o Verdão a se livrar da degola, mas só não sabe quando – e se – terá condições de atuar ainda em 2012. Ele já corre pelo gramado, faz exercícios físicos, mas ainda não recuperou totalmente o movimento da perna direita, algo natural em um processo como esse. A ansiedade para voltar é maior do que os cerca de R$ 15 milhões que o clube alviverde pagou para tirá-lo do Werder Bremen, do frio e da vida feita na Alemanha. O departamento médico prevê pelo menos mais dois meses até que ele esteja pronto.
- Os dias vão passando, minha perna vai ficando mais forte e eu vou me empolgando. Mas não vou pular etapas. Se vou voltar daqui a um mês, no fim do ano ou em 2013, não sei. Antes, tenho de estar 100%. É passo a passo, como uma criança aprendendo a caminhar, mas espero que seja logo - avisou o jogador de 25 anos.
Depois de um longo silêncio nos últimos meses, o volante conversou com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM e contou detalhes de sua recuperação. A todo o momento, as mãos passavam e pousavam no joelho direito, como se Wesley quisesse protegê-lo de um novo mal. Enquanto se preocupava com o local operado há cinco meses, o jogador mostrou uma faceta que pouca gente conhece: o garoto que gosta de “confundir” as pessoas com penteados diferentes e uma nova tatuagem a cada fato importante de sua vida.
As primeiras tatuagens vieram do seu padrasto, mas pai de criação, Irineu Perpétuo Beltrame. O assassinato de Irineu, em maio deste ano, foi mais um obstáculo que Wesley teve de superar durante a recuperação. Com um sorriso no rosto, ele evita pensar no que passou:
- O que passou, passou. Agora é bola para frente. Que ele esteja em um lugar tranquilo.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Como foi o lance da sua lesão? Você se lembra dos detalhes?
Foi uma situação rápida, eu jamais esperava aquilo. A adrenalina estava alta, não tem como prever algo. Era meu quarto jogo pelo Palmeiras, estava adquirindo ritmo. Lembro que o Daniel esticou a bola pela esquerda, fui atrás para não deixar sair e acabou tendo o conatato. Não houve maldade, foi por acaso, mas paciência. O importante é que já se passaram cinco meses e bola para frente.
Como tem sido o processo de recuperação? O tratamento está cansativo?
Às vezes as pessoas não entendem muito, acham que tratamento é só ficar no chinelinho, mas é trabalho todo dia, pegada forte. Tem dias que temos obstáculos, mudanças de exercício. Hoje eu estou bem, vou para casa tranquilo, mas no outro dia tem outro exercício que tem de se acostumar a fazer. Isso acaba prejudicando a evolução, às vezes. São muitos obstáculos, é como se fosse uma criança aprendendo a caminhar, é um recomeço. Faço dois períodos todos os dias, às vezes faço complemento em casa com gelo. Já vai dar cinco meses (de recuperação), mas é jogo duro.
Qual o momento mais difícil? O pós-cirurgia, de incerteza, ou a ansiedade do fim da recuperação?
Vou dar duas respostas, porque no começo, o pós-operatório, as primeiras duas, três semanas são muito complicadas. Minha esposa ajudou muito. Até brinco que a “nega véia” teve de ficar me dando banho. Complicado. Precisava de uma pessoa para me ajudar no começo. Aí, depois dos três meses, comecei a levar minha vida normal, ainda sem estar 100%. Agora teve um jogo-treino com o pessoal da base, eu fico olhando os caras fazendo um monte de coisas com a bola, e parece que você não vai mais fazer o mesmo movimento de antes. Você vê o pessoal fazendo muita coisa com a bola e você se pergunta. Mas vai dar tudo certo.
Wesley, em entrevista na Academia de Futebol do Palmeiras (Foto: Sergio Gandolphi / Globoesporte.com)
Como você recebeu a notícia da operação?
Na hora fiquei sem palavras. Por mais que eles já soubessem, quiseram me preservar para dar a noticia de uma maneira mais tranquila. É um choque, eu nunca me machuquei. Quando ocorreu o lance na partida era só uma dor normal, de pancada, como as outras que eu tive. Infelizmente não foi assim. Demorei um pouco para absorver porque nunca tive lesão. Mas nada é por acaso. Já se passaram cinco meses, para mim é um pouquinho demorado, mas está tranquilo.
Mesmo fora de campo, você já viveu emoções extremas no Palmeiras: título e perigo de rebaixamento. Como você tentou e tenta ajudar nesses momentos?
A pior situação para mim é estar fora e ter de ficar olhando tudo, sem poder fazer nada. Você só torce para que as coisas continuem dando certo. O título da Copa do Brasil foi muito bom, todo mundo se dedicou e trabalhou bastante. Eu, na torcida, pude levar coisas boas. Agora, na situação em que nos encontramos hoje é mais difícil, tem de ligar o sinal de alerta. Tenho 25 anos, mas já passei por coisas assim, o Campeonato Brasileiro é o mais complicado do mundo. As outras equipes têm jogadores de alto nível. Está sendo outro tipo de emoção para mim, mas espero fechar o ano com chave de ouro.
Como seria o fim de temporada ideal para você?
O desfecho ideal é que a equipe consiga sair logo dessa situação e alcançar o máximo de pontos possíveis. E que eu possa curar minha lesão com sucesso. Tudo está sendo válido até agora, tenho me dedicado bastante, mas meu desejo é fazer uma ótima pré-temporada e entrar de corpo e alma nas competições.
O que você tem achado desses seis meses de Palmeiras? Como sente o ambiente no clube, ainda mais agora, com o risco de rebaixamento?
No meu segundo ano de profissional no Santos também passei por várias dificuldades, pressão muito grande, na época o treinador era o Leão. Estava bem na equipe, titular, jogando Paulistão e Libertadores, mas se não tem resultado e título a pressão vem, não é só no Palmeiras. Todo mundo sabe que é uma equipe grande, com história, e que não vinha ganhando títulos. Isso é uma situação normal. Com os resultados, acho que dá para levar o ano de uma forma bem tranquila. Agora o momento não é bom, mas conquistando o máximo de pontos possíveis poderemos fechar com tranquilidade. A gente mesmo se cobra para que as coisas possam dar certo. Quando o clube não ganha títulos, é normal o torcedor ficar carente.
Como você projeta seu retorno? Ainda neste ano? Ou melhor começar do zero em 2013?
Estou num momento de muita ansiedade, os dias vão passando, minha perna vai ficando mais forte e eu vou me empolgando. Mas tenho de ter consciência, primeiro tenho de estar bem, independentemente do tempo, se vai ser daqui a um mês, no fim do ano ou em 2013. Para jogar futebol em alto nível tem de estar 100%, mas vamos ver. Se for para voltar bem e poder ajudar ainda neste ano, amém! Mas se for só no ano que vem, a cabeça está tranquila. Quero estar bem para ajudar da melhor maneira.
Como você se classifica hoje? Dá para dizer que está na etapa final de recuperação?
Já consigo andar sem muletas, é um avanço (risos). Mas não consigo ter um número. Hoje não tive dor nenhuma, mas não sei se amanha vai ser assim, com um exercício novo. Sei que obstáculos podem aparecer, então não tem como dizer se estou 50, 60 ou 70%.
O Palmeiras fez um grande esforço para contratá-lo, investiu R$ 15 milhões, procurou ajuda dos torcedores (por meio do MOP). Você se sente em dívida com o clube?
Se eles pagaram isso, é porque já me conheciam e sabiam da minha história bonita no Santos. Sei do meu potencial, quando eu voltar vou me doar ao máximo. Não me sinto em dívida, acho que é uma palavra muito forte, porque eu não quis me machucar. Eu queria estar jogando e ajudando meus companheiros para estar numa situação tranquila, mas vamos ver. Tenho muito a crescer, muito a aprender, sei que posso ajudar bastante. Mas é melhor deixar para frente e saber como as coisas andam.
Wesley em três visuais: black power, rasta e careca (Montagem: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
E fora de campo, você chegou de black power, fez trancinhas e agora está careca. As mudanças de visual ajudam o tempo a passar mais rapidamente?
Gosto de confundir as pessoas. Na Alemanha era frio, então era melhor deixar crescer o cabelo. Cabelo de preto é ruim, demora para caramba para crescer. No Brasil eu queria cortar, mas aqui é muito calor, então achei melhor tirar tudo logo. Gosto de mudar um pouco o visual, minha esposa também me apoia nessas decisões malucas. Lá em casa eu estou bonito de qualquer jeito. Mas não tem nada de superstição, é mais para poder mudar mesmo.
Você anda quieto, dando poucas entrevistas, mas como é o Wesley dentro do elenco?
Até levo bronca da minha esposa pelo excesso de brincadeiras, mas eu levo a vida dessa forma. Tenho seriedade na hora do trabalho, mas quando dá para brincar e tirar uma onda é sempre válido. Ajuda a fortalecer o grupo. Todo mundo conversa e se dá bem, e eu sou dessa forma.
A união do elenco contrasta com as informações que vazam quase que diariamente do clube. Como o grupo lida com isso?
Acho que tem de estar com a consciência tranquila. Se não fui eu nem ninguém do elenco que vazou, não tem porque ficar se estressando. Cada caso é um caso, mas tem pessoas na diretoria que podem resolver. Se é uma situação mais interna, nós mesmos resolvemos. Mas não precisa esquentar a cabeça com isso, nosso pensamento é só em jogar bola.
Wesley brinca com Luan na Academia de Futebol
(Foto: Rodrigo Faber / Globoesporte.com)
Você tem muitas tatuagens. O que elas representam para você?
Tenho um anjo, o nome da minha esposa, um terço, a palavra Fé, mais um anjo no peito, e por aí vai. A última que eu fiz foi na perna, depois que cheguei ao Palmeiras.
Como começou esse gosto?
Meu pai era tatuador, ele fez duas, uma carpa na parte abdominal e uma nas costas. No começo eu não gostava muito não, tinha esse negócio de preconceito, que não podia ter tatuagem. O preconceito ainda existe por aí, mas diminuiu bastante. As primeiras tatuagens foram com ele.
Como foi lidar com a perda do pai?
Foi durante a recuperação da cirurgia, mas já foi superado. Espero que ele esteja em um lugar tranquilo, e bola para frente.
Você teme ser marcado como o jogador de R$ 15 milhões? Se não jogar o que se espera, a pressão pode ser maior?
Sou muito tranquilo em relação a isso, sei que posso ajudar. Não sou eu que coloco o preço, o número. A gente só joga bola. O Werder Bremen pediu esse valor, e por aí vai. Se o jogador começar a pensar: “Pô, estou valendo tanto”, fica difícil. Lá eu estava em uma situação boa, adaptado à lingua, titular, jogando bem. Tive propostas da Europa também, mas quando pintou o Palmeiras fiquei muito feliz e resolvi bater de frente com o pessoal. Queria participar dessa história.
O quanto sua história neste ano pode servir de exemplo para os companheiros?
Acho que o professor disso é o Maikon Leite, ele superou cada uma, foram várias lesões, mais do que eu... Se precisar ouvir alguma palavra, acho que ele pode falar bem. Conversei bastante com o Fernandinho, que se lesionou agora (rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo). No começo tem de ter muita paciência. Ele vai superar isso da melhor maneira.
Wesley, no começo da fisioterapia no Palmeiras (Foto: Cesar Greco / Agência Estado)
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