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Sexta - 14 de Abril de 2017 às 09:33
Por: Alecy Alves/Diário de Cuiabá

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Dinalte Miranda/Diário de Cuiabá
Homem dormindo em calçada em plena Avenida do CPA: desafio para a cidade
Homem dormindo em calçada em plena Avenida do CPA: desafio para a cidade

Cuiabá chegou aos 298 anos com desafios comuns aos grandes centros urbanos. A cidade que segundo a última estimativa do IBGE tem 585 mil habitantes (dados de 2016), assiste ao número de pessoas em situação de rua crescer e se espalhar por praças, calçadas, casarios abandonados, viadutos, becos e outros espaços públicos.

Como não há pesquisas oficiais, os números diferem entre si. As referências podem variar de 350 a 3 mil. Somente na “Ilha da Banana”, conjunto de casas abandonadas próximo ao Morro da Luz, há cerca de 80.

Mas, estatísticas à parte, a verdade é que uma caminhada pelas ruas centrais ou por vias do entorno da Estação Rodoviária é suficiente para assustar-se com o tamanho e a complexidade do problema.

Boa parte dos moradores de rua, homens e mulheres, vagueia como zumbis pela cidade e falam coisas desconexas. Esse comportamento seria resultado da dependência química, dos danos causados pelo uso contínuo de drogas, lícitas e ilícitas – álcool, cocaína, crack, entre outras.

São as drogas, conforme a secretária-adjunta municipal de Assistência Social e Desenvolvimento Humano, assistente social Marlene Anchieta Vieira, que levam a maioria à situação de rua e ao rompimento dos vínculos familiares.

A Secretaria de Assistência também não tem estatística, porém registrou 125 pessoas em situação de rua em uma pesquisa concluída dias atrás. Desses, 125 aceitaram responder um questionário.

O perfil dessa amostragem, denominada “Quero te conhecer”, é o seguinte: 80% são homens, 19% mulheres e 1% não declarou o gênero. Cerca de 60% disseram que estudaram apenas as primeiras séries do ensino fundamental(até, no máximo, o 4º ano), 28% têm entre 21 e 30 anos, 22% entre 31 e 40.

Quanto à cor, 58% se declararam pardos, 21% brancos e 8% negros. Quando indagados de onde vieram, 34% responderam que são nasceram em Cuiabá e 59% que são de cidades de Mato Grosso.

Todavia, nesse universo diversificado cuja maioria tem baixa escolaridade, há casos de cidadão graduados. Conforme a pesquisa, 2,4% concluiu o ensino superior completo e 0,8% tem pós-graduação.

A partir desse trabalho, o município, segundo Marlene, quer traçar seu plano de ação em conjunto com outros órgãos, como Saúde, Ministério Público e a sociedade em geral. Atualmente, o único serviço oferecido pela prefeitura são vagas em um albergue e um programa federal de transferência de renda.

Há alguns anos, antes de conceder o benefício, a prefeitura cadastrou 360 pessoas, das quais 261 passaram a receber uma bolsa de R$ 79(ao mês). Para Marlene Anchieta, essa é uma questão difícil de ser trabalhada. “Vamos precisar da sociedade”, completa.

O conhecimento sobre o direito à liberdade, de escolher se querem ir para abrigo/unidade terapêutica ou permanecer na rua, é algo compartilhado pela maioria. E a percepção de Marlene é que praticamente todos escolhem a rua. “Não podemos retirá-los à força e levá-los para abrigo ou clínica”, diz ela, observando que muitos já estão nessa condição há 10, 15 e até 20 anos.

Luis Antônio, 35 anos, é um desses exemplos. Na rua desde os 20 anos, quando ficou órfão de mãe, não pensa em sair de Cuiabá tampouco perder a liberdade de viver onde quiser e fazer uso de crack. “Eu sou o que você está vendo, não quero mudar”, resume, já demonstrando impaciência.





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