“Foi como uma gestação”, diz professor que adotou menino em MT William de Paula vive com o filho Rodrigo de Paula em Várzea Grande, há oito anos
Há oito anos, o domingo do Dia dos Pais passou a ser bem mais especial para o professor e diretor executivo do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), William de Paula. Ele adotou um menino e desde então conta que realizou seu maior sonho.
Rodrigo Luis Silva de Paula chegou à vida de William com cinco anos. “Foi como uma gestação. Apesar dele já estar um pouco grandinho, tive todas aquelas dificuldades de quem gera uma criança. Aprendi a cuidar, alimentar, enfim, foi como se eu tivesse recebido um bebê”, afirmou.
Ao MidiaNews, o professor relatou que entrou no processo de adoção após receber Rodrigo na sua casa para um período de festas. À época, ele morava em Campo Verde (140 km ao Sul de Cuiabá).
Apesar dele já estar um pouco grandinho, tive todas aquelas dificuldade de quem gera uma criança.Aprendi a cuidar, alimentar, enfim, foi como se eu tivesse recebido um bebê
“O lar da cidade desenvolve um projeto muito bonito no final do ano. Eles deixam as crianças com uma família para que elas passem as férias. E no caso do Rodrigo, ainda não havia uma definição para onde ele iria. E como uma das assistentes sociais tinha feito um estágio na escola que eu trabalhava, ela lembrou de mim e me ligou perguntando se eu tinha a intenção de ficar com uma criança nesse período. Eu, claro, disse sim”, relatou.
Willian mora atualmente com o filho, já com 13 anos, em Várzea Grande. Ele divide os cuidados do menino com seus pais. Durante todo esse tempo, o professor não teve um companheiro. Ele relatou que isso não é objetivo no momento, e sim, a educação de Rodrigo.
O professor contou que, na primeira vez que viu Rodrigo, teve a certeza que ele seria seu filho.
“Foi no primeiro olhar, quando eu o vi vindo em minha direção já falei para psicóloga: ele é meu filho”, afirmou.
“Mas ela me disse que não era assim tão fácil. Que teria que ver se ele teria empatia comigo, pelo menos para passar o período de festas na minha casa. No dia, ele estava com uma moto de brinquedo e eu perguntei se ele gostava de veículos. Ele disse que sim e eu acrescentei se ele me levaria na moto, ele respondeu que sim. Naquele momento a psicóloga já me disse que ele poderia ser meu filho, pois ele não abria a boca para falar com ninguém”, lembrou.
O professor relatou que, no dia seguinte, foi até o Fórum para liberar os documentos para Rodrigo ficar na sua casa durante as festas de final do ano. O combinado foi de passar o Natal e Réveillon e entregá-lo no dia 5 de janeiro. Toda a família de Willian aprovou a iniciativa.
“Durante esse período de férias que ele ficou conosco, eu o levei ao médico, comprei roupas, materiais escolares. Fiz tudo que poderia fazer para que aquele período fosse o melhor possível pra ele. Para que ele voltasse bem ao lar”, relatou.
“Mas chegou no dia de devolver e o coração apertou, apesar de eu ter trabalhado muito isso com ele e comigo mesmo, de que ele só iria voltar para lá para estudar e que nas próximas férias ele voltaria para ficar na minha casa” completou.
No mesmo dia que devolveu Rodrigo ao lar, Willian preencheu a ficha para entrar na fila de adoção.
“Ao preencher a ficha eu já requisitei uma criança com as características dele. A psicóloga me ressaltou, porém, que eu poderia receber outra criança, mas frisou que sabia que eu queria uma criança com mais de cinco anos, com uma certa independência na fala, por conta do meu trabalho”.
“Enfim, dois meses depois, ela (psicóloga) me ligou dizendo que precisaria fazer visitas a minha casa, falar com a minha família. Todo esse processo de adoção. Logo depois, um mês acredito, o juiz me chamou e me disse que não tinha mais como o lar ficar com Rodrigo, que ele já era meu filho”, emocionou.
Diferente de outras pessoas, Willian teve a sorte de passar por um processo de adoção rápido e, mais ainda, ter a sorte de conseguir o filho que o seu coração desejava. Ele agradece isso ao projeto do lar de Campo Verde e também ao juiz da cidade.
Marcus Mesquita/MidiaNews
William afirmou que tem uma relação muito verdadeira com Rodrigo
“É ate assustador, ele foi rápido, eu penso que essa rapidez se deu por conta daquele projeto de adotar no dias das férias. Porque foi uma acolhida muito bonita para ele. A gente passou a ser referência de família para ele. O que mais me deixou marcado foi que esse juiz teve o sentimento do pai, o sentimento do cuidar, independe de quem seja, independente da família”, disse.
Paizão
Rodrigo foi acolhido por toda a família de William. Ele contou que todos ficaram encantados com o menino e que em nenhum momento percebeu algum preconceito para com a criança ou com a sua decisão. “Se teve foi muito velado”.
O professor relatou que teve que aprender a ser pai e mãe para Rodrigo.
“Eu fui entendendo os traumas, as dificuldades dele. As pessoas que querem adotar, sejam elas solteiras ou casais, precisam estar preparadas para isso, mas eu acho que o amor, o querer cuidar, fala mais alto”, afirmou.
Conforme William, Rodrigo foi parar no lar porque sua avó materna biológica não tinha condições financeiras para cuidar dele.
“Fiquei sabendo que ele chegou lá desnutrido, descuidado, não por falta do amor dela (avó), mas por falta de condições financeiras mesmo. A história da família em si eu não quis saber. Mas assim, são pessoas que viviam com bebidas”, relatou.
De acordo com o professor, Rodrigo não fala dos seus familiares biológicos.
“Talvez ele nem lembre. Naquele primeiro contato que eu tive com ele, eu percebi que ele tinha como a referência a avó. Hoje ele não fala mais sobre ela. Hoje ele tem os avôs paternos, que são meus pais, os tios que são meus irmãos, os primos, toda minha família”, disse.
William ressaltou que Rodrigo é muito elétrico, estudioso, e claro, tem alguns problemas de relacionamento na escola, como qualquer outra criança. Segundo o pai, o filho pretende estudar na IFMT e se tornar engenheiro elétrico.
“Por mais que meus pais ajudem, por conta dessa minha rotina do trabalho, eu tenho um papel de pai mesmo, eu chego em casa, pego a agenda, vejo as tarefas, o horário de aula, os compromissos dos horários, essas coisas tem que acompanhar”, disse.
O professor relatou que tem uma relação muito bonita com o filho e, devido a isso, a figura materna para ele fica esquecida.
“A ligação que ele tem comigo e que eu tenho com ele é muito forte. Temos um diálogo muito bom, ele entende porque eu cobro postura na escola, as lições do dia-a-dia dele e também minha rotina de trabalho, que não é tão simples assim”, frisou.
Sem preconceito
Rodrigo recebe até hoje acompanhamento psicológico. William ressaltou, porém que os dois nunca foram vítimas de preconceito.
“Em nenhum momento nós vivenciamos preconceito. Dentro de casa tivemos sempre muito apoio. Na escola, onde pensei que fosse ser um pouco mais complicado, foi tranqüilo”
“Teve até uma situação no ensino fundamental, que uma das lições era falar sobre o tipo de família, incluindo crianças adotadas. E quando eu vi que na cartilha ia ter essa lição, eu procurei a coordenadora. Ela falou: Willian, vamos deixar, deixa ele lidar com isso. E no dia que teve essa lição, ele levantou e falou que era adotado. E as crianças reagiram bem, porque ele falou que me ama, que eu o tirei do lar e estava dando uma vida para ele”, disse o pai, emocionado.
Lição
Willian sempre teve o sonho de ser pai. Ele ressaltou que não importa se a criança vive com uma família tradicional, aquela que tem um pai e uma mãe, ou com duas mães, dois pais, ou ainda, no caso dele, apenas um pai. O importante, segundo o professor, é que a criança seja amada, compreendida e feliz.
“E eu tenho certeza que o Rodrigo é muito feliz comigo, e obviamente eu com ele”, pontuou, desejando um feliz Dia dos Pais para todos.
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