O orgulho (e o risco) de seguir os pais Bons exemplos fazem os filhos de militares decidirem seguir a carreira perigosa dos pais
O exercício pleno da paternidade, assim como o da maternidade, não é uma tarefa fácil. Cuidar e educar filhos são as atribuições mais difíceis e complexas, em que pesem possíveis opiniões contrárias. Mas, também, as mais prazerosas.
E como filhos não chegam acompanhados de manual de instrução, o melhor a se fazer é educar pelo exemplo. O bom exemplo. Esse entendimento implica tornar sem sentido o velho e ultrapasso ditado: “faça o que eu digo e não o que eu faço”.
Já as máximas “Tal pai, tal filho” e “Filho de peixe, peixinho é” parecem em alta, mesmo nas profissões mais perigosas, como de policial e bombeiro. Nos casos do coronel do Corpo de Bombeiros Militar Fábio Pereira Leite, 65, e do subtenente da Polícia Militar Sebastião Cláudio de Souza, 49, quase todos os filhos seguiram os passos dos pais.
Dos três filhos do coronel Fábio, dois: Fábio Pereira Leite Júnior, 32, e Cíntia Penha Leite, 34, herdaram o “sangue bombeirístico” paterno, como brinca o pai. A outra filha, Tatiane Penha Leite, 31, é fisioterapeuta e técnica em Segurança do Trabalho.
Cíntia se recorda das brincadeiras e das visitas que fazia aos quartéis do Corpo de Bombeiros acompanhada do pai. Na infância, por inúmeras vezes o coronel flagrava a filha usando capacete, coturno e cinto, equipamentos que até hoje fazem parte da farda de Bombeiro Militar.
Cíntia também não esquece o dia em que ela e o irmão saíram de carro para passear com o pai e, mesmo de folga, ele seguiu um sinal de fumaça até descobrir o foco do incêndio e coordenar o combate às chamas.
A soldado Cíntia conta que até pensou em outra profissão. Ser bióloga, por exemplo. Porém, o desejo de ser bombeira falou mais alto. “Meu pai é meu maior exemplo, minha inspiração”, completa.
Já Fábio Júnior foi um pouco além. Começou a cursar Agronomia, na UFMT, e por pouco não se tornou agrônomo. “Quando eu soube que haveria concurso para soldado do Corpo de Bombeiros, não tive dúvida”, diz. Aprovado, abandonou a faculdade para dedicar-se exclusivamente à missão de resgatar e salvar vidas.
Anos depois, já na atividade de bombeiro, o soldado Fábio decidiu seguir mais um passo do pai. Fez a faculdade de Geografia, como o coronel havia feito décadas antes.
Com mais de 40 anos de vida militar, somando os anos do Exército, Marinha e Bombeiros, o coronel Fábio, hoje aposentado, orgulha-se da própria trajetória e, em especialmente, do fato de servir de exemplo aos filhos.
“Sempre ensinei meus filhos que não importa a profissão, a área em que trabalhamos, mas o modo como fazemos, o amor e a dedicação”, assinala. Além de exemplo para os filhos, o coronel Fábio é lembrado como referência de dedicação, amor e superação.
Ex-comandante-geral, o currículo dele registra passagem como chefe de Estado Maior de oito comandantes, além de muitas ações arriscadas, entre as quais o acidente grave que por pouco não o deixou paraplégico. Durante uma operação de treinamento no Véu de Noiva, em Chapada dos Guimarães, ele fazia a descida da cachoeira com uma jornalista, quando ambos caíram.
A jornalista não sofreu lesões graves, mas o coronel teve fraturas da bacia, fez diversas cirurgias e ficou 30 dias internado, além de um longo período sem andar, afastado das funções.
Aposentado desde o final de 1996, há cinco anos perdeu a visão em consequência do diabetes. Em casa, ao lado da esposa Marizia, sua companheira há quase 40 anos, o coronel Fábio mostra que também não perdeu o amor pela vida, pelo bombeiro e o bom humor.
“Fico aqui em casa, onde gosto de reunir a família e receber os amigos, mas também vou para onde me convidarem. Me chamando, se não for para matar e roubar, estou pronto”, brinca.
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