Sergio Batista, o criador do Humortadela, está deixando o mundo das piadas online. (Foto: Facebook.com/Reprodução)
A descoberta de cópias de antigas piadas tuitadas num perfil cômico do Facebook nessa semana reforçam a teoria de um dos pioneiros do humor na internet, o fundador do Humortadela. Para Sergio Batista, cujo site foi relançado há três semanas, depois de ser vendido para a empresa brasileira de entertenimento Orapois, hoje em dia "piada é commoditie".
Prestes a se aposentar do mundo das piadas online, Batista explicou a tese em entrevista ao Terra.
"Na época do nosso lançamento, a rede social era o bar. As coisas não eram tão comuns como são hoje. E toda a audiência que a gente conseguia era no boca a boca. Hoje, piada é commodittie. Assim fica difícil manter o fator surpresa no humor, já que todo mundo conhece quase tudo", explica Batista.
A consequência, prossegue o humorista, é um humor mais apelativo e nem sempre muito inteligente. "A gente vê o uso exagerado de palavrões, do mau gosto e piadas que ofendem minorias. Outro dia tinha uma gorda dançando axé na capa dum portal recebendo milhares de visitas. Pra mim isso só prova de que a gente usa muito mau a internet", acrescenta.
Durante 15 anos, Batista manteve o Humor Tadela no ar. Criado em 1995, o site chegou a ter um em cada 10 internautas brasileiros passando por sua URL em um único mês, auge atingido em 2006. Na época, as métricas mensais eram de 4 milhões de usuários únicos e 280 milhões de views, além de 140 mil piadas vistas por dia.
Agora, com a venda da página para o grupo Verisoft, dono do Orapois, por um valor não revelado, Batista segue dando consultoria ao relançamento, mas adianta: "o site está em boas mãos, e eu não tenho pretensão de continuar com o humor online".
Fazendo Humortadela
A chegada de Batista a esse meio começou de um jeito meio chato e off line, com uma empresa de banco de dados. na década de 1990, ele recolhia formulários, colocava no computador e vendia os dados para clientes, entre eles, a editora Abril. Um dia, a própria Abril resolveu lançar um site com um canal de empregos, e contratou Batista para preparar o banco na rede.
"Aí eu fui ver como era esse troço de site, e fiz uma página de humor pra mim. Comecei em 3 de dezembro de 1995, me lembro sempre dessa data. Toquei o Humor Tadela em paralelo por três anos, até 1998, quando fechei o site de empregos e resolvi ganhar a vida fazendo graça", relembra Batista.
Uh!, azedou
Em 2006, o site atingiu o seu auge. Um ano depois, porém, problemas técnicos e financeiros começaram a aparecer. "O banco de dados (de piadas) começou a ficar enorme, com vídeos e flashs. Tudo isso era muito pesado e exigia investimentos, dinheiro mesmo. O problema é que o dinheiro não veio... os anunciantes são muito preconceituosos com relação ao humor e à sátira. Teve época em que tive até que tirar as piadas mais acessadas por não ter como segurar a hospedagem", lamenta.
As agruras não começaram aí. Antes disso, Batista pegou o estouro da bolha da internet, em 2000, quando passou de 21 para três funcionários.
Como se não bastassem os gastos, também vieram as custas judiciais. Desde a fundação, o Humortadela foi alvo de pelo menos 10 processos, um vindo do governo federal, envolvendo apologia a maus tratos de animais. "A gente tinha um joguinho em que o macaco jogava pedras no internauta e o internauta jogava pedra nele. Pode?... Sei que sempre que se fizer piada crítica vai ter problema, mas era um macaco virtual!", relembra.
Depois dos 15 anos de malabarismos, como diz Batista, o resultado foi o fechamento do Humor Tadela em junho do ano passado."É um negócio artístico que não é rentável em si. Eu tinha que matar um leão por dia para pagar as contas", declara.
Humortadela, o retorno
Com o relançamento, dentro de um grupo com melhores condições técnicas de manter o site, o desafio é outro.
"Queremos retomar o sucesso do site no seu auge, com 4 milhões de usuários", diz Vitor Lisboa, diretor do grupo Verisoft, que adquiriu a marca e o conteúdo. Repetir a métrica não necessariamente significa ter a mesma abrangência de usuários. Quando o Humortadela chegou aos 4 milhões de usuários, o Brasil tinha 35,3 milhões de internautas, segundo o Ibope. Hoje, são 82,44 milhões. Na ponta do lápis, mesmo chegando ao número, o percentual de internautas atingidos cairia para menos da metade dos áureos tempos do site.
Além do crescimento no acesso à internet, outro fenômeno surgiu: as redes sociais. Hoje, a piada que chegava por e-mail migrou para os recados do Facebook, e os humoristas mais populares da rede não surgem pelo boca a boca, mas pelo retweet a retweet.
Para tudo isso, garante Lisboa, há solução: "voltamos com um site mais ágil e mais ácido, e com o aval de quem criou o Humortadela do início. Estamos confiantes no projeto".
E Batista, que há 30 anos atua na área de TI, se dedica hoje ao monitoramento de sites, garante que mesmo de longe, vai seguir acompanhando o Humortadela. "É... a gente nunca deixa de ser o pai da coisa", finaliza.
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