Sem mandato, Neurilan deve comandar AMM
Prefeitos de Mato Grosso criaram um artifício para possíveis enfrentamentos com o governador Pedro Taques (PSDB). Numa assembleia em março de 2015 acrescentaram ao estatuto da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) o direito de seu presidente, mesmo após concluir sua administração na prefeitura disputar a reeleição na entidade. Essa manobra tinha endereço certo: Neurilan Fraga (PSD), que está em campanha por novo mandato na AMM.
A mudança no estatuto aconteceu num momento de tensa relação da AMM com o governo por conta do atraso no repasse de 50% do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) por parte do Palácio Paiaguás aos municípios, situação que ocorreu no começo daquele ano. Longe da mídia prefeitos criticavam o governo, mas não se expunham temendo retaliação. A saída encontrada foi criar o mecanismo que permite a eleição de ex-prefeito para presidir a entidade.
Neurilan coordenou a manobra para a mudança e, agora, ao término de seu segundo mandato de prefeito de Nortelândia, se lança mais uma vez na disputa pela direção da AMM. Segundo ele, a presidência exige dedicação integral, o que nem sempre é possível quando se tem que dividir o tempo entre o município e a entidade, e “evita que o município do presidente sofra represálias em razão das cobranças da AMM”, resume.
Quando a eleição acontecer o cenário político não será o mesmo da época da mudança do estatuto. Dos 141 prefeitos, somente 31 se reelegeram. O fato de se criar uma ferramenta para o enfrentamento é visto nos meios políticos como algo desafiador que poderá levar o partido do governador e seus dois maiores aliados, o PSD e o PSB a se unirem em torno de um nome para enfrentar Neurilan. Os tucanos conquistaram 39 prefeituras, o PSD 23 e o PSB 15. Juntos somam 77 prefeitos. “Não temo essa possibilidade (da resistência governista), pois nossa eleição é suprapartidária, sua essência é municipalista, e além do mais, 90% dos eleitos e reeleitos apoiam minha candidatura”, analisa” o candidato à reeleição.
Neurilan não desconversa sobre enfrentamentos e o vê como necessário, tanto em Mato Grosso como em Brasília. Cita que a recente repatriação de ativos, que contemplará os municípios é uma luta de sua entidade. “A AMM recebe aprovação dos meus colegas por seu desempenho proativo nos últimos anos. Hoje, recebi a visita do deputado estadual e prefeito eleito de Rondonópolis, Zé Carlos do Pátio (SD), que veio hipotecar apoio à minha candidatura”, revela.
Muito além da função de presidente da AMM seu próximo presidente terá importante papel político, pois estará à sua frente quando das eleições gerais em 2018. Esse estratégico cargo certamente terá peso diferenciado na esfera política. Se o eleito for Neurilan, o grupo de Taques poderá ficar sob fogo cerrado. Se o vencedor for prefeito ligado ao governador a situação inverte.
Por enquanto, candidato único, Neurilan avança nas costuras políticas junto aos atuais e os futuros prefeitos. Os tucanos correligionários de Taques ainda não se pronunciaram, mas sabem da capacidade de articulação do presidente que busca o segundo mandato. Em 18 de dezembro de 2014 ele chegou ao cargo com 59 votos após derrotar o candidato governista e prefeito de Lucas do Rio Verde, Otaviano Pivetta (à época PDT e agora PSB), que recebeu 30 votos, e a candidatura independente de Adair José Moreira (PMDB), de Alto Paraguai, que cravou 32 votos.
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