Carne Fraca: Demanda firme não sustentou arroba Mesmo com consumo inalterado, exportações em alta, valor pago ao pecuarista segue caindo desde 17 de março quando Operação foi deflagrada
Das sete unidades frigoríficas paralisadas em Mato Grosso, como consequência da Operação Carne Fraca, quatro delas pertencentes à JBS/Friboi se prepararam para retomar as atividades na próxima segunda-feira, 24, após 20 dias de férias coletivas, que segundo a companhia foram necessárias para ajustar produção e estoque a nova demanda interna e externa motivada pela Operação. No entanto, o retorno dos frigoríficos ainda não surtirá efeito positivo sobre o mercado do boi que conforme a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) encerrou o primeiro mês pós-Carne Fraca com a arroba desvalorizada em quase 11%.
O preço da arroba do boi caiu 4,6% nos últimos 30 dias e comparando abril do passado com abril deste ano, a queda é de 10,6%, passando de R$ 136,8 para R$ 122,27, de acordo com índice do Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Cepea) para Cuiabá. A queda, porém, não decorre da demanda. Diferente do que era esperado, o consumo de carne em Mato Grosso não oscilou no último mês, mantendo o preço médio do quilograma estabilizado em R$ 21,10, com pequena variação de 0,4% entre março e abril, e as exportações registraram aumento de 8,4% nos embarques na comparação entre março de 2016 e de 2017.
Como pontuam os diretores da Acrimat, a desvalorização da arroba do boi gordo é consequência da paralisação de sete plantas frigoríficas no Estado e mesmo com o retorno das plantas a possível reposição de preços não se dará de forma imediata e nem tão pouco ocorrerá na mesma velocidade com que foi depreciada. Estão suspensos os abates nas unidades do JBS em Juína, Alta Floresta, Pedra Preta e Diamantino – que conforme a assessoria retornam à atividade no dia 24 -, do Marfrig em Tangará da Serra, do Minerva em Várzea Grande e do Frialto de Matupá.
Todas essas empresas alegaram que com Operação Carne Fraca, desencadeada pela Polícia Federal no dia 17 de março, e o fechamento temporário de alguns mercados externos, a indústria precisou readequar seus estoques e, por isso, concedeu férias coletivas. “A decisão dos frigoríficos é vista pelo setor produtivo como uma estratégia de mercado para manipulação de preços”.
O diretor-executivo da Acrimat, Luciano Vacari, explica que esta manobra fica mais evidente ao comparar o movimento dos preços no campo com o varejo. “Mais uma vez, o pecuarista paga sozinho a conta e o consumidor final não sente os reflexos efetivos da queda no preço da arroba. A demanda interna se manteve e as exportações em março não foram prejudicadas com as oscilações de mercado. Mesmo assim, a arroba caiu mais de 10%”.
O proprietário da casa de carnes Martins, em Cuiabá, João Batista Mendes Fortes, afirma que o consumo de carne aumentou 20% nos últimos 30 dias, o que considera uma raridade devido à Quaresma. “Geralmente o consumo cai neste período do ano, mas aqui as vendas cresceram. Acredito que o consumidor está preferindo comprar carne fresca à carne processada ou embalada”.
Para o pecuarista, os números do mercado não batem com o valor oferecido pelo seu produto. Raphael Nogueira, de Castanheira, explica que na região os pecuaristas possuem poucas opções para venda e com a paralisação dos abates em Juína a situação se agravou ainda mais. “Hoje a melhor opção é Tangará da Serra e com isso o preço caiu bastante. A arroba do boi aqui já está R$ 121, R$ 4 a menos do que estavam pagando no começo dessa crise”.
CARNE FRACA - A Polícia Federal desencadeou uma operação, denominada Carne Fraca, no dia 17 de março em consequência de investigações sobre fraudes cometidas por frigoríficos e agentes públicos de fiscalização. As suspeitas sobre o sistema de fiscalização e inspeção federal atingiram o mercado internacional da carne e alguns consumidores como China, União Europeia e Hong Kong, suspenderam a compra de mercadoria do Brasil. Em nenhum momento, unidades ou fiscais de Mato Grosso foram citados na operação.
Com o trabalho de esclarecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a intensificação da fiscalização e interdição de plantas sob suspeita de problemas sanitários, o país recuperou alguns mercados rapidamente e o impacto na balança comercial foi reduzido consideravelmente.
Segundo o Ministério da Agricultura, Jamaica, Israel, Egito, Coreia do Sul, Jordânia, Kwait, Hong Kong, Austrália e Paraguai reabriram o mercado. Outros 32 países mantêm suspensões parciais ou aumentaram a inspeção dos produtos brasileiros. Nesse grupo aparecem China, Argentina, Estados Unidos e Emirados Árabes.
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