Um dia após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduzir de 8% para 7,5% ao ano a taxa básica de juros da economia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta quinta-feira (30) que o spread [diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos e o valor cobrado de seus clientes] praticados pelos bancos não está no “patamar adequado”.
“A queda da Selic já está num patamar mais adequado para estimular a produção”, afirmou o ministro. “Porém, ainda não estamos com uma taxa de juros adequada praticada pelos bancos de modo que possa estimular o consumo e o investimento”, disse Mantega.
O ministro discursou durante o 39º Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Planalto.
“Embora já tenhamos dado os primeiros passos, infelizmente ainda não chegamos no patamar adequado”, afirmou.
“A má notícia é que ainda estamos entre os maiores spreads do mundo”, disse o ministro. Ele ponderou, contudo, que “a boa notícia é que nós temos lastro para gastar, ou seja, podemos reduzir esse spread causando novos efeitos positivos na economia brasileira”.
O ministro afirmou que “os países avançados continuam empurrando com a barriga seus problemas e, portanto, o cenário externo continuará ruim e não por pouco tempo”. Mantega disse, porém, que “apesar de tudo, o Brasil é um dos países menos afetados pela crise internacional" por depender menos dos mercados externos.
PIB
“A economia brasileira começa a se aquecer numa aceleração gradual da economia, que pode ser vista pelo crescimento do PIB semestral”, afirmou.
Mantega lembrou que o crescimento do PIB no primeiro trimestre foi de apenas 0,2%, mas disse que as projeções de mercado apontam avanço de 0,5% no segundo trimestre e de 1,0% a 1,1% no terceiro semestre.
“Chegaremos ao final do ano com crescimento anualizado em torno de 4%. Esse desempenho se deve a uma série de medidas estruturais e conjunturais que temos tomado”, disse o ministro.
Na sequência, o ministro da Fazenda passou a enumerar estas medidas estruturais e conjunturais e seus respectivas resultados.
Segundo ele, a queda da taxa de juros “para este patamar quase civilizado” vai estimular o mercado de capitais. “Em vez de fazer aplicação em titulo do Tesouro vão para o mercado de dívida privada. Este mercado ficou atrofiado ao longo de todos estes anos.”
Câmbio
Mantega repetiu que o Brasil sofria a concorrência desleal de outros países, seja no mercado interno, seja no externo, por causa do câmbio. Por isso, o governo precisou adotar a atual política cambial.
“O câmbio estava valorizado e passamos a aplicar uma política de desvalorização, de modo a torna-lo mais competitivo. (...) Isso tem aumentado muito a competitividade das empresas brasileiras em relação ao nossos concorrentes”, disse.
Segundo ele, muitas vezes o produto importado custava 30% menos “não por produtividade, não por competência, simplesmente por uma questão cambial”.
Dívida pública
O ministro da Fazenda reforçou que o país conta com uma política fiscal sólida e que, num momento em que muitos países estão aumentando suas dívidas, o Brasil vem conseguindo diminuir o montante da dívida pública.
“Enquanto os outros países pioram, em 2012 nosso déficit nominal deve ficar em torno de 1,6%”, falou.
Desonerações
Durante seu discurso, Mantega citou as desonerações do governo. “Este ano, deveremos perfazer um total de mais de R$ 40 bilhões em desonerações, com redução de tributos em vários segmentos.”
Ele lembrou que o governo eliminou a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), deixando de cobrar R$ 8,8 bilhões. “Impedimos que a gasolina subisse de preço e prejudicasse toda a economia.”
Na véspera, o governo anunciou a prorrogação da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para vários setores, entre eles a linha branca e os automóveis. O benefício começaria a vencer na próxima sexta (31).
“Mantivemos as reduções de IPI que vinham sendo praticadas. São medidas de mais curto prazo, mas que têm dado excelente resultado na economia brasileira, basta ver o desempenho da indústria automobilística.”
Ele reforçou que, ao fazer essas reduções, o governo entra em acordo com os setores beneficiados para que não haja demissões de trabalhadores e para que haja redução dos preços. “Portanto, são beneficiados os trabalhador e o consumidor e ajuda a inflação a se manter em um patamar mais baixo.”
Comentários