PRODUÇÃO CERÂMICA
Estudo mostra qualidade da argila de Mato Grosso Com o resultado, empresários já demonstram interesse em possíveis investimentos
Mato Grosso demonstra mais uma vez sua vocação para o ‘gigantismo’, ao revelar, através de um estudo técnico, a qualidade de sua argila para a produção de cerâmica.
Com investimento de R$ 413 mil, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) através do contrato 05/2017 viabilizou um estudo de campo feito em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/MT) que resultou no ‘Projeto de Pesquisa e Caracterização de Argila para a Indústria Cerâmica da Região Centro-Sul de Mato Grosso’.
As informações foram apresentadas na última semana, na Sedec, e contou com representantes das entidades envolvidas, como os secretários adjuntos da Sedec de Indústria, Comércio, Minas e Energia e de Empreendedorismo e Investimentos, Lucas Barros e Leopoldo Mendonça, respectivamente, além do técnico do Senai, Lucas Gouveia, responsável pelo detalhamento do estudo e de membros da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) e iniciativa privada, entre outros.
Com 12 etapas ao todo, o projeto já concluiu 8 e a previsão é finalizar tudo em abril. Até o momento, as fases do projeto se dividiram em pesquisa e rastreio de informações geológicas, visita técnica nas áreas de pesquisa, designação das áreas de pesquisa, formulação das linhas de coleta, localização dos materiais extraídos, definição dos códigos específicos, envio das amostras para ensaio e realização de testes físicos e térmicos.
MT tem argila de qualidade
Dados de diversas análises laboratoriais, inclusive em nível industrial, constatou-se que a argila presente em algumas regiões como Cuiabá, Alto Araguaia, Dom Aquino e Diamantino é de boa qualidade e abundante, como explicou o técnico Lucas Gouveia. “Hoje, a nossa referência é, sem dúvida, o polo de Santa Gertrudes, no interior de São Paulo, que é considerado um dos maiores do mundo e responsável por 85% de toda a produção de revestimos cerâmicos da cidade. Entretanto, após minuciosas análises, constatou-se que a argila coletada em Diamantino (220 km ao norte de Cuiabá), possui qualidade superior a encontrada no polo paulista.
Também estimamos um volume impressionante de argila na região que daria perfeitamente para suprir a demanda de cinco ou seis indústrias gerando produto por um século”, revelou Lucas.
Ainda conforme o gestor do Senai/MT, Mato Grosso apresenta um enorme potencial a ser explorado no mercado de extração de argila para transformar em cerâmica e porcelanato, pois, possui uma matéria-prima de altíssima qualidade, já atestada e abundância de matéria-prima. O gargalo, segundo ele, está na questão de geração de energia para subsidiar o funcionamento de uma indústria do segmento que é movida a gás.
“Pensamos em diversas estratégias para levar o gás que viria da Bolívia até a região de Diamantino, por exemplo, mas, o custo fica inviável. O que estamos analisando agora é um projeto para gerar energia através de biodigestores que possam transformar insumos como o milho ou mesmo os resíduos produzidos por frigoríficos para transformar em gás e, assim, conseguir manter as indústrias em pleno funcionamento e otimizando custos”, explicou.
Uma vez que o projeto de viabilidade e qualidade está pronto, o próximo passo, segundo Gouveia é tirar do papel uma outra proposta já elaborada de uma ‘planta piloto para uso de biogás como fonte de energia renovável para uso direto em processos produtivos da indústria cerâmica (porcelanato esmaltado)’ cujo investimento está orçado em R$565 mil. “O estudo foi conduzido pelo Senai/MT e a nossa ideia é pioneira, pois, não existe ninguém no mundo fazendo esse tipo de atividade utilizando energia limpa. Se der certo, seremos os precursores de uma ideia que pode mudar o cenário mundial”, previu.
Mercado
Como resultado do projeto, alguns empresários já estão demonstrando interesse em possíveis investimentos, como citou o diretor da Fiemt, Luiz Carlos Richter.
“Empresas nacionais que já atuam no setor estiveram ‘in loco’ para verificar as condições de implantação, inclusive, gente da Itália tem nos procurado para saber mais detalhes de como poderiam instalar aqui seus negócios. O gargalo é mesmo a questão do fornecimento do gás e a questão burocrática de licenças ambientais e fundiária. Precisamos que o Governo apoie esta atividade e que somemos forças para colocar em prática o que temos na teoria e, assim, conseguirmos fomentar uma nova modalidade industrial em Mato Grosso que pode gerar centenas de empregos e levar desenvolvimento aos pequenos municípios”.
O estudo aponta que foram encontrados diversos pontos que possuem a matéria-prima que dá origem aos revestimentos cerâmicos em Mato Grosso: 23 em Diamantino, 7 em Cuiabá, 9 em Dom Aquino e 11 no Alto Araguaia.
Demanda
Segundo dados da Associação Nacional de Fabricantes de Cerâmicas para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anface) anunciados em novembro do ano passado, o Brasil é um dos principais players do mercado mundial, ocupando a segunda posição em produção e consumo de revestimento cerâmico, além de ser o sétimo na escala de exportação.
As exportações brasileiras de cerâmica chegaram a atingir 111 países, totalizando 94,3 milhões de metros quadros em 2017. Os maiores compradores são os atacados e distribuidores especializados em revestimentos e granito.
Américas do Sul, Central e do Norte, além do Caribe são os principais mercados consumidores dos produtos brasileiros.
A produção de cerâmica nacional exportada é produzida, principalmente, em Santa Catarina – região da Grande Florianópolis e Sul do Estado -, Nordeste, e o polo cerâmico de Santa Gertrudes, no estado de São Paulo, formado pelos municípios de Santa Gertrudes, Rio Claro, Cordeirópolis, Ipeúna, Iracemápolis, Limeira e Piracicaba, que abriga 85% de toda a produção paulista de revestimentos cerâmicos.
Neste sentido, Gouveia ressalta que o mercado ainda é pouco explorado no Brasil e, conta que a expectativa com a divulgação desses resultados sobre a argila mato-grossense, é atrair olhares para o Estado.
“Existe um mercado consumidor nas regiões Centro-Oeste, Norte, além de Goiás, por isso, torna-se oportuno investir no segmento aqui em Mato Grosso que poderia abastecer todo esse público, inclusive parte do Nordeste. O mais importante já temos que é o produto de excelente qualidade, com muita oferta, agora precisamos criar estratégias para fomentar a atividade, trazer os empresários, mostrar o nosso potencial talvez, até por meio de feiras de divulgação realizadas aqui e em outras capitais. O investimento para abrir uma indústria de grande porte chega na casa dos R$80 milhões”, detalhou.
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