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Sexta - 17 de Março de 2017 às 10:36
Por: Joanice de Deus/Diário de Cuiabá

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O dia 17 de março é a data em que aconteceu a mais devastadora das enchentes causadas pelo rio Cuiabá, na área metropolitana da capital, desabrigando cerca de 20 mil famílias. Era o ano de 1974, quando as águas do “Cuiabá” subiram 10,87 metros, 1,37m acima da cota de emergência (9,50m).

Antes da inundação de 1974, a capital já havia registrado outras duas grandes enchentes causadas pelo rio que afetaram parte da população, nos anos de 1942 e 1959. Mas nenhuma causou tantos problemas como a da década de 70. Já em 95, o “Cuiabá” voltou a castigar parte da população, ao atingir 10,48m no mês de fevereiro daquele ano. Mas, no final da década de 90, a construção da Usina Hidrelétrica de Manso, localizada a 65 quilômetros da capital, começou a mudar o rumo dessa história. A construção de Manso começou a ser pensada já na ocasião da cheia de 74, que inundou casas e desabrigou moradores dos antigos bairros do Terceiro, Terceiro de Dentro, Terceiro de Fora, Várzea Ana Poupina e Barcelos.

"A calamidade de 1974 mexeu com as autoridades. De imediato, o ministro do Interior, Rangel Reis, veio a Cuiabá e tomou duas decisões radicais que marcaram profundamente a vida da cidade", conta o arquiteto e urbanista José Antonio Lemos dos Santos, conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (CAU-MT).

Lemos se refere ao fato de que os moradores foram para áreas não atingidas e ficaram alojados em barracões, escolas, igrejas, no Estádio Presidente Dutra ou em casas de parentes e amigos. Outros ficaram no antigo Parque de Exposições, que funcionava na Avenida da FEB, em Várzea Grande.

As famílias já haviam enfrentado várias outras enchentes e sempre voltavam para os seus lares. Mas, na de 1974, elas foram impedidas de retornar pelo Exército, a Polícia Militar e o DOPS (antiga Polícia Civil).

Em meio aos desalojados estava a família da pensionista Alice de Amorim, de 75 anos, que desde então passou a morar no bairro Novo Terceiro, um dos locais para onde os atingidos foram transferidos. "(Governador José) Fragelli determinou a transferência de todo mundo, mas acho que não precisava. Nem todas as casas foram atingidas", relatou.

Alice Amorim lembra que morava na antiga Rua de Fora com o falecido marido e os 10 filhos. Ela garante que o imóvel foi um dos que foram preservados pelas águas do rio. "Minha casa não ficou inundada. Eu gostava do lugar e não queria sair de lá", disse.

Anos depois, na enchente de 1995, cerca de 8 mil pessoas ficaram desabrigadas, com o índice do nível das águas atingindo outros números impressionantes: 10,48 metros na capital. Mas, ao contrário destas datas, a tragédia de 2001, quando 10 pessoas morreram, foi provocada por um forte temporal, que atingiu especificamente os córregos da capital. A cota de alerta do rio é de 8,50m.

Desde o seu funcionamento, Manso tem cumprido o seu papel de regularizar o ciclo da cheia ou seca no rio Cuiabá. Porém, Lemos lembra que a usina foi projetada com o conceito de aproveitamento de múltiplo uso. “Muitos pensam que Manso foi construída para gerar energia, o que foi um subproduto importante, pois vem servindo para garantir estabilidade energética para Mato Grosso. Mas ainda há muitos outros potenciais que começaram a ser explorados, como a aquicultura e o turismo”, frisou.

O entendimento é de que os governos estadual e municipal precisam estudar e investir mais nos potenciais de toda a região em que está localizada a usina. “Inclusive, sobre a liberação ou não da cota máxima de inundação”, comentou. Hoje, essa cota é de 150 metros acima do nível do mar, o que significa que dentro desse raio não pode haver ocupações.

Para Lemos, os múltiplos aproveitamentos de Manso também poderiam ser destinados para o abastecimento de água das cidades ao longo do rio Cuiabá abaixo, por meio de um aqueduto que traria por gravidade água já decantada da barragem. “Manso é uma caixa d’água pronta a 100 metros acima de Cuiabá e o aqueduto merecia ao menos um estudo de viabilidade”, apontou.



MÁXIMAS E MÍNIMAS - Dados da Defesa Civil de Cuiabá, coletados entre os anos de 1971 e 2008, mostram que historicamente o rio Cuiabá apresenta níveis mais altos de suas águas entre os meses de dezembro e março de cada ano, período das chuvas.

A partir de abril, as águas começam a baixar. Além das cheias registradas em março de 74 (10,87m) e fevereiro de 95 (10,48m), outra máxima registrada nesse período ocorreu em janeiro de 79, quando o nível chegou a 9,18 metros. Um ano depois, o rio voltou a preocupar. Em 1980, no mês de março, as águas subiram 9m. Já em fevereiro de 82, chegaram a 8,88m.

Já as mínimas, ocorrem nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro, sendo que por três anos seguidos o rio chegou a atingir cota negativa. “Em setembro de 98, chegou a negativos 0,06cm e no mesmo mês do ano seguinte a menos 0,07. Em 2000, nos meses de maio e novembro a régua chegou a negativos 0,10”, destacou o coordenador da Defesa Civil, José Pedro Zanetti.





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