Enchente de 1974
Há 43 anos, 20 mil ficaram desabrigados Em 17 de março de 1974, as águas do rio Cuiabá subiram 10,87 metros, 1,37m acima da cota de emergência (9,50m)
O dia 17 de março é a data em que aconteceu a mais devastadora das enchentes causadas pelo rio Cuiabá, na área metropolitana da capital, desabrigando cerca de 20 mil famílias. Era o ano de 1974, quando as águas do “Cuiabá” subiram 10,87 metros, 1,37m acima da cota de emergência (9,50m).
Antes da inundação de 1974, a capital já havia registrado outras duas grandes enchentes causadas pelo rio que afetaram parte da população, nos anos de 1942 e 1959. Mas nenhuma causou tantos problemas como a da década de 70. Já em 95, o “Cuiabá” voltou a castigar parte da população, ao atingir 10,48m no mês de fevereiro daquele ano. Mas, no final da década de 90, a construção da Usina Hidrelétrica de Manso, localizada a 65 quilômetros da capital, começou a mudar o rumo dessa história. A construção de Manso começou a ser pensada já na ocasião da cheia de 74, que inundou casas e desabrigou moradores dos antigos bairros do Terceiro, Terceiro de Dentro, Terceiro de Fora, Várzea Ana Poupina e Barcelos.
"A calamidade de 1974 mexeu com as autoridades. De imediato, o ministro do Interior, Rangel Reis, veio a Cuiabá e tomou duas decisões radicais que marcaram profundamente a vida da cidade", conta o arquiteto e urbanista José Antonio Lemos dos Santos, conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (CAU-MT).
Lemos se refere ao fato de que os moradores foram para áreas não atingidas e ficaram alojados em barracões, escolas, igrejas, no Estádio Presidente Dutra ou em casas de parentes e amigos. Outros ficaram no antigo Parque de Exposições, que funcionava na Avenida da FEB, em Várzea Grande.
As famílias já haviam enfrentado várias outras enchentes e sempre voltavam para os seus lares. Mas, na de 1974, elas foram impedidas de retornar pelo Exército, a Polícia Militar e o DOPS (antiga Polícia Civil).
Em meio aos desalojados estava a família da pensionista Alice de Amorim, de 75 anos, que desde então passou a morar no bairro Novo Terceiro, um dos locais para onde os atingidos foram transferidos. "(Governador José) Fragelli determinou a transferência de todo mundo, mas acho que não precisava. Nem todas as casas foram atingidas", relatou.
Alice Amorim lembra que morava na antiga Rua de Fora com o falecido marido e os 10 filhos. Ela garante que o imóvel foi um dos que foram preservados pelas águas do rio. "Minha casa não ficou inundada. Eu gostava do lugar e não queria sair de lá", disse.
Anos depois, na enchente de 1995, cerca de 8 mil pessoas ficaram desabrigadas, com o índice do nível das águas atingindo outros números impressionantes: 10,48 metros na capital. Mas, ao contrário destas datas, a tragédia de 2001, quando 10 pessoas morreram, foi provocada por um forte temporal, que atingiu especificamente os córregos da capital. A cota de alerta do rio é de 8,50m.
Desde o seu funcionamento, Manso tem cumprido o seu papel de regularizar o ciclo da cheia ou seca no rio Cuiabá. Porém, Lemos lembra que a usina foi projetada com o conceito de aproveitamento de múltiplo uso. “Muitos pensam que Manso foi construída para gerar energia, o que foi um subproduto importante, pois vem servindo para garantir estabilidade energética para Mato Grosso. Mas ainda há muitos outros potenciais que começaram a ser explorados, como a aquicultura e o turismo”, frisou.
O entendimento é de que os governos estadual e municipal precisam estudar e investir mais nos potenciais de toda a região em que está localizada a usina. “Inclusive, sobre a liberação ou não da cota máxima de inundação”, comentou. Hoje, essa cota é de 150 metros acima do nível do mar, o que significa que dentro desse raio não pode haver ocupações.
Para Lemos, os múltiplos aproveitamentos de Manso também poderiam ser destinados para o abastecimento de água das cidades ao longo do rio Cuiabá abaixo, por meio de um aqueduto que traria por gravidade água já decantada da barragem. “Manso é uma caixa d’água pronta a 100 metros acima de Cuiabá e o aqueduto merecia ao menos um estudo de viabilidade”, apontou.
MÁXIMAS E MÍNIMAS - Dados da Defesa Civil de Cuiabá, coletados entre os anos de 1971 e 2008, mostram que historicamente o rio Cuiabá apresenta níveis mais altos de suas águas entre os meses de dezembro e março de cada ano, período das chuvas.
A partir de abril, as águas começam a baixar. Além das cheias registradas em março de 74 (10,87m) e fevereiro de 95 (10,48m), outra máxima registrada nesse período ocorreu em janeiro de 79, quando o nível chegou a 9,18 metros. Um ano depois, o rio voltou a preocupar. Em 1980, no mês de março, as águas subiram 9m. Já em fevereiro de 82, chegaram a 8,88m.
Já as mínimas, ocorrem nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro, sendo que por três anos seguidos o rio chegou a atingir cota negativa. “Em setembro de 98, chegou a negativos 0,06cm e no mesmo mês do ano seguinte a menos 0,07. Em 2000, nos meses de maio e novembro a régua chegou a negativos 0,10”, destacou o coordenador da Defesa Civil, José Pedro Zanetti.
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