Apesar de ter registrado uma leve retomada no 2º trimestre deste ano em relação aos três primeiros meses de 2012, a economia brasileira voltou a decepcionar e encerrou o 1º semestre com crescimento de apenas 0,6%, em grande parte por causa do mau desempenho da indústria.
De abril a junho, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou alta de 0,4% sobre o trimestre imediatamente anterior e de 0,5% na comparação anual.
O resultado não surpreendeu analistas, que esperavam uma alta entre 0,3% e 0,5% no segundo trimestre, acima da verificada de janeiro a março, quando o PIB subiu 0,1% na mesma base de comparação, segundo a última revisão do IBGE.
Mais uma vez, a indústria, especialmente a de transformação (responsável por transformar a matéria-prima em bens de consumo ou em itens usados por outras indústrias), foi o principal fator de desaceleração da economia brasileira. No 2º trimestre, o setor recuou 2,5% em relação aos três primeiros meses deste ano.
Na mesma base de comparação, a agropecuária subiu 4,9%. Já os serviços não demonstraram o mesmo vigor que no 1º trimestre e cresceram 0,7% de abril a junho.
Por outro lado, o impacto das medidas de desoneração fiscal - como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros determinada em maio, por exemplo - não foi integralmente sentido no resultado do 2º trimestre, especialmente pela ótica da produção, disseram especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
Previsão
Com o resultado, o governo aposta suas fichas no segundo semestre de 2012, quando espera uma retomada da economia, sobretudo da atividade industrial, como reflexo dos descontos anunciados até agora e que tiveram suas vigências recentemente prorrogadas.
O ciclo de redução da taxa básica de juros, a Selic, que ma última quarta-feira caiu 0,5 ponto percentual, para 7,5% ao ano, também deverá ajudar na recuperação econômica.
No entanto, apesar de os estímulos fiscal e monetário, dificilmente a economia brasileira crescerá em torno de 3%, como prevê oficialmente o governo, estimam os analistas.
Para eles, o PIB deste ano, já apelidado de "PIBinho" por muitos, não ultrapassará 2%.
A BBC Brasil ouviu especialistas para selecionar o que deu errado na economia brasileira durante o primeiro semestre deste ano. Veja abaixo:
1) Agravamento da crise
Como todos os outros países do mundo, a economia brasileira também sentiu os efeitos do agravamento da crise internacional, que vem criando um cenário de incertezas nos mercados globais.
"Na Europa, cresceu o risco de um eventual calote da Grécia, que pode abandonar a zona do euro; os Estados Unidos, por sua vez, ainda têm dificuldade de retomar sua economia e, por fim, a China está vendendo menos, frente a uma menor demanda internacional", afirmou à BBC Brasil Samy Dana, professor de economia da FGV-SP.
"Tudo isso impactou a economia brasileira, porque afeta não só as nossas exportações, como a captação de recursos e a confiança do empresário, que tende a postergar decisões de investimento."
No primeiro semestre deste ano, as exportações brasileiras subiram somente 1,7% em comparação ao mesmo período de 2011.
Já a economia da China, o principal parceiro comercial do Brasil, cresceu 7,6% no 2º trimestre deste ano na comparação com igual período de 2011, o pior desempenho desde o auge da crise financeira.
2) Saturação das medidas de estímulo ao consumo
Ainda que o consumo das famílias tenha proporcionado novo alento à economia, compensando em grande parte as perdas na indústria, as medidas de estímulo fiscal do governo já não são surtem o mesmo efeito de 2008, quando foram a principal "arma" anticrise do governo anterior, e já começam a dar sinais de esgotamento.
Segundo um levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), 59,8% das famílias brasileiras já admitem estar endividadas, o maior patamar deste ano e a terceira alta consecutiva.
"Apesar da queda dos juros, os bancos estão cada vez mais temerosos de emprestar. A inadimplência cresceu e as classes C e D já começam a sentir no bolso o peso das dívidas", disse à BBC Brasil Ângela de Souza Menezes, professora de Finanças do Insper.
"Além disso, o governo errou ao eleger setores que seriam beneficiados por tais vantagens, como o automotivo. O mais correto seria pensar em formas de solucionar a alta carga tributária, por exemplo, muito mais importante nesse momento", acrescentou.
3) Custo Brasil
Em meio à crise internacional e à redução dos juros, o conjunto de entraves aos negócios, o chamado "Custo Brasil", acabou ganhando maior visibilidade, impactando de forma mais acentuada o crescimento da economia brasileira.
Isso porque, com uma infraestrutura precária, salários em alta e uma baixa produtividade, além de um sistema tributário complexo, os produtos brasileiros perdem competitividade tanto no mercado doméstico - perante os importados - quanto no exterior.
"Apesar da recente valorização do dólar frente ao real, o que, em tese, ajudaria a indústria nacional, o setor não reagiu. O custo unitário do trabalhador brasileiro está em alta enquanto sua produtividade cai, encarecendo o produto final", explicou Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria.
Segundo um estudo conduzido pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), foram coincidemente os trabalhadores da indústria os que obtiveram o maior aumento de salário de todos as negociações salariais analisadas no primeiro semestre deste ano, muito por causa do déficit de mão de obra especializada.
O índice de reajustes com ganho real (acima da inflação) alcançou 98% das categorias.
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