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Comportamento
Segunda - 19 de Setembro de 2016 às 07:20
Por: Jad Laranjeira/Mídia News

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Marcus Mesquita/MidiaNews
A estudante de Rádio e TV Amanda Polveiro, de 21 anos, se diz apaixonada por tatuagens
A estudante de Rádio e TV Amanda Polveiro, de 21 anos, se diz apaixonada por tatuagens

Mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir que órgãos públicos excluam de concursos candidatos tatuados, o preconceito ainda é grande e, constantemente, presente na vida de quem possui um desenho no corpo.

De acordo com a decisão do Supremo, só poderá haver algum tipo de restrição caso o desenho viole os “valores constitucionais”, como fazer apologia à violência, racismo ou terrorismo, por exemplo.

Porém, boa parte do preconceito contra tatuagens provém da cultura cristã e vem de muitos anos atrás, quando a tatuagem foi banida e proibida na Europa no primeiro século depois de Cristo. Na época, as autoridades religiosas a consideravam um vilipêndio à santidade do corpo, que era considerado o “templo do Espírito Santo”.

A Igreja Católica, por sua vez, também passou a considerar pessoas que se tatuavam como pecadoras e abolia quem tinha o corpo pintado.

Entretanto, no século XXI algumas pessoas ainda insistem em se ater ao pensamento ancestral. E o principal foco de preconceito contra tatuagens é o mercado de trabalho.

Com isso, a decisão do Supremo é considerada o primeiro passo para que se coloque fim ao preconceito, pelo menos nesta área. No entanto, há quem diga que ainda há muito a ser feito para mudar o pensamento das pessoas.

É o que diz o estudante de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Alison Rodrigues, de 27 anos, que tem desenhadas em seu corpo mais de 30 tatuagens. Ele disse que sempre passa por situações constrangedoras por conta da discriminação.

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Estudantes UFMT

Alison Rodrigues, de 27 anos, tem desenhadas em seu corpo mais de 30 tatuagens

“Realmente esse é apenas o primeiro passo, porque eu mesmo já passei e ainda passo por muitas situações constrangedoras. Tudo porque as pessoas associam a tatuagem no meu corpo a algo ruim”, disse.

Para ele, tentar mudar a mentalidade das pessoas que ainda têm preconceito é um trabalho a longo prazo.

“Acredito que as pessoas ainda têm que mudar muito a mentalidade, mas isso vai levar um tempo. Até porque as pessoas não vão deixar de se tatuar porque as outras não gostam”, afirmou.

“Essa decisão é o mínimo que já estávamos esperando há muito tempo, até porque a tatuagem não interfere em nada na sua capacidade de exercer o seu trabalho, seja lá qual área for”.

Grande parte do preconceito profissional contra a tatuagem acontece principalmente nas profissões mais tradicionais, como de médico, engenheiro e advogado.

A visão do público ainda é altamente preconceituosa. E isso dita a contratação ou não de um profissional tatuado.

Alison lembra que já chegou a perder vagas de emprego por ter o corpo tatuado e que, por isso, decidiu ser autônomo, onde viu que o preconceito está no empregador e não nos clientes que admiram o seu trabalho.

“Uma vez fui numa entrevista de emprego e a moça que estava me entrevistando não conseguia olhar no meu rosto. Ficava olhando a todo o momento para o meu braço. Ela não conseguia nem conversar comigo. Enquanto eu estava ali tentando falar com ela e mostrar meu serviço, meu portfólio, mostrar meu currículo, tudo isso não se tornou interessante para ela, porque minhas tatuagens chocavam mais. E depois ainda escutamos o ‘papo’ de que não somos contratados por causa dos clientes. No fim das contas sabemos que não é por causa disso, até porque eu trabalho por conta própria hoje e as pessoas não se incomodam”, contou.

Essa decisão é o mínimo que já estávamos esperando há muito tempo, até porque a tatuagem não interfere em nada na sua capacidade de exercer o seu trabalho, seja lá qual área for

Na rua é onde mais acontece a discriminação. Segundo o estudante, as pessoas já chegaram até a fazer o sinal da cruz quando passam por ele.

“As pessoas já me pararam na rua e falaram: 'nossa, um moço tão bonito e mutilou seu corpo desse jeito"! Outra vez fui pedir informação e antes de eu começar a falar a moça saiu correndo abraçando a bolsa, isso quando não passam por mim e fazem sinal da cruz”, lembrou.

O estudante contesta a tese de que o preconceito tem diminuído. Para ele, continua forte.

”Uma vez o taxista não quis me levar. Estava na vez dele e ele falou: 'Pega o taxi de trás que não vou te levar'. Eu o questionei, tentei discutir, fotografar o rosto dele, mas ele não deixou e rolou uma pequena comoção ali. Então optei por sair para evitar constrangimento maiores”, disse.

Alison diz que quando era adolescente se incomodava bastante, mas que hoje em dia já aprendeu a lidar com esse tipo de preconceito, que ele considera “ignorante” e “estúpido”.

“Já estou acostumado e isso não me fere porque essa reação das pessoas é muito estúpida. Quando eu era garoto, isso me incomodava bastante. Porque pra mim não fazia sentido as pessoas me tratarem assim por causa de um desenho no meu corpo, quando a minha personalidade é o mais importante".

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Estudantes UFMT

“Esse preconceito é muito relacionado com a criminalidade, é uma noção ultrapassada de que bandido é que tem tatuagem", diz Amanda

“No fim das contas a gente percebe que as pessoas associam uma pessoa tatuada à marginalidade e é uma coisa complicada. Mas se for sofrer com isso, você não vive. Então aprendi a ignorar”.

Alison chama atenção para que as pessoas pensem que elas têm filhos e netos, que podem se identificar e querer fazer um desenho também.


Paixão por tatuagem

Já a estudante de Rádio e TV, Amanda Polveiro, de 21 anos, declara que se apaixonou por tatuagem desde pequena e aos 14 anos teve coragem de fazer sua primeira tattoo.

“Tenho nove tattoos e fiz a primeira com 14 anos. Eu sempre achei bonito. No começo dizia que não teria coragem de fazer por conta da dor, mas fui conhecendo estúdios e quis fazer. Depois me apaixonei”, disse.

Amanda comemorou a decisão do STF porque pensa em prestar concurso futuramente.

“Acho que já havia passado da hora de isso acontecer, até porque nós que temos tattoo somos membros da sociedade do mesmo jeito que quem não tem. Trabalhamos, estudamos e lidamos com responsabilidades. Então, independente da sua crença ou da sua opinião, você tem que respeitar a vida dos outros”, afirmou.

Apesar de a jovem trabalhar como modelo e atriz, ela afirma que nunca sofreu algum tipo de preconceito por conta dos desenhos em seu corpo. Ela também recrimina a atitude e se solidariza com os colegas já discriminados.

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Estudantes UFMT

O estudante de jornalismo Octávio Gama, de 25 anos, acredita que a aceitação tem que começar dentro de casa

“Não poder trabalhar por conta de tatuagem é no mínimo ridículo. Trabalho desde os 13 anos e nunca sofri preconceito por conta da tattoo. Sou uma pessoa que nunca as escondi. Então pode ser que os lugares em que eu vou sempre aceitam. Mas caso eu venha a ter futuramente algum problema com algum empregador, a minha postura vai eliminar isso, porque eu não vou querer trabalhar num lugar que não me aceite. É uma visão de mão dupla”, disse.

“Esse preconceito é muito relacionado com a criminalidade. É uma noção ultrapassada de que bandido tem tatuagem. O corpo é meu eu vou pintar se eu quiser”.

Aceitação dentro de casa

Amanda ainda lembra que contou aos pais de sua vontade de tatuar o corpo. E quem a levou para fazer sua primeira foi o próprio pai. Para ela, o papel da família é imprescindível.

Já o estudante de jornalismo Octávio Gama, de 25 anos, disse que no começo a aceitação na família foi difícil, mas que precisa ser trabalhado com cuidado.

Octávio diz que sempre os familiares estranham, principalmente aqueles de idade mais avançada.

Já sofri vários tipos de preconceitos, nenhum traumático, mas sempre tem aquelas abordagens clássicas, do tipo ‘Jesus te ama’

“A família tem uma estranheza quando vê. Já acha que estamos envolvidos em algo errado. E tem todo tipo de preconceito, porque eu acredito que elas já têm aquele pensamento formado desde novos, que os induzem a isso. Então tentar mudar é mais difícil".

Ele acredita que o preconceito ainda existe, mas que também já aprendeu a lidar com a situação.

“Já sofri vários tipos de preconceitos, nenhum traumático, mas sempre tem aquelas abordagens clássica, do tipo ‘Jesus te ama’. Ou também acontece muito de alguns pais, não todos, mas quando estão com criança do lado, eles puxam para longe de mim. Eu dou risada dessas pessoas. Aprendi a lidar com a situação, nunca tive nada traumático”.

Quanto à decisão do STF, ele diz que já devia ter acontecido bem antes.

“Eu não vou dar mérito nenhum, porque o que eles estão fazendo é quebrando um gesto que eles criaram no passado. Eles não estão fazendo nada mais que a obrigação deles, em respeito ao próximo, até porque proibir isso é negar a individualidade da pessoa”.

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