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Domingo - 28 de Maio de 2017 às 10:49
Por: Vinicius Mendes/Mídia News

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Alair Ribeiro/MidiaNews
O médico Lawrence de Oliveira, psiquiatra especialista no tratamento de obesos
O médico Lawrence de Oliveira, psiquiatra especialista no tratamento de obesos

“Eu costumava tomar dois litros de refrigerante sozinho, em uma hora. Comia dois lanches daqueles grandes, porque quando estava triste, eu comia, quando estava feliz, também comia. Era assim que eu lidava com minhas emoções”.

Esta era a realidade do jovem Matheus Oliveira, de 20 anos, antes de realizar uma cirurgia para redução de peso.

Segundo ele, sempre foi gordinho. Seu caso é genético, seu pai e sua avó também vivem em sobrepeso, mas apenas na adolescência Matheus chegou à obesidade.

“Quando eu cheguei aos 15 anos, comecei a engordar muito. Foi na época que comecei a namorar, fiquei mais relaxado. Cheguei a pesar 172 kg”, afirmou.

Obesidade pode ter origem genética, mas na maioria das vezes são por fatores associados à transtornos de humor

Ele tentou o processo para fazer a cirurgia por três vezes, por pedido da família, mas sempre desistia por medo do procedimento.

Matheus disse que não se incomodava em ser gordo, apenas quando viu a situação de sua saúde é que decidiu enfrentar o medo da cirurgia e passar pelo procedimento.

“Fui no médico, estava com 18 anos, e vi que estava com pré pressão alta e meu coração estava 9 mm maior que o normal. Eu já tinha apneia do sono e também sentia muita dor nas costas. Aí, por causa disso decidi enfrentar meu medo e operar”, disse o jovem.

Hoje, quase dois anos depois da cirurgia, ele já perdeu 72 kg.

“Fiquei muito feliz, porque o sonho da minha vida sempre foi ser uma pessoa saudável. Quando vi que comecei a perder muito peso, depois da cirurgia, fiquei muito animado”, contou Matheus.

As cirurgias para redução de peso podem salvar a vida de um obeso, mas, muitas vezes, o problema vai além do excesso de peso.

De acordo com Lawrence de Oliveira, psiquiatra especializado em acompanhar casos de pessoas obesas, a maior causa que leva alguém a chegar a obesidade são os transtornos de humor.

“Obesidade pode ter origem genética, mas na maioria das vezes são por fatores associados à ansiedade, depressão, outros transtornos de humor ou até mesmo um transtorno alimentar compulsivo”.

De acordo com ele, uma pessoa é classificada como obesa quando seu índice de massa corporal (IMC) está acima de 40.

Ele também disse que essa situação é um fenômeno que pode acontecer em qualquer meio social.

“É um fenômeno global, a obesidade, tanto infantil, quanto em um adulto ou adolescente, não tem classe social, não tem perfil”, disse.

Lawrence explicou que os transtornos alimentares aparecem quando a pessoa quer aliviar uma dor emocional.

“Muitas pessoas que sofrem com ansiedade, lidam com isso comendo, para aliviar a dor, como um mecanismo de defesa. A depressão também, o sujeito dentro de si não enxerga uma saída e um dos caminhos para aliviar o sofrimento é a comida”, explicou.

Os problemas psicológicos podem levar, segundo ele, a outros tipos de problema de peso.

“Existe o caso, por exemplo, da vigorexia, quando a pessoa tem uma visão deformada do seu corpo, se vê mais gorda do que realmente está. E esta busca por perda de peso pode levar a pessoa a desenvolver bulimia ou anorexia”, disse.

Na maioria dos casos, segundo o psiquiatra, quando um paciente busca uma cirurgia para perder peso é porque já tentou outros métodos. Foi o caso de Matheus.

“Já tomei herbalife, já tomei todo tipo de remédio que o nutricionista passava, já fiz dieta, só que o problema é o seguinte: imagina você fazer um regime de um mês para daqui um mês você ir lá e comer que nem um louco em uma semana”, disse o jovem.

Quando não consegue emagrecer a pessoa normalmente recorre à cirurgia, segundo o médico.

Lawrence relatou que os profissionais que acompanham uma pessoa que pretende fazer a cirurgia, primeiro devem identificar a causa que levou à obesidade, e também os possíveis riscos que a pessoa corre no procedimento.

“Primeiramente, a gente analisa os motivos para pessoa querer fazer a cirurgia, saber a origem, os motivos da obesidade e depois vemos se há doenças como hipertensão, diabetes, quadros ortopédicos, cardiológica, pulmonar. Tem que analisar os beneficios e malefícios, até que ponto o paciente vai aguentar a cirurgia”, explicou.

Segundo ele, o paciente é acompanhado por uma equipe multidisciplinar.

“O paciente tem que passar pela avaliação clínica, com pneumologista, endocrinologista, cardiologista, psiquiatra e avaliação psicológica. Ele deve ser acompanhado antes, durante e depois da cirurgia”, afirmou.

As cirurgias

Quatro tipos de cirurgia são realizadas em Cuiabá, segundo Lawrence de Oliveira.

Existe a técnica do sleeve, onde realiza-se um grampeamento do estômago que determina a formação de um tubo.

Existe a técnica do bypass, onde se diminui para 10% a capacidade do estômago.

A técnica do anel gástrico consiste na colocação de um anel inflável de silicone (ajustável) em torno da porção superior do estômago, de modo a criar uma pequena bolsa gástrica, onde vai ocorrer a sensação de saciedade.

E também a técnica do balão intragástrico, que consiste na colocação de um balão de silicone no estômago por endoscopia que preenche aproximadamente 50% da cavidade gátrica.

matheus antes depois

Matheus de Oliveira, de 20 anos, chegou a pesar 172 kg antes de fazer a cirurgia de estômago

Matheus de Oliveira passou pela bypass. Ele também teve que ser acompanhado por uma equipe de profissionais antes de realizar o procedimento cirúrgico.

“Eu fiz, por exemplo, 20 sessões de psicólogo, para ele me explicar que não vou poder mais comer, como vai ser o pós-cirúrgico. Você tem que pegar vários laudos para operar”, disse.

Após a realização da cirurgia, o médico explicou que é muito importante o paciente continuar a ser acompanhado.

“O obeso, dentro de um sofrimento, come para aliviar a dor, e a partir daí é importante que o paciente que fez a cirurgia ter ciência de que é um processo contínuo e que ele deve seguir acompanhamento”, afirmou.

Em alguns casos, o paciente sofre de abstinência ou até mesmo substitui a compulsão pela comida por uma de outro tipo.

“Às vezes, o paciente que tem uma compulsividade por alimento faz a cirurgia, e tem um mecanismo inconsciente onde a compulsividade migra para outra coisa. Então pacientes que criam uma tendência ao alcoolismo, drogas, ao sexo, é um paciente que a gente tem que seguir passo a passo. Existem casos, inclusive, de suicídio, quando a pessoa entra em abstinência de alimentação e não sabe lidar”, contou.

“A obesidade é uma doença, que tem fatores anteriores a ela. A primeira coisa que se deve fazer é procurar ter uma alimentação saudável. É importante também lembrar que atividade física faz bem para todo mundo”, disse.

Ele recomendou que quem sofre de algum transtorno de humor ou alimentar procure o auxílio médico.

“É importante saber a hora de buscar o profissional, para cuidar dos transtornos. Procurar se aceitar dentro do seu contexto, da sua vida, e entender que não é porque uma pessoa tem sobrepeso que ela não consegue ser feliz, não consegue ser saudável, é só seguir as recomendações médicas”, completou.





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