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Sábado - 13 de Agosto de 2016 às 08:38
Por: Aline Almeida - Diário de Cuiabá

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Presídio de Cuiabá: “parece que nós cometemos algum crime; eles querem nos julgar pelo crime dos nossos parentes”, diz visitante
Presídio de Cuiabá: “parece que nós cometemos algum crime; eles querem nos julgar pelo crime dos nossos parentes”, diz visitante

O tratamento e a dita ressocialização são frutos de críticas de visitantes dos presídios em Cuiabá. A reclamação vai desde a forma como os visitantes são tratados pelos agentes penitenciários, as revistas muitas vezes abusivas e, até mesmo, às condições às quais estão submetidos os próprios presidiários.

Na matéria, as personagens decidiram falar desde que os nomes não fossem divulgados, temendo represálias dos agentes. M.A.S., que visita o marido duas vezes por semana no Centro de Ressocialização de Cuiabá, antigo Carumbé, afirma que a situação sempre é a mesma, e o desrespeito impera. Segundo ela já na revista de comida os agentes querem mostrar que podem mais. “Muitas vezes a comida é revirada, acho que isso não tinha necessidade, já que vai passar pelo raio-x”, diz.

A visitante A.A.N., por sua vez, alega que o que constrange é a revista pessoal, em que muitas agentes obrigam as mulheres a levantar as roupas e a ficar quase nuas. “Quando a gente está menstruada, tem que retirar o absorvente na frente delas e colocar outro, também na frente dela. É uma situação humilhante”, conta A.A.N.

Já na Penitenciária Central do Estado, F.S.S. afirma que o desrespeito começa desde o tratamento dos visitantes. “Eles são sempre muito grosseiros na forma de nos tratar e ainda temos que ficar quietos. Isso é muito injusto, parece que nós cometemos algum crime, eles querem nos julgar pelo crime dos nossos parentes. Mesmo assim não poderiam, pois estão aqui dentro já pagando pelos erros deles”, afirmou.

Contudo, a situação que mais chama a atenção são as de relatos quanto à alimentação oferecida aos recuperandos. Nos dias de visitas, as famílias optam por levar alimentação de casa, já que a qualidade, segundo elas, não é das melhores. Relatos de caramujos, baratas e outras coisas encontradas na alimentação são comuns. “A comida parece que é resto, daqueles que são oferecidos aos porcos”.

A presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MT, Betsey Polistchuk de Miranda, afirma que já tomou conhecimento da situação e que inclusive fez uma denúncia e encaminhou à Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh). Segundo ela, o tratamento por parte dos agentes e a revista inadequada estão no rol de problemas encaminhados à secretaria. “O que acontece é que estes profissionais não estão preparados para atuação. Lembrando que esta é uma das profissões mais perigosas”, disse.

Em relação à alimentação, a presidente da comissão diz que o relato é quanto à quantidade, que é pouca. Já sobre a presença de bichos na alimentação, ela afirma que ainda não recebeu relato, mas que vai apurar.

“As pessoas que estão lá erraram e estão para aprender o que é convívio social. Mas para isso é preciso um tratamento digno, pois o tratamento grosseiro só deve piorar a situação dele”, disse Betsey Miranda.

A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, por meio da assessoria, afirmou que de fato existem reclamações quanto à alimentação, mais especificamente à salada. Isso porque o alimento pode chegar estragado às unidades, uma vez que são perecíveis. Mas que muitas unidades já têm suas hortas para evitar isso.

O governo afirma ainda que, se forem encontradas irregularidades nos alimentos, devem ser relatados à ouvidoria da Sejudh. Já nos procedimentos de revista, a secretaria confirmou que a revista íntima é proibida e, caso aconteça esta irregularidade, ela também deve ser levadas à ouvidoria.

O cidadão que quiser entrar em contato com o a Ouvidoria Setorial pode fazê-lo via formulário, disponibilizado no site da Sejudh (www.sejudh.mt.gov.br ou www.ouvidoria.mt.gov.br); e-mail ouvidoriasejudh@sejudh.mt.gov.br; telefone (65) 3315-1508 / (65) 3315-1558 / 0800-647-1520 ou 162 ou presencialmente na sede da secretaria, situada na Rua Ten. Eulálio Guerra, nº 488, bairro Quilombo.

O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Mato Grosso, João Batista Pereira de Souza, afirma que as reclamações das visitantes é em virtude do trabalho que é feito para tentar impedir a entrada de drogas e celulares nas unidades.

“Muitas que reclamam são ‘mulas’, ou seja, mulheres contratadas pelo tráfico para levar drogas lá para dentro. Os visitantes tentam desqualificar o trabalho dos agentes, para entrarem com objetos. Via de regra, o pessoal é sempre receptivo, mas sabemos que existem ‘mulas’ infiltradas em meio aos visitantes, por isso muitos falam que os agentes são arrogantes e duros”, disse João Batista.





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